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Aramis

Crianças endiabradas, um marketing cinematográfico

É interessante observar o modismo cinematográfico. Cada vez mais o marketing decide os gêneros, estilos e tendências da produção audiovisual americana - que hoje não se restringe apenas à tela tradicional, incluindo o vídeo e o vídeo-disco, além das televisões a cabo e circuitos especiais. Neste final de ano, a disputa pelas melhores bilheterias não se concentra em torno de novas aventuras de Indiana Jones ou Super-heróis retirados das tiras de quadrinhos, mas sim com personagens (aparentemente) ingênuos e ternos: as crianças. Após o boom dos bebês, cuja chegada inesperada influíram no quotidiano de adultos atrapalhados ("Três Solteirões e um Bebê", "Presente de Grego", "Olha Quem Está Falando", etc.) temos agora a criançada já um pouco crescida, traquinas e espertas em comédias tamanho-família, com fácil empatia para o público classe média - aquele que tradicionalmente (ainda) lota o cinema-digestivo. "Esqueceram de Mim" (Cine Astor, lançamento nacional no dia 21), e "O Pestinha" (Lido II, já em exibição, 5 sessões diárias), são exemplos desta nova tendência de filmes de baixo orçamento e (possível) rentabilidade imediata. Afinal, após o fracasso de mastodontes que custaram milhões de dólares em contraposição a surpresas de produções de custo reduzido (aos padrões americanos) como "Uma Bela Mulher" (Cinema I) e "Ghost, do outro Lado da Vida" (agora no Lido II, após ter levado 50 mil espectadores em 6 semanas no Condor), os frios executivos que substituíram os outrora poderosos tycoons da indústria cinematográfica são práticos em seus projetos. Não se espera encontrar em "Esqueceram de Mim" (Home Alone), ