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Aramis

Cinemas esvaziados apesar de alguns bons lançamentos

A situação é mais grave do que pode parecer: salas esvaziadas, sessões canceladas, poucas perspectivas de reação por parte do público. O ingresso já beirando os Cz$ 600,00 (preço da entrada do Cine Condor, a partir de ontem), o espectador em fuga, cada vez mais seleivo em sua programação. Além do custo do ingresso, a falta de motivação promocional da maioria dos programas - mesmo de filmes importantes - e o comodismo da televisão e do vídeo (cada vez maior o número de locadoras, explorando o mercado) contribuem para que dificilmente um filme resista mais do que uma semana em cartaz. "Rebelião em Milagro", de Robert Redford, com a hoje internacional Sonia Braga, apesar de toda promoção prévia - mas aqui lançada, há 3 semanas, obscuramente, foi visto por pouco mais de 300 espectadores no Lido I. "Busca Frenética", de Polanski, com uma ótima campanha promocional da Warner, não emplacou ainda 10 mil espectadores em duas semanas no Astor - que tem a média de 6 mil espectadores/semana. Só para não perder totalmente o embalo, Aleixo Zonari concordou em que este ótimo Thriller, com Harrison Ford e Emmanuelle Seigner, ficasse mais uma semana. "Com exceção de "Rambo" e "Poltergeist III" (agora no Lido II), nas últimas semanas não tivemos nenhum sucesso de bilheteria", diz o atencioso Leonardo, gerente local da Warner/Columbia, esperançoso de que "Inferno Vermelho", na linha da violência e ação (estréia quinta-feira próxima, no Cine São João) melhore as bilheterias. Outra esperança é "Quero Ser Grande" (Big), de Penny Marshall, comédia jovem, para o público adolescente, com Tom Hanks, Elisabeth Perkins e Robert Loggia, que nos Estados Unidos está entre as boas bilheterias - o que animou a Columbia a investir maciçamente em sua promoção (em exibição no Plaza), com a esperança de que permaneça ao menos duas semanas em cartaz. "Abaixo de Zero" (Less than Zero), um filme sobre drogas entre os ricos moradores de Beverly Hills, com incrementada trilha sonora (lançada pela CBS), foi um fracasso de público na semana passada. As opções - após desperdiçar promocionalmente o excelente "A Conferência de Wansee", um documentodrama alemão, seríssimo - e que poderia permanecer duas a três semanas em cartaz, se fosse feito um trabalho dirigido junto a comunidade israelita, o Cine Groff apresenta a partir de hoje alguns dos filmes premiados na XVII Jornada de Cinema da Bahia - o que justifica comentário a parte devido sua importância. Entre as Estréias, temos além de "Quero Ser Grande", dois filmes de terror: o ingênuo "Meu Doce Vampiro" (I Was a Teenage Vampire), no qual o estreante Jimmy Huston trata, numa linguagem descontraída, um dos temas de terror mais explorados no cinema - o vampirismo - com um elenco de jovens - Robert Sean Leonard, Cheryl Pollack, Fannie Flag, e, como uma bela e sensual vampira, Cecilia Peck - filha de Gregory Peck, ator hoje aposentado. No elenco também dois veteranos - Rene Auberjonois e David Warner, ator inglês, visto recentemente no excelente (mas que poucos assistiram) "A Companhia dos Lobos". "I Was a Teenage Vampire/Meu Doce Vampiro" está em exibição no Bristol - casa que conseguiu, afinal, um resultado positivo com "A Menina do Lado": com renda razoável, o filme de Alberto Salvá ali permaneceu duas semanas em exibição. Também em ritmo de comédia - mas com um tema sério e atual (a corrida nuclear, espionagem internacional, riscos de uma guerra total), "Apocalipse Já/Deu a Louca no Poder", de Tom Bussmann, que a exemplo de Adram Lynne ("Flashdance", "Atração Fatal"), vem do cinema publicitário, na Inglaterra. Formado pela Universidade de Cambridge, passou do teatro estudantil para o mundo da publicidade e, desde 1961 vinha trabalhando para a McCann Erickson, já tendo feito mais de dois mil comerciais para a televisão e cinema - o que equivaleria a 15 horas de projeção. Raramente os diretores de filmes publicitários acertam no longa-metragem, mas ao menos realizam obras bem acabadas e sofisticadas. "Whoops Apocalipse" tem nomes desconhecidos no elenco (Loretta Swit, Peter Cook e Michael Richardson), exceto o veterano Herbert Lom. Outra estréia - esta de terror explicíto, sem maior interesse, é "Demons, Filho das Trevas", produção italiana, direção de Lamberto Bava (São João). No Condor, em substituição a "Poltergeist III", entrou em exibição um Thriller policial - "A Farsa" (Masquerade), recebido com restrições pela crítica, apesar da trama bem urdida e ambientes sofisticados. Bem mais interessante é a estréia prevista para amanhã do Lido I: "Mais Forte que o Ódio" (The Presidio) de Peter Haysm ("2010", "Capricórnio Um", "Outland"), que Sean Connery fez no ano passado, após ter sido premiado com o Oscar de melhor coadjuvante por "Os Intocáveis". Policial com toques de drama familiar - traz os jovens Mark Harmon (vindo da televisão) e Meg Ryan ("Top Gun"), mais o veterano Jack Warden. Na trilha sonora algumas belas canções ("Moon River", "That Old Black Magic"). Ainda hoje, no Lido I, em exibição "Metido em Encrencas", de Mike Nichols - segunda parte de trilogia autobiográfica do dramaturgo Neil Simon. Outro bom filme, mal lançado pela UIP em Curitiba - e que passou despercebido. "Setembro", o belíssimo filme de Woody Allen, continua em exibição no Luz e no Itália permanece "Feliz Ano Velho", de Roberto Gervitz. Dois dos melhores filmes do ano. Nas sessões extras, amanhã à meia-noite e domingo, 10h30. No Groff, "Crônica do Amor Louco", de Marco Bellochio, com Ben Gazzara. Para as crianças domingo pela manhã, "Os Heróis Trapalhões" (Luz) e "Tarzan e o Terror do Deserto" (Morgenau).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
30/09/1988

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