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Aramis

Chico do Arquivo dá exemplo ao governo

A doce embriaguez do sucesso (temporário) e do poder (passageiro) faz com que muita gente dita importante esqueça as mínimas regras de educação. Desculpas esfarrapadas de estar sempre "em reunião", recusa de atender telefonemas e mesmo alegações de "falta de tempo" para ouvir sugestões são características de medíocres que, circunstancialmente, chegam a algum cargo de importância. Entretanto, há gente atenciosa e que sabe dar valor ao próximo. Seja uma pessoa humilde ou um parlamentar. Afinal, mesmo os homens públicos, eleitos pelo povo, têm muitas vezes suas boas intenções prejudicadas pela incompetência e falta de educação de eventuais ocupantes de cargos executivos. O deputado Rafael Greca de Macedo, jovem e trêfego político, mas sempre atencioso e atento, por exemplo, teve exemplo concreto de que há exceções no serviço público. Preocupado com alguns problemas no Arquivo Público do Paraná, formulou algumas questões ao seu diretor, o advogado Francisco Brito de Lacerda. Deputados peemedebistas, acostumados ainda à intolerância e a tampar o sol com a peneira - herança dos tempos negros do governo José Richa (que protegia "amigos" incompetentes e desonestos), tentaram, inclusive, bloquear a ação de Rafael, que aliás, nada tinha de crítica - apenas buscava colaborar. A lição foi dada pelo próprio Brito de Lacerda: tão logo recebeu as questões propostas por Rafael, em relação a cobrança de taxas absurdas para obtenção de cópias xerox e o excesso de burocratização daquele órgão, não só aceitou as sugestões do deputado como, com bom-humor e rapidamente, respondeu diretamente. Resultado: Greca propôs na Assembléia um voto de congratulações a Chico de Lacerda, que em sua opinião, "é melhor sozinho que a bancada toda do PMDB". xxx A resposta de Francisco Brito de Lacerda merece transcrição. E serve como exemplo a outros ocupantes de cargos públicos que devem dar atenção a críticas e sugestões - e não fugir do diálogo e do entendimento. Eis o que respondeu o bom Chico, do Arquivo Público: - "As reclamações que lhe foram feitas "por uma plêiade de pesquisadores revoltados", procedem quase que integralmente. A sistemática que o Arquivo Público vinha adotando no que concerne ao fornecimento de cópias de documentos, históricos ou não, vulnerava os princípios de economia e racionalização, obrigando os interessados a um esforço inútil e irritante que não levava a nada. A partir de 1º de junho, tudo isso acabou. Os que recorrem ao Arquivo já não precisam fazer uma viajada de ida e volta ao Banestado, que atende em horário restrito, conflitante, muitas vezes, com a hora de funcionamento das repartições. Os pesquisadores, agora, através de guia numerada de fabricação caseira, pagam em dinheiro o valor das cópias solicitadas e, de posse do que necessitam, deixam o nosso balcão sem perda de tempo, felizes, levando recibo (2ª via) do dispêndio. A féria do dia é guardada numa gaveta especial, no final de semana (sexta-feira, 16 horas), feita a conferência, o total recebido na semana dá entrada no Banestado através da famosa GR em cinco vias, que constitui receita. Tais GRs, já se vê, são usadas apenas uma vez por semana, e não cada vez que alguém viesse a precisar de cópias ou certidões, tal como vinha acontecendo. As suas observações quanto ao custo das GRs não se ajustam à verdade. Cada bloquinho de 20 jogos deve custar, hoje em dia, Cz$ 7,33. O Arquivo mantém uma gavetinha quase cheia desses blocos. Pelo fornecimento de um jogo de GR, na sistemática abolida, nada se cobrava. O prejuízo apontado (a guia de recolhimento de valor superior à receita) é irreal, portanto. Quanto à existência de uma taxa de Cz$ 2,00 por xerox fornecido, nada mais justo. A taxa em causa, bem ou mal, ajuda o erário no pagamento do aluguel das máquinas. O não pagamento das cópias, a qualquer título, criaria perigoso precedente. O uso de máquinas de xerox sem efetivo controle, teria feição de piquenique. De repente, com uma reprodutora dessas à disposição, os usuários poderiam utilizá-la até para a cópia de horóscopo, tabela de segundo turno, receitas do bolinho de polvilho da Lapa. Santa Rita dos Impossíveis seria a primeira a não permitir. Aproveito-me da ocasião para enviar-lhe forte abraço, agradecendo a colaboração." xxx Eis aí a receita da eficiência. O lapiano Chico resolveu um probleminha que chateava os pesquisadores do Arquivo, mostrou atenção à sugestão do deputado Greca de Macedo e dá um exemplo aos seus coleguinhas, menos inteligentes, da administração pública.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
20/06/1987

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