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Aramis

Contos nova-iorquinos de Cheever e Dorothy

Quem gosta de contos tem agora a chance de conhecer um dos mais interessantes escritores americanos - John Cheever - com a edição de "O Mundo das Maçãs" (Companhia das Letras, tradução de Paulo Henrique de Britto, 220 páginas). Sérgio Augusto, por certo um dos três jornalistas brasileiros mais bem (in)formados em termos de cultura contemporânea, fez a seleção dos textos e apresenta John Cheever (1912-1982) na nota de orelha. Aliás, foi graças a indicação de Augusto que a mesma Companhia das Letras publicou anteriormente outro livro de Cheever, "Até Parece o Paraíso". Cheever talvez tenha sido, diz Sérgio, "o cientista que a literatura americana produziu nas últimas décadas - e esta não é uma desconfiança apenas pessoal". Algumas de suas melhores histórias curtas entre as centenas que escreveu a partir de 1930 - estão em "O Mundo das Maçãs", selecionadas entre as 62 que o próprio autor reuniu para uma antologia que foi best-seller em 1978 e conquistou o prêmio Pulitzer e a Medalha Edward MacDowell. Os Contos de Cheever refletem as observações do cotidiano de melancólicas, patéticas, solitárias e, não raro, excêntricas criaturas". Cheever julgava-se um pouco ingênuo e, sobretudo, provinciano por ter sua mirada restrita ao pequeno mundo da classe média de Nova Iorque "e ninguém olhou com tanta agudeza, ternura, compaixão e ironia a Manhattan dos tempos em que todos os homens pareciam usar chapéu e quase todas as músicas que tocavam no rádio pareciam swing", diz Sérgio Augusto. xxx Para quem deseja também mergulhar numa viagem maravilhosa pelos contos de uma Nova Iorque trepidante, a mesma Companhia das Letras editou há meses - mas ainda nas livrarias - outra obra fundamental: "Big Loira e outras histórias de Nova Iorque" de Dorothy Parker (tradução de Ruy Castro, 225 páginas). Nome meio místico da literatura americana, conhecida também como roteirista (viveu em Hollywood entre 1930/46), Dororthy Parker (1893-1976) só agora tem seus textos publicados no Brasil. Sua obra espalhou-se por importantes revistas e só em 1944 saíram seus livros de poesia ("Enough Rope", "Sunset Gun" e "Not So Deep As Well") e contos ( "Here Lies") - reunidos depois no "The Portable Dorothy Parker" que, acrescidos de novos textos, vem sendo constantemente reeditados. Tão interessante quanto aos contos de Dorothy é a sua personalidade e a presença intelectual que teve na famosa Round Table (mesa redonda) no Salão Rosa do Hotel Algonquin ( Rua 44, Oeste, em Nova Iorque), como descreve Ruy Castro ( que está ao lado de Sérgio Augusto entre os jornalistas mais identificados a este período da literatura americana). "Todas as tardes, nas horas mortas de suas redações, palcos ou estúdios, reuniam-se ali, na grande mesa disposta por Frank Case, então dono do hotel, os maiores nomes de Nova Iorque. Teatrólogos como George S. Kaufman e Robert Sherwood; os colunistas da moda, como Franklin P. Adams e Heywood Broun; Harpo Marx, um dos irmãos Marx; Harold Ross, editor do "The New Yorker"; Frank Crowninman J. Mankiewicz, mais tarde roteirista de "Cidadão Kane", Ring Landner e Robert Benchley, os dois mais fabulosos humoristas da época; atores e atrizes como Tallulah Banklead e Alfred Lunt; cantores e compositores como Paul Robeson ou, de passagem, Noel Coward. O jogo era muito, muito pesado. Pois Dorothy Parker era a estrela no centro do gramado do Algonquin". Na famosa Round Table do Algonquin, tomando uísque em xícaras de chá - a Lei Seca ainda estava em vigência - essa turma produziu um tufão de frases contra tudo e contra todos (inclusive eles mesmos). Reunidos, eles dominavam os jornais, as revistas, o teatro e boa parte da literatura de Nova Iorque. O crack de 1929 levou todos aqueles talentosos boêmios à falência e eles se deixaram fascinar, pelo dinheiro de Hollywood, para onde quase todos rumaram, a fim de escrever roteiros - Dorothy Parker, entre eles. "Big Loira e outras histórias de Nova Iorque" e "O Mundo das Maçãs" são dois livros reveladores de uma época americana, em densidade, ironia e um amargo humor - comprovando, mais uma vez, a importância de um editor competente como Luiz Schwartz, da Companhia das Letras, em saber escolher obras importantes - que, apesar de quase meio século de atraso, trazem autores dos mais criativos. LEGENDA FOTO 1 - John Cheever: "O Mundo das Maçãs". LEGENDA FOTO 2 - Dorothy Parker: histórias nova-iorquinas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/08/1988
Você tem o conto "A Visita da Verdade" de Dorothy Parker? Preciso com urgência para estudar uma peça teatral que estamos montando, mas não encontro em lugar algum... Parabéns pelo site!

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