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Aramis

Chorando com Joel

Há três anos, no 2o aniversário do Teatro do Paiol, o seresteiro Sílvio Caldas ali fez uma temporada magnífica aliás, a única vez em que se apresentou em teatro em Curitiba nos últimos anos. É claro que perante uma personalidade tão fascinante como o "Caboclinho Querido", outros músicos ficam eclipsados, mas Silvio, nas três noites do show, fez questão de destacar o nome de seus acompanhantes. Um deles era um jovem executante de bandolim, Joel Nascimento (carioca da Penha, nascido a 13 de outubro de 1937, na Rua Delfim Ennes) que, finalmente, no ano passado, conseguiu fazer o seu primeiro lp-solo, suficiente para incluí-lo em nossa lista dos melhores do ano, como a revelação de solista. Revelação em termos de elepê-solo, pois na verdade, quem acompanha a MPB, há muito tempo já vinha observado o som puro, cristalino, brasileiríssimo do bandolim de Joel, irmão de outro músico de qualidade, Joyr, cuja amizade com Horondino Silva acabou acrescentando mais uma corda às do seu violão. Joel tinha 15 anos quando um dia foi à casa de Jacó (Pick Bitencourt, 1918-1969) em Jacarepaguá. Tocaram juntos uma valsa, "Santa Morena", ele no bandolim, Joel no cavaquinho. Foi o primeiro e único o encontro musical. Jacó lhe sugeriu: "Olha, eu acho que você devia tocar bandolim, porque você está tocando um cavaquinho fantasiado de bandolim". Joel seguiu o conselho e hoje ele é apontado como o novo Jacó do Bandolim. Silencioso, um pouco tímido, discreto, Joel não gosta de comparações. Mas no momento em que o choro, felizmente, tem sua vez e hora, com a fundação de clubes (e o de Londrina, como vai ?), surgimento de grupos de rapazes e moças dedicados ao gênero (Os Carioquinhas, Éramos Felizes) e discos maravilhosos - como "Chorando", de Paulinho da Viola, e o magnífico álbum "Chorada, Chorões, Chorinhos", produzido por Ricardo Cravo Albim e Mozart de Araújo, para a Companhia Internacional de Seguros, o aparecimento do lp-solo de Joel ("Chorando Pelos Dedos", Coronado/London, SC 15025, dezembro/76), é tão importante quanto o disco de Paulinho da Viola ("Chorando"), que registraremos na próxima semana. Produzindo por João Nogueira, "Chorando Pelos Dedos" é um disco marcante, que surpreendendo a própria Odeon superou todas as previsões de venda. Sambista e compositor, João Nogueira mostra sensibilidade e autor de choro, produzindo um disco de notável equilíbrio, com Joel Nascimento apresentando uma composição própria "Ecos" -, onde produz efeitos de repetição que ao ouvirmos dá-nos a impressão de um truque de gravação. No show de abertura do II Encontro de Pesquisadores da MPB (Palácio da Cultura, Rio de Janeiro, 8-11-76), o solo de Joel, com "Ecos", foi o grande momento, merecendo entusiásticas solicitações de bis. "Chorinho do Sovaco da Cobra", de Abel Ferreira - que participa da gravação, não só na clarineta, mas inclusive dizendo uma frase, é além de um novo e marcante chorinho, também uma homenagem ao bar da Penha onde, todos os domingos, pela manhã, reúnem-se os maiores chorões do Rio de Janeiro. "Evocação de Jacó", de Avena de Castro, que abre o lado B, é um choro lamento, justa homenagem a um dos maiores chorões do Brasil. "Tempo à Bessa", de João Nogueira, é mais uma demonstração do talento deste compositor (e cantor) incrível, que nos orgulhamos de admirar desde o seu surgimento na vida artística, há 6 anos passados, cantando duas faixas no lp "Quem Samba Fica", produção de Adelzon Alves ("Mulher Valente é Minha Mãe" e "Homem de um Braço Só"); de Mané do Cavaco, é "Sambista Chorão", com sua participação especial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
27
06/02/1977

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