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Aramis

"A Conferência de Wansee" também foi prejudicada no mesmo cinema

O mais grave na forma infeliz com que "Shoah" foi lançado no Cine Groff, na última quinta-feira, 26, é o fato de que não se trata da primeira vez que um filme-denúncia sobre o nazismo - e de interesse especial para a colônia israelita - é boicotado em sua exibição num cinema pertencente a Secretaria Municipal de Cultura. Exatamente em 22 de setembro de 1988, no mesmo Cine Groff, sem qualquer promoção, era lançado o documento-drama "A Conferência de Wansee", de Manfred Korytowski, que reproduziu, com a maior fidelidade possível, a reunião realizada numa mansão aristocrática em Wansee, tranqüilo subúrbio de Berlim, na manhã de 20 de janeiro de 1942, que decidiu pela chamada Solução Final para o problema judeu. Foi a Conferência de Wansee que oficializou a decisão de Hitler e do alto comando nazista em eliminar todos os judeus da Europa, embora os mesmos já viessem sofrendo perseguição desde 1935/36 na Alemanha - e a partir de 1939, nos países invadidos pelos nazistas. Parcialmente financiado pela televisão alemã, "Die Wanseekonferenz" foi exibido na República Federal da Alemanha primeiramente nos cinemas e, nos últimos 5 anos, foi levado a 30 países. No Brasil, foi trazido através do Sr. Robert Alexander, executivo do grupo Odebrecht, sobrinho do produtor-diretor Manfred Korytowski, que após apresentá-lo, em vídeo, no IV FestRio (novembro/87), legendou uma cópia que tem sido apresentada em circuitos especiais. xxx Na noite de 23 de setembro de 1988, na sessão das 20h do Groff, apenas 6 espectadores viram "A Conferência de Wansee". Três deles eram a família Lerner: Jaime, Fany e a filha Ilana. Na saída, emocionado pela força do documentário, Jaime (que na época nem pensava em voltar a ser prefeito) - lamentava que "um filme como este seja projetado sem que a comunidade israelita tome conhecimento". Realmente, naquela ocasião - como agora se repete - os mesmos funcionários que se perpetuam na coordenação de cinema da Fucucu - já haviam estraçalhado a oportunidade de "A Conferência de Wansee" ser visto por um grande público israelita - pois bastaria ter sido feito, então, um contato com as entidades da cidade. Nada foi feito, como agora se repetiu. Em nossa coluna de 28/09/1988, denunciamos o fato - como agora fazemos em relação ao boicote - intencional ou não - sofrido por "Shoah". Só que agora o prefeito de Curitiba chama-se Jaime Lerner, filho de pais judeus-poloneses, cinéfilo sensível e que não pode - nem deve - adotar a técnica de avestruz para justificar mais esta (e não faltariam outros exemplos) demonstração de como o circuito cinematográfico oficial da Prefeitura de Curitiba (única cidade do Brasil a possuir 5 salas de projeção) queima os filmes mais importantes e faz um trabalho que está muito longe de justificar a sua existência.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/10/1989

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