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Aramis

Começa Dourado no " Encontro Marcado"

O jornalista Arakém Távora antecipou em 24 horas a sua chegada a Curitiba, para fazer ontem um trabalho de divulgação do projeto "Encontro Marcado" especialmente nas unidades da Universidade Católica do Paraná. Afinal , com professores e funcionários da UFPR em greve, o encontro de hoje ( 19 horas, auditório da Reitoria da Universidade Federal ) do escritor Autran Dourado, com os interesados em melhor conhecer sua obra e trocar ideias precisava mesmo de uma injeção promocional ainda mais que foi minha a divulgação a respeito. Aliás. é bastante estranhável que o Departamento de Letras, partir de sua própria direção, não esteja dando maior prestigiamento a esta valida promoção cultural, que chega a nossa setuagenária universidade praticamente sem nenhum custo. E sobre a qualidade, comtemporaneidade e importância dos escritores que estão participando do evento é supérfluo repetir elogios. Ou será que os professores de literatura brasileira não acham importante que os seus alunos tenham este contato pessoal com autores que há anos vêm produzindo o melhor da crônica, poesia e romance em nosso País?. xxx " Encontro Marcado" foi aberto com Fernando Sabino atualmente na Europa, após ter ido ao lançamento de edição de " O Grande Mentecampo" em Lisboa. Há um mês foi o poeta e cronista Paulo Mendes Campos que aqui esteve. Hoje será a vez de Autran Dourado, também mineiro, 58 anos, 37 de literatura considerando a publicação e seu primeiro livro de contos ( " Téia", 1947 ). Com 17 livros publicados entre os quais " A Barca dos Homens", " O Risco do Bordado", " A Opera dos Mortos" e " Os Sinos da Agonia", Dourado é um ramancista cuja obra tem sido dissecada em dezenas de teses tanto nas faculdades de Letras do Brasil, como em universidades europeias e norte americanas. Há algum tempo reuniu em livro seus apontamentos, cartas e amigos, entrevistas e registros para conferências. O livro, intitulado " Uma poética da romance" cumpriu o propósito previsto pelo autor: provocou, irritou ou estimulou as pessoas. De Érico Verissimo, na ocasição, recebeu um bilhete: "Você nos dá quase o mapa do tesouro. Dá-lo completo é impossivel, e mesmo os outros não o merecem". Ao justificar a publicação desse livro, através do qual explica o seu fazer literário, diz Autran Dourado: "Os nossos romancistas aceitaram passivamente a tese que lhes foi imposta, de que deviam ficar quietinho, sempre calados, teorizar nunca, discutir jamais o seu fazer liteário, não analisar ou explicar o que fizeram, por que fizeram, como fizeram; não dar nunca a sua poética. Tal função analitica e propedêutica devia ficar a cargo dos criticos e professores, estatistas e estruturistas, semamtistas e filólogos, teóricos e cientistas, laboratóristas essa fauna preciosa e necessária. Diante de tal tutela cadastradora os nossos romancistas ficam parecendo aqueles meninos de antigamente, vestidos de marinheiro, as pernas, cabeludas, de fora, na mão direita o balão de gás colorido, na esquerda a mão protetora do preceptor". xxx Dois novos livros estarão sendo autografados por Autran Dourado após seu " Encontro Marcado" no auditório da Reitoria: " A serviço Del Rei ", 150 páginas e " O Meu Mestre Imaginário ) ( Record , 122 páginas, CR$ 2,200,00 ). Em " O Meu Mestre Imaginário", Autran volta ao ensaio, gênero em que já nos deu o provocante " Uma Poética de Romance: Matéria de Carpintaria ". xxx Há um mês, quando esteve e, Curitba, Paulo Mendes Campos comentou conosco que lhe surpreendeu a noticia de que o romancista maranhense Josué Montello havia decidido a dar um de seus livros de memórias o titulo de " Diário da Tarde", Na época, já estava em fase de produção o seu livro com este mesmo titulo e decidiu conservá-lo. A obra memoralistica de Josué Montello se dividirá em três volumes. " Diário da Manhã " ( que a Nova Fronteira lançou há poucas semanas, 684 páginas ), " Diário da Tarde" e " Diário da Noite". Para quem acompanha a vida literária brasileira, esta contribuição memoralistica do autor de " Os Tambores de São Luis " é importante . Proporcionalmente a criação de seus livros, Montello ia recolhendo em sucessivos cadernos, a partir de 1952, o que via e ouvia, merecedor de sua observação e de seu comentário. Dai resultou, com o passar do Tempo, um amplo repositório de episódio, cenas, perfis, anedotas, lances politicos, que abarcam cenários nacionais e internacionais. Este diário a julgar por este primeiro volume tras principalmente o cunho pessoal de seu autor. Não pretende ser um ajuste de contas, mas um depoimento sereno e superior . Cada um de nós tem sua verdade, Josué Montello terá também a sua e foi à Luz dessa verdade pessoal que escreveu as páginas de seus cadernos secretos, cuja divulgação parcial agora fez, neste " Diário da Manhã", abrangendo alguns lances, capitais de nossa vida literária e politica, como a prisão de Graciliano Ramos, o suicidio de vagas e o governo de Kubitschek. xxx A propósito, Juscelino Kubitschek de Oliveira será o grande personagem a ser discutido hoje , no "Encontro Marcado". É que Autran Dourado foi Secretário de imprensa de JK a partir de 1949, quando elegeu-se governador de Minas. E foi um de seu mais fiéis amigos até o fim de sua vida.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
29/05/1984

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