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Aramis

Colegas esqueceram a homenagem para Kraide

Pelo menos durante uma década, Antônio Carlos Kraide (Piracicaba, 1-06-1945-Curitiba, 19-01-1983) viveu em nossa cidade. Aqui fez e viveu teatro - de seus tempos de aluno do curso de Arte Dramática da Fundação Teatro Guaíra até o mais criativo (e promissor) diretor revelado nos anos 70, com uma carreira brilhante e que uma morte brutal - um assassinato até hoje nunca esclarecido devidamente - veio interromper há três anos. Bom amigo, competente, leal, sempre pronto a ajudar a todos, Kraide abriu em seus espetáculos oportunidade para dezenas de jovens atores e atrizes, alguns dos quais como Ariel Coelho hoje no Rio de Janeiro, atuando bastante em teatro e televisão (dentro de algumas semanas poderá ser visto em "Luar Sobre Parador", de Paul Mazursky, segunda produção americana em que atua), deslancharam nacionalmente. Portanto, seria de se esperar que uma bonita homenagem para preservar sua memória merecesse, no mínimo, a presença de alguns dos amigos e colegas. Infelizmente, Kraide parece ter sido, precocemente, esquecido. xxx Quinta-feira,15, na inauguração do auditório do Centro Cultural do Portão ao qual foi dado o seu nome, apenas uma (isto mesmo, uma) pessoa da classe teatral estava presente: Armando Maranhão, 61 anos, fundador (há 40 anos) do Teatro do Estudante do Paraná, ator, diretor, pesquisador e professor do curso de teatro do Guaíra desde sua criação. Sem nunca ter integrado os grupos de Kraide - ou trabalhado em suas montagens - Maranhão foi o único da nossa chamada classe artística a atender ao convite que, cuidadosamente, a jornalista Dinah Pinheiro Ribas, assessora de comunicação da Fundação Cultural, fez a mais de 100 pessoas - entre atores, atrizes, diretores, produtores, técnicos, empresários etc., além do próprio Sindicato dos Profissionais em Espetáculos no Paraná, para comparecer à entrega de mais um espaço cultural da cidade - e ao qual se deu, merecidamente, o nome de Auditório Antônio Carlos Kraide. xxx Desculpas (esfarrapadas), por certo, não faltarão. Dezembro "é um mês de muitos compromissos", "não houve tempo", "não foi possível" devido "a outros compromissos" etc. para justificar uma ausência tão grande. Kraide foi, em sua vida trepidante, uma pessoa generosa e competente, que desde o primeiro espetáculo que dirigiu - uma adaptação de "O Beijo no Asfalto", de Nelson Rodrigues, sempre procurou colocar sua marca em todas as encenações: no musical "A Bênção, Vinícius" - uma das primeiras homenagens feitas a Vinícius de Moraes há quase 20 anos; no simbolismo de "A Dama de Copas e O Rei de Cubas" (que teve uma remontagem, coordenada por Marcelo Marchioro, no ano passado), no político "Ponto de Partida, de Gianfrancesco Guarnieri, em várias montagens infantis - "O Cavalhinho Azul" ou "Locomoc e Milipili", que fez em colaboração com o Teatro Grip, de Berlim - numa produção das mais bem sucedidas. Sua criatividade sempre renovadora explodiu em "Urubu-Rei", de Manoel Carlos Karam - em política encenação no Teatro do Paiol; em "O Arquiteto e o Imperador da Síria" e, especialmente na versão pop de "Drácula", do texto de Eddy Antônio Franciosi e, por último, em "Rock Horror Show", no qual a felliniana Olivia Wischral (falecida há um ano) tinha uma participação notável. Apenas algumas lembranças, sem pesquisas maiores (o que desculpa eventuais enganos) mas suficientes para mostrar a trajetória de Kraide nos palcos - numa carreira que, mesmo curta foi marcante. Sua morte retirou de nosso já pobre universo artístico um grande talento, que neste deserto de idéias se afigurava como um realizador capaz de calar posições maiores. Assassinado numa madrugada, a dor de seu desaparecimento aumenta quando, apenas cinco anos depois, é esquecido de toda a classe - que, ao invés de homenageá-lo como mereceria na última quinta-feira, ausentou-se completamente. LEGENDA FOTO - Sr. Jorge Kraide descerra placa inaugurando o auditório Antônio Carlos Kraide, no Centro Cultural do Portão. Os colegas do homenageado não apareceram. xxx Cumprimentos ao advogado Carlos Frederico Marés de Sousa, secretário municipal de cultura, que em seu emotivo discurso, lembrou sua amizade com Kraide - pois embora nunca tivesse feito teatro, com ele esteve várias ocasiões, inclusive no Chile, quando ali foi exilado político. Marés convidou o pais de Kraide, sr. Jorge Carlos Kraide, 60 anos, que veio de Piracicaba, para descerrar a placa com o nome de seu filho no auditório do Centro Cultural do Portão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/12/1988

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