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Coelho, 20 anos da melhor programação

No espaçoso escritório que se espalha em várias salas do 13º andar do edifício Arthur Hauer, na Praça Osório, posters de muito bom gosto recobrem as paredes - intercaladas de fotos ampliadas e mesmo reproduções de alguns de quase 400 projetos desenvolvidos em 20 anos de trabalho. Na sala do comandante-em-chefe, a reprodução de uma página de O Estado do Paraná, com a homenagem que aqui prestamos quando da morte de Maysa. Ao lado, numa gaiola dourada, um canário extremamente afinado e que por isto mereceu o nome de Chico Buarque. Um compacto aparelho de som possibilita que, sempre que é possível, o trabalho possa ser feito ao som da melhor música. Na selecionada discoteca de trabalho, especialmente clássicos da Bossa Nova. Este é o mundo de manoel Coelho, 48 anos a serem completados no dia 23 de dezembro, arquiteto, professor designer em duas décadas, uma consolidação profissional que poucos conseguiram e que tem um exemplo na mostra de seus trabalhos de um dos pioneiros do desenho industrial no Paraná (inauguração amanhã, 20 horas, no Palacete Leão Jr., Avenida João Gualberto, 570, sede da IBM Brasil). xxx Dentro da programação do 5º Encontro Nacional de Desenhistas Industriais, uma retrospectiva do escritório Manoel Coelho não poderia deixar de ser um grande evento paralelo - pois de suas pranchetas nasceram projetos que hoje identificam não só Curitiba, mas também dezenas de instituições, empresas e mesmo cidades brasileiras, em diferentes propostas de comunicação. Em Criciúma, Foz do Iguaçu, Goiânia, Urussanga e, especialmente, Curitiba, a nomenclatura viária, sinalização urbana e mesmo mobiliário urbano levaram a griffe de Manoel Coelho que, em seu escritório, foi um dos responsáveis pela criação da identificação visual da nova Curitiba a partir da primeira administração de Jaime Lerner. Seus trabalhos, extrapolando empresas privadas, inclusive também órgãos como o prédio da Receita Federal de Curitiba, o edifício-sede do Ministério do Interior em Brasília, além de ter criado posters e mesmo material especial para vários eventos do maior significado, como encontros e cursos de arquitetura. No equilíbro entre o trabalho de arquiteto - cuja retrospectiva está sendo montada para o final do ano - com o de desenhista industrial, Coelho conseguiu sempre a harmonia pefeita, um complemento dos trabalhos, mas sem a interferência ou a concorrência às duas específicas funções. O que lhe trouxe um conceito profissional dos mais levados, fazendo-o um dos especialistas permanentemente procurados para desenvolver projetos. Catarinense de Florianópolis, Manoel Coelho - a exemplo do outro barriga-verde, o hoje internacional joinvillense Juarez Machado - chegou a Curitiba no início dos anos 60. Os sonhos e a juventude, com o propósito de estudar engenharia civil, mais pelo desejo do pai do que uma vocação própria. Um vestibular em que foi reprovado valeu: para não ficar "sem ter as vantagens de ser estudante, como a carteirinha que dava desconto no cinema e poder comer no restaurante da UPE", o levou a fazer a opção do curso de belas artes, no qual acabaria ficando por dois anos. Neste período, era criado o curso de arquitetura da Universidade Federal e não teve dúvida: foi um dos primeiros classificados na turma pioneira de 30 alunos que, em 1967, receberia o seu diploma. Nesta época, Curitiba já o havia conquistado e aqui ficou. Em 20 anos - a caminho dos 21 - se firmou profissionalmente, mais tarde entrou na Escola como professor de Planejamento Arquitetônico e hoje chefia o Departamento. Casado, com uma pontagrossense, Denise - ceramista iluminada, três filhos - Luciano, 17; pedro Paulo, 15; e André, 8 - teve a alegria de, neste ano, ver o seu filho entrando na Universidade. Curso? Arquitertura, naturalmente. xxx Se não fosse arquiteto, Coelho gostaria de ter sido músico e compositor. - "Da Bossa Nova, é claro!", diz; lembrando outra efeméride - os 30 anos da gravação de "Canção do Amor Demais" e a deflagração do movimento que renovou a música brasileira. Uma boa companhia, sem dúvida: Antonio Carlos Jobim, Chico Buarque,Carlos Lyra, entre outros, estiveram também na bica de fazer arquitetura - e alguns arquitetos chegaram a fazer música - como Luvercy Foirini (parceiro de Oscar Castro Neves em "Onde Está Você", o clássico que Alaíde Costa imortalizou). A música ficou para Manoel Coelho como a segunda opção - e sem nem ao violão, intimamente, ele se atreve a dedilhar as canções que marcaram seus anos dourados, em compensação foi ao som do "Barquinho" navegando, para sempre, por Maysa, dos teclados de Luiz Eça e das primeiras parcerias de Tom e Vinícius que, ainda estudante, começava a delinear nos brancos espaços a sua arte -também de formas e beleza. Com a sensibilidade das grandes pessoas, Manoel Coelho fez o designer (e a arquitetura) ganhar o seu virtuosismo e espalhar-se, tais como canções, na democrática reprodução - em sinais, placas, marcas e símbolos. Atreveria mesmo a dizer que sua exposição, longe do tecnicismo e da frieza que amortece tantos trabalhos, tem o encanto e a suavidade dos mais inspirados momentos das canções de Jobim. LEGENDA FOTO 1 - "Chico Buarque": o canto do escritório. LEGENDA FOTO 2 - Coelho: as formas com o tom bossanovista.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/08/1988

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