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Aramis

Cinema Político

Com " os anos JK", Silvio Tendler demonstrou as imensas possibilidades de um necessário ( e fascinante ), gênero cinematográfico. Reconstituindo um passado recente - mas insuficiente conhecido do Brasil politico - tendler emocionou com a trajetória politica do presidente Juscelino Kubitscheck. Aprofundando seu trabalho em " Jango ", durante o ano de 1983, faria aquele que foi chamado de " o filme da abertura " e que após concorrer no Festival de Gramado de 1984, faria uma bela carreira nos circuitos comerciais - o que não é comum no gênero documentário, geralmente restrito a salas especiais e público especifico. POR UM CINEMA POLITICO - Nestes 20 anos de ditadura militar, com a censura cortando tantos projetos, naturalmente foram poucos os filmes que puderam levar as telas algumas reflexões piliticas. Realizado em 1965, - antes portanto do AI-5, " O Desafio " de Paulo Cesar Sarraceni, com Oduvaldo Viana Filho e Isabela, foi a primeira tentativa de refletir visualmente sobre o golpe militar de 31 de março.Com os ventos da abertura no governo Geisel - após o duro período de Médici, que provocou, inclusive, processos e prisões em cineastas que se atreveram a filmes denunciando a violência militar ( como o falecido Olney São Paulo, por seu inédito " Manhã Cinzenta " - surgiram alguns filmes na linha politica : ainda respirando o hermetismo de uma linguagem alegórica, Alberto Graça, mineiro de Montes Claros, em " Memórias do Medo" rodado em Brasilia, tentou abordar um tema bastante atual na época ( 1979 ) : a criação de novos partidos politicos. Francisco Ramalho Jr. foi mais além em "Paula, A História de Uma Subversiva", enquanto que Robero Farias,deixando a presidência de Embrafilmes em 1979, realizaria aquele que foi o grande "teste" para a dita abertura de Geisel : "Pra Frente Brasil", melhor filme do festival de Gramado, em 1982, ficou proibido por um ano e por ter sido financiado pela Embrafilmes acabou provocando a queda do diplomata Celso Amorim, que havia substituido a Farias na presidência da empresa. Inspirado num personagem real, " O Bom Burguês ", de Osvaldo Caldeira não provocou maiores polêmicas. Talvez pela sua mediocridade - apesar de um bom elenco - acabou ficando esquecido nas poucas semanas em que foi exibido nas capitais brasileiras. O mesmo Osvaldo Caldeira, com produção de Paulo Thiago - uma raposa cinematográfica que após vários frcassos como diretor ( "Guararapes", "Águia na Cabeça" etc.) sonha em ser presidente da Embrafilme - realizou "Muda Brasil", documentário sobre a campanha que levou a oposição a se unir e garantir a vitória de Tancredo Neves. Entretanto Caldeira fez um filme frio, distante, numa sucessão de imagens, e sem a menor criatividade ( a não ser numa curta seqüência em que simbolicamente utilizou um trecho de "Nosferatus" de Murnau ). O resultado é que "Muda Brasil" chegou às telas, como um filme dejavu, embora abordando fatos da maior contemporaneidade. Se Silvio Tendler reconstituiu os anos JK e "Jango", o paulista Carlos Alberto Pereira preferiu analisar o curto periodo do governo de Jânio Quadros com humor " Jânio a 24 Quadros" foi inventivo e irreverente. Aliás, nem poderia ser diferente, pelo próprio personagem que acabou. O EVANGELHO SEGUNDO TEOTÔNIO - Vitima da censura - que impediu por 9 anos que o seu premiado "Os Pais de São Saruê" fosse exibido, o paraíbano Vladimir Carvalho após ter ducomentado em " O Homem de Areia"a contravertida figura de José Américo de Almeida, acompanhou, entre 1983 / 84, o senador Teotônio Vilela em sua pregação nacionalista. E de muitas horas de material filmado,realizou o