Login do usuário

Aramis

Conservatória, a cidade com noites de serestas

Poetas, Seresteiros, namorados, correi! Há noites de luar em um paraíso para quem conserva o romantismo em seus corações. Chama-se Conservatória, é um distrito do município de Valença (a cidade natal da violonista Maria Rosa Canellas, 45 anos, que adotou o nome artístico de "Rosinha de Valença", distante 150 km do Rio de Janeiro. Tem pouco mais de 4 mil habitantes, um casario colonial espalhado por apenas três ruas mas ali vive a alma da Seresta brasileira. A tradição da Seresta de Conservatória é centenária. Ali, as ruas tem nomes de modinhas e valsas - "Chão de Estrelas", "Luar do Sertão", "Casinha Pequenina" e tantas outras. Cândido das Neves (O Índio, 1889-1934), o autor de "Noite Cheia de Estrelas", é adorado - como tantos outros seresteiros. A ali existe o único Museu da Seresta no Brasil. Quem primeiro "descobriu" esta Passargada da música antiga foi a admirável e incansável Neusa Fernandes, professora universitária, ex-diretora do Museu da Imagem e do Som e atualmente diretora da Divisão de Pesquisa de Manifestação Cultural na Secretaria de Ciência e da Cultura no Rio de Janeiro. Elton Medeiros, 56 anos, seu marido, um admirável compositor, cantor e pesquisador, levou o entusiasmo a Paulo Tapajós, 73 anos - o último de nossos modinheiros, e com a energia que Norma Tapajós sabe tão bem transmitir, Conservatória, com sua pousada de extrema simplicidade, mas tanto calor humano transmitida pelo "seo" Luís passou a receber regularmente visitas de tantos que amam a música brasileira tradicional. A cidade tem seus seresteiros, como o barbeiro Adilton Alves Raposo, o comerciante Clóvis Freitas Neto, o José Tenente (José Garboggini Quaglia), despachante oficial e, especialmente os irmãos Joubert Courtine de Freitas e José Borges de Freitas Neto. Eles, a frente de muitos outros apaixonados pelas serestas - como os músicos Werther de Sá Lenzi (flauta), Luiz Gonzaga Pinto Magalhães, José soares de Freitas, Rômulo Paiva (violonistas) e José Maria (cavaquinho), fazem com que as noites de Conservatória tenham dolentes valsas e ternas modinhas que se espalham por suas calçadas centenárias. Um espaço que longe da poluição e desgaste urbano - felizmente, protegida por 20 quilômetros de estrada ainda não asfaltada - tem um clima mágico de brasilidade e nostalgia - mesmo ameaçado por alguns jovens de cidades vizinhas, que a invadem nos sábados, com o supérfluo rock nos toca-fitas de seus carros, ainda conserva a beleza do canto de obras-primas como "Luar do Sertão", "Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda", "Malandrinha", "Lágrimas" (a belíssima seresta de Cândido das Neves, primeiro sucesso de Orlando Silva, há 52 anos). Graças a energia de Neusa Fernandes, a animação de Norma e, especialmente a experiência e amor de Paulo Tapajós e Elton Medeiros pela boa música, foi possível a gravação de um enternecedor elepê ("Conservatória - A Vila das Ruas Sonoras", edição da Secretaria de Ciência e Cultura/Departamento de Cultura/INEPAC, Rio), que preserva a espontaneidade da música que seresteiros fazem numa cidade-encanto. Gravado ao vivo, no Museu de Seresta e nas ruas de Conservatória, nos dias 10 e 11 de janeiro deste ano, este elepê espontâneo, produzido com imenso carinho, praticamente teve sua edição esgotada no lançamento feito naquela cidade, há dois meses. O que é uma pena, pois traduz a alma de um povo, mostrando inclusive duas composições de um autor da própria cidade '"Ballet dos Vagalumes" e "Rua das Flores" (José Borges) e as vozes dos seresteiros da cidade - como os casais Jorge de Marina Fonseca, Braz Leão, Francisco Magalhães, o jornalista José Barra de Almeida, Maria Nogueira, Djalma Gama, Lia Mello e tantos outros, em clássicos das serestas como "Lábios Que Beijei" ou mesmo numa seresta recente como "Amor Perfeito" (Paulo Cesar Pinheiro/Ivor Lancelotti). Há anos que não é editado no Brasil um disco de serestas. Difícil encontrar álbuns deste gênero nas lojas. Por isto, a gravação ao vivo, feita em Conservatória é um documento emocionante - acompanhado de uma monografia ("Conservatória de ontem e de hoje", 28 páginas), na qual, Neusa Fernandes e Emy Fonseca, em completa pesquisa, com texto final de Anésio Pereira Dutra, oferecem um verdadeiro mini-ensaio não só sobre este espaço mágico na geografia cultural fluminense (e que merece ser tombado para não ter suas características históricas destruídas), mas com material referencial, básico, sobre a Seresta brasileira. À música brasileira, que tanto deve aos esforços de Neusa Fernandes, Elton Medeiros e Paulo Tapajós - pesquisadores dos mais sérios, acrescentam-se agora também este álbum-documento de uma pequena vila que tem no amor a música brasileira, a sua luz e vida. Que vontade de ir embora para Conservatória, como diria Manuel Bandeira em Relação a sua Passargada!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
30/11/1986
como faço pra enviar serestas para amigos? sou uma apaixonada por serestas e mpb bjos
Assisti um documentário sobre Conservatória e fiquei admirado pelo interesse das crianças em poesias. Por isso, mando meu blog: www.villalvapoeta.blospot.com Espero que gostem e aproveitem das minhas poesias. Se gostarem, envie aos amigos da literatura. Até mais.

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br