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Aramis

Com ajuda de César, nativismo cultural chegou até o Paraná

Há seis anos, quando aqui dedicamos uma série de nove colunas registrando o "Alvorecer Nativista" ("Tablóide", "O Estado do Paraná", entre os dias 17 a 31 de outubro de 1984), após assistirmos ao II Musicanto - Sul Americano de Nativismo, em Santa Rosa, Rio Grande do Sul, o boom tradicionalista na (re)valorização de valores tradicionais da cultural rural do Rio Grande do Sul, embora já com mostras evidentes em outros estados, ainda era ignorado pela imprensa fora daquele Estado. Os Centros de Tradições Gaúchas já se espalhavam por vários estados aos quais havia chegado a migração gaúcha, a discografia dos artistas daquele Estado passava dos 4.500 títulos (hoje duplicou) e mais de 60 festivais nativistas movimentavam os principais municípios. Entretanto, ao menos em Curitiba, pouquíssimo se falava a respeito. Hoje, o movimento tradicionalista tem um espaço de destaque garantido especialmente pelo entusiasmo de César Setti, 24 anos, paranaense de Pato Branco, mas filho de gaúchos, que inicialmente no "Correio de Notícias" - e nos últimos três anos nas edições dominicais de "O Estado do Paraná" - e mais um programa semanal na Rádio Clube Paranaense, vem fazendo um trabalho de difusão cultural que lhe valeu o respeito e admiração e todos que sabem entender a importância do nativismo - hoje não apenas nas fronteiras do Rio Grande do Sul, mas fortíssimo também no Paraná - e com um crescimento impressionante em Curitiba. Assessorando vários CTGs, integrado a eventos nativistas, César Setti tem se preocupado em que rodeios, vaquejadas, tertúlias e outras promoções realizadas pelos tradicionalistas no Paraná não se restrinjam apenas à parte festiva. Assim, tem regularmente promovido um salutar intercâmbio de pesquisadores, estudiosos e participantes da cultura do Hemisfério Sul (já que as influências no Cone Sul não podem - nem devem - ser desprezadas), num trabalho dos mais meritórios. No último fim de semana, mais uma vez, César Setti valorizou um evento local, com uma promoção paralela enriquecida com a vinda de dois respeitados estudiosos dos valores culturais do nativismo. O pesquisador, cantor e advogado Edson José Gobbi Otto, 52 anos, e Hermes Garcia, 48 anos, aqui estiveram para palestras e para integrarem o júri o I Rodeio Crioulo Interestadual de Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba. Edson Otto, ex-diretor técnico do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, cantor de excelente voz - vencedor de inúmeros festivais nativistas, organizador do I Acorde da MPB (Tramandaí, outubro/1986) tem desenvolvido importantes trabalhos de pesquisa, alguns deles em colaboração com os dois mais famosos estudiosos do Rio Grande do Sul - Paixão Cortes e Barbosa Lessa, autores de obra numerosa. Na 9ª Seara da Canção Gaúcha, em Carazinho - sua terra natal, no ano passado, Edson foi considerado o melhor intérprete com "Velho Olivo", justamente uma canção em homenagem ao seu pai, um rijo gaúcho de 65 anos, que fundou o museu histórico daquela cidade - que entre seus filhos mais famosos, orgulha-se, naturalmente, de Leonel de Moura Brizola. Já Hermes Garcia dos Santos, foi coordenador do 1º Canto das Águas do Mel, realizado também no ano passado, em Iraí (20 a 22 de outubro), que reuniu pesquisadores e representantes musicais de vários estados (o Paraná foi representado por Alecir de Antonina, que ali apresentou "Louvação a Chimarrita", incluído no elepê documental do evento lançado pela etiqueta Quero-Quero). Participando, agora, do I Rodeio Interestadual de Campo Magro, Edson e Hermes trouxeram uma importante contribuição, mostrando as ligações culturais entre o Paraná e o Rio Grande do Sul. Edson, aliás, é um dos gaúchos que concorda em gênero, número e grau, com a tese levantada pelo promotor Joaquim Tramujas - a de que a erva-mate foi levada aos gaúchos pelos paranaenses - e também tem elementos que comprovam as idéias que a professora Roselis Velloso Roderjan desenvolveu em sua tese de mestrado, defendida na Universidade de Santa Catarina, sobre a influência dos tropeiros paulistas e paranaenses na colonização de ampla área do Rio Grande do Sul. Na sexta-feira à noite, jantando na churrascaria Fogo de Chão - um dos ambientes nativistas mais movimentados da cidade - Edson teve a grande alegria de rever um conterrâneo de Carazinho, o cantor Rubimar Ferreira, 31 anos - que comemorava, aliás, naquela noite - e que há 5 anos radicado em Curitiba, divide seu tempo entre o curso de Engenharia Eletrônica do CEFET com o de cantor nativista. Trabalhando com o grupo Rio Grande Nativo, que sob liderança de Pedro Ribeiro se apresenta todas as noites naquela churrascaria, Rubimar fez uma fita com canções nativistas, incluindo "Esquilador", de Telmo de Lima Freitas - vencedora da Califórnia da Canção, em Uruguaiana (dezembro de 1979), justamente defendida por Edson Otto. Reconhecida como uma das mais belas canções nativistas, "Esquilador" vem sendo agora, graças à fita de Rubimar - e suas apresentações ao vivo no Fogo de Chão, também apreciada por círculos cada vez maiores de interessados na música nativista. A propósito, Rubimar, com sua visão universitária de observador do comportamento musical na noite curitibana, garante que há um crescimento cada vez maior do mercado para grupos nativistas. - "Não apenas churrascarias, mas mesmo casas noturnas - como a "Flics", "Bataclan" e mesmo "Galesy's" - estão buscando grupos e cantores gaúchos". Prova disto é que três discípulos e parentes de um dos mais famosos acordeonistas, o histórico Tio Bilia (Antônio Soares Oliveira), gaúcho de Santo Angelo, 84 anos a serem completados no dia 5 de agosto), 13 elepês - Odilon, Nerom e Oneide, estão chegando para ficar alguns meses em Curitiba, "numa demonstração de que a música gaúcha passou a ocupar um grande espaço em nossa noite", como reconhece o empresário Osvaldo Bustiniky, paulista, dono de vários empreendimentos - inclusive o Fogo de Chão - e agora investindo alguns milhões em uma nova casa, "Garão do Potro", também no Capanema, animado pela procura cada vez maior que o público faz por ambientes típicos. - "Só não inaugurei antes o "Garão do Potro" porque estava temendo a vitória do Lula. Agora, o Plano Collor me fez congelar alguns projetos mas a nova churrascaria - com muita música gaúcha - será aberta ainda neste semestre".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/04/1990
Estou planejando lançar um blog para interagir com interessados em promover a música nativista em curitiba

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