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As cordas de Rafael no ballet do Iguaçu

Independentemente dos méritos da apresentação do bailado "Lendas do Iguaçu" (Parque Nacional de Foz do Iguaçu, hoje, 17,30 horas), esta original produção idealizada pelo diretor da Fundação Teatro Guaíra, Constantino Viaro - é viabilizada graças ao Bamerindus - tem um ponto especial que merece destaque: a participação, como solista convidado, do violonista Rafael Rabello. Aos 25 anos, completados no dia 31 de outubro último, Rafael é hoje um dos maiores virtuoses do Brasil, reconhecidamente o melhor executante do difícil violão de 7 cordas (instrumento de raros especialistas no Brasil) e cuja carreira começa a ganhar projeção internacional. Já esteve, em grupo, fazendo apresentações no Lincoln Center, em Nova Iorque, na Itália e, recentemente, integrando o espetáculo de Nei Matogrosso - ao lado do clarinetista Paulo Moura, pianista João Carlos Assis e percusionista Chacal, tocou para mais de 20 mil espectadores em Lisboa e cidade do Porto. A agenda de Rafael está tão carregada de compromissos que lhe foi difícil encontrar espaço para atender o convite para solar a peça do compositor boliviano Jaime Mirenbaum Zenamon, que coreografada por Carlos Trincheiras, terá o mais original dos cenários para uma primeira apresentação do Ballet Guaíra ao ar livre. Disciplinadamente, Rafael fez vários ensaios com a Orquestra Sinfônica do Paraná, regida pelo maestro Alceo Bocchino, entrosando a composição de Mirembaum, intitulada justamente "Lendas do Iguaçu" e que ganha cores e formas através dos integrantes do Ballet Guaíra. Requisitadíssimo para gravações com os maiores nomes da MPB, Rafael está deixando de fazer trabalhos de estúdio - tendo inclusive desculpado-se junto ao seu amigo Chico Buarque de Holanda em não poder participar da gravação de seu novo elepê, "Francisco" (Ariola/RCA), que está sendo lançado agora. Violonista desde os 12 anos, discípulo do grande Meira (Jaime Tomás Florence, 1909-1982) e tendo uma formação inicial em grupos de jovens apaixonados por choro - ao lado da irmã Luciana, excelente executante do cavaquinho, integrou Os Carioquinhas e, na primeira fase, a Camerata Carioca, Rafael foi, sem favor, a maior revelação instrumental no Brasil no final dos anos 70. Enquanto a irmã Luciana está, temporariamente, afastada da música - casada com o letrista Paulo Cézar Pinheiro, tem dois filhos pequenos - Rafael evolui em sua carreira, partindo para trabalhos solos de maior dimensão. Ao lado de gravações, começa a estruturar um roteiro de concertos que será intensificado no segundo semestre de 1988. Inicialmente, há um compromisso com os amigos Paulo Moura e Arthur Moreira Lima, em fazer alguns concertos na formação piano-sax-violão, a partir da Sala Cecília Meireles. Enquanto seu primeiro álbum-solo, editado há 4 anos pela Polygram é hoje raridade, Rafael acaba de concluir as gravações para o primeiro álbum laser a ser lançado pela nova etiqueta, Visom, não só no Brasil mas também no exterior. O CD será a união do elepê que fez no início do ano, com peças de Radamés Gnatalli, com mais algumas faixas, nestas com a participação de amigos como o violonista Dino em "Lamentos do Morro" e "Jorge na Fusa", de Garoto (Anibal Augusto Sardinha, 1915-1955); o sax de Paulo Moura em "Tarde de Chuva", o acordeom de Chiquinho em "Pedra do Leme" e o guitarrista Armandinho numa revisitação da mais famosa composição de Ernesto Nazareth (1863-1934), "Apanhei-te Cavaquinho". Com 60 minutos de gravação, este compact-disc (laser) incluirá ainda a "Toccata em Ritmo de Samba", "Dança Brasileira", três "Estudos" (Baião/Caipira/Galope), uma valsa e "Amargura", do grande Radamés Gnatalli, nesta última com as participações de Guinga (Carlos Althier) Paulo Moura e Chiquinho. Com a simplicidade que caracteriza os grandes talentos, Rafael Rabello mantém a modéstia de quando, aos 16 anos, veio pela primeira vez a Curitiba, integrando a Camerata Carioca. Aquele grupo instrumental, idealizado por Hermínio Bello de Carvalho, se desfez, mas cada um de seus integrantes trilha hoje sólidos caminhos. E Rafael Rabello, com o virtuosismo de um dos maiores violonistas do Brasil - e arte admirada por estrangeiros como Paco de Lúcia ( que, inclusive, assina a contracapa de seu elepê na Visom), com toda razão, alça vôos maiores.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/11/1987

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