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Aramis

"Cortesia" demagógica com filmes alheios

Se não fosse a dignidade e coerência dos realizadores Fernando Severo e Fernanda Morini, a "coordenadoria" (sic) de cinema da Fucucu teria criado um constrangedor atrito entre o prefeito Jaime Lerner e a secretária Gilda Poli. Ao aproveitar-se de uma promoção totalmente realizada pelo Museu da Imagem e do Som de São Paulo - e que só veio a Curitiba graças a generosa participação (como sempre) do Goethe Institut, o "coordenador" (sic) da área de cinema tentou envolver os realizadores dos dois curtas financiados pelo governo do Estado, ainda na administração Álvaro Dias, para "lançá-los" obscuramente, dentro da Mostra, iniciada dia 6 de setembro no Cine Groff. Acontece que tanto Severo como Fernanda Morini, que tiveram seus curtas selecionados para os festivais de Gramado e Brasília - além de aprovados também para a próxima XVIII Jornada do Cinema da Bahia (Salvador, 20 a 26 de setembro), não concordaram em "queimar" seus filmes numa exibição precária na pior das salas do circuito oficial da Prefeitura. Embora gratos ao prefeito Jaime Lerner - que foi pessoalmente quem determinou a liberação de (pequenas) importâncias que possibilitaram a finalização de seus filmes, Fernando e Fernanda reconhecem que se conseguiram realizar curtas de boa qualidade e acabamento, devem ao ex-secretário René Dotti, que na administração Álvaro Dias, por sugestão de seu então assessor Sebastião França (falecido há alguns meses, no Rio de Janeiro), idealizou um concurso de roteiros, através do Museu da Imagem e do Som-PR, que aprovou os recursos que possibilitaram as filmagens realizadas em abril de 1989. Mesmo com a falta de cumprimento da parte do convênio pela extinta Embrafilme, que deveria completar os orçamentos, os filmes "A Loira Fantasma" (Fernanda Morini) e "Os Desertos Dias" (Fernando Severo) tiveram a maior parte de seus recursos vindos do Estado (Severo conseguiu uma ajuda também de um banco, além da co-produção do publicitário Rubens Genaro). A ajuda que o prefeito Jaime Lerner determinou que fosse liberada em maio - após o escândalo das demissões na Cinemateca que o alertou da fragilidade da área de um cinema no âmbito municipal - foi praticamente irrisória frente ao valor total dos filmes - cujas realizações, fazendo-se uma correção monetária estariam hoje ao redor de Cr$ 15 a 20 milhões. Portanto, nada mais coerente que seus realizadores além de pretender estréias condignas - em salas confortáveis, com excelente projeção e não misturadas a outros curtas - estejam também reservando a primazia da promoção à Secretaria da Cultura do Estado. A professora Gilda Poli, que foi a primeira titular de um órgão cultural do Paraná a comparecer a um festival nacional (como fez em julho, no XXIV Festival de Cinema Brasil de Brasília) está preocupada em desenvolver um programa que efetivamente prestigie os realizadores audiovisuais do Paraná - através de cursos, oficinas práticas e, especialmente, novos concursos para roteiros e produções com temas voltados ao Paraná. Nada mais justo, portanto, que os dois melhores curtas resultantes do programa iniciado na administração René Dotti, tenham o lançamento oficial por parte do Estado. "Lápis de Cor e Salteado", de Nivaldo Lopes (Palito), que também se beneficiou daquele programa, já é conhecido: concluído apressadamente - o que lhe prejudicou esteticamente - foi inscrito para o Festival de Gramado de 1990, mas não conseguiu classificação. "A Flor", das irmãs Helena e Ingrid Wagner, que também recebeu ajuda do Estado, só teve sua primeira cópia finalizada na última sexta-feira - para exibições nas sessões de domingo, 8, e ontem à noite. Ingenuamente, sem se conscientizarem de quem com esta exibição estariam, indiretamente, desprestigiando ao principal órgão financiador, elas concordam em ceder a sua obra - um filme de animação, 10 minutos - nas quais se empenharam por quase três anos. O lançamento de "Os Desertos Dias" e "A Loira Fantasma" em Curitiba ainda não tem data marcada. Antes, seus realizadores esperam os resultados da Jornada da Bahia. Os dois filmes foram apresentados na Mostra Internacional de Curta-metragens, em São Paulo e "Os Desertos Dias", já tem convites para uma das sessões da XIV Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (outubro) e também para uma mostra de curtas brasileiros que será levada por Zita Carvalhosa, no MIS-SP, a Itália.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
10/09/1991

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