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Aramis

Cinema

Poucos lançamentos na vasta área da Comunicação de massas são tão interessantes e oportunos quanto "Fotonovela & Indústria Cultural" de Angeluccia Bernardes Habert, incluída pela Vozes na atualíssima coleção "Vozes do Mundo Moderno", por onde já saíram três ensaios de Moacir Cirne sobre histórias-em-quadrinhos, o ensino de C. A. Miranda sobre "Cinema de Animação", o estudo de Moniz Sodré sobre "A Comunicação do Grotesco" (a mais profunda análise do fenômeno Abelardo Barbosa-Chacrinha - foto), o documentado estudo do jornalista curitibano Roberto Muggiati sobre a música pop ("Rock, o Grito e o Mito"), além de outras obras bastante curiosas. "Fotonovela e Indústria Cultural", escrito entre 1967-70 como tese de Doutoramento no Departamento de Comunicação da USP, se constitui no primeiro livro publicado no Brasil sobre foto-novela que apesar de seu íntimo parentesco com os quadrinhos - que já dispõe de alguma literatura crítica em português - continua à margem do interesse dos eruditos. Entretanto, o seu mero aspecto quantitativo (milhares de leitores assíduos na América Latina - inclusive no Brasil - e na Europa) já seria razão suficiente para incluí-la na preocupação dos intelectuais. Trata-se de um estudo detalhado da Fotonovela sob diversos aspectos: o editorial, o sociológico, o industrial, aprofundando sobretudo o seu enfoque como cultura de massa, sua linguagem e o conteúdo de suas mensagens. Há dois anos, quando o professor Francisco Araújo, primeiro (e único) professor universitário da cadeira de Introdução as Histórias-em-Quadrinhos, no Departamento de Comunicação da Universidade de Brasília, fez uma conferência em Curitiba, se referiu ao fato de que as fotonovelas estavam a espera de uma pesquisa de maior profundidade. E Angeluccia Bernardes Habert, uma baiana formada em ciências sociais, com mestrado pela USP, ex-jornalista em Salvador, com trabalhos em História de Arte Sacra, professora de História de Arte na Escola de Dança e Teatro da UFBa, atualmente estagiando no Departamento de Sociologia e Antropologia na Universidade de Waterloo, Canadá, desafiando os preconceitos de quem torcia o nariz ao saber de seu interesse acadêmico por um gênero tão vulgar da leitura de massas, acabou realizando um estudo pioneiro, do maior significado cultural-sociológico. Ela mesmo confessa na página 20 de seu livro que "não foi muito fácil obter informações sobre a fotonovela. O histórico ou condições de seu aparecimento no País não foi registrado até o momento. Por outro lado, o contato que tivemos com as pessoas ligadas à realização das revistas não nos esclareceu em nada. Além de não nos terem permitido o uso dos arquivos, os entrevistados não demonstraram interesse sistemático pelo seu trabalho". Mais adiante, diz Angeluccia: "As dificuldades com bibliografias e informações com fotonovela, somaram-se as dificuldades de encontrar as revistas. Como se trata de objeto vulgar, as bibliotecas não têm tais revistas colecionadas". Apesar de tudo, ela fez uma tese de alto nível - numa linguagem jornalística e objetiva, altamente documentada (apesar de alguns dados estatísticos estarem superados, são valiosos), que fazem deste "Fotonovela e Indústria Cultural" um dos mais úteis ensaios publicados pela Vozes - sem dúvida uma editora de seu tempo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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14/02/1974

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