emocionante " O Evangelho Segundo Teotônio ", longa-metragem que representou o Brasil na I Mostra do Cinema Latino-Americano, paralelamente ao Festival de Gramado. Passagens da vida de Teotônio Vilela, a partir de sua infância como menino de engenho, em alagoas, sua vivência de boiadeiro nos setões nordestino, sua experiência na UDN e, em 1964 apoiando o golpe militar, até o senador que, se desiludindo com o governo em 1979 e se tornaria o Menestrel das Alagoas, da liberdade, conforme o canto de Fernando Brandt e Milton Nascimento. Recebido com algums restrições pela crítica e, infelismente, sem ter alcançado o público que se esperava "O Evangelho Segundo Teotônio", é entretanto, um belo filme sobre uma das maiores personalidades politicas de nossos dias. Emocionante e sincero, registrando, inclusive, os últimos dias de Teotônio e o seu sepultamento, o filme de Vladimir merece ser visto ( sua estréia acontecerá dentro de algumas semanas no cine Ritz ). DOCUMENTÁRIOS PROIBIDOS - De "Frei Tito", que a atriz Marlene França rodou há mais de 4 anos e que só agora está sendo exibido ( concorreu no festival de Gramado, obtendo uma menção especial do júri por sua "integridade" ) ao ainda inédito "Em Nome da Segurança Nacional ", de Renato Tapajós - que apesar de toda abertura teve sua exibição interditada na última jornada de curta-metragens, na Bahia - há muitos curtas ( e médias ) metragens que se voltaram a temas politicos nestes últimos anos.A maioria permanece inédita,não apenas pela proibição oficial - existente até há pouco - mas pelo verdadeiro bloqueio que impede os curtas ( e especialmente média ) metragens chegarem aos circuitos normais de exibição. CABRA MARCADO PARA MORRER - Coroando todo um ciclo e cinema politico, "Cabra Marcado para Morrer ", de Eduardo Coutinho - em cartaz no Cine Groff, após ter inaugurado o Cine Ritz - cumpre agora uma carreira internacional : está sendo exibido em um circuito de universidades americanas e em maio participa de um festival de filmes de temas rurais em salzo Maggiore, na Itália. O grande premiado no FestRio, em novembro último, - e recebendo depois também premiações nos festivais de Cuba e Berlim - este filme que levou 20 anos para ser concluido - é emoção em todas suas sequências, resgatando uma fase das lutas sociais no Brasil - as Ligas Camponesas na Paraiba, e enfoca a temática a partir do assassinato do lavrador João Pedro Teixeira, presidente da Liga Camponesa de Sapé, a 2 de abril de 1962, quando voltava para sua casa, trazendo livros aos filhos. Através dos depoimentos de dona Elisabete, a viúva do lider camponês - e que assumiu a sua luta - Coutinho realizou uma obra que ultrapassa ao cinema e se insere na própria sociologia, responsável inclusive pelo reencontro dos filhos que, após o golpe militar de 1964, haviam se dispersado por vários Estados.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Cinema
14/04/1985
Amigos, gostaria de fazer contato com alguem que tenha, e que possa disponibilizar uma cópia do filme "Cabra Marcada para Morrer", do cineasta Eduardo Coutinho. Estamos preparando um evento para lembrar as Lutas Camponesas na Paraíba, pela ocasião da data de nascimento do lider campones João Pedro Teixeira, no dia 04 de março, no Memorial João Pedro Teixeira, localidade Barra de Antas, municipio de Sapé, na Paraíba. Todo contato poderá ser feito diretamente com Nilson Sótero, Diretor de Cultura de Sapé. 83-8869-4358/9111-3227, nilsonsotero@hotmail.com, nilsonsotero2@hotmail.com, nilsonsotero@gmail.com, comunicacaocenated@gmail.com skype: nilson.sotero Ajude-nos a preservar a memoria do povo brasileiro. Obrigado.

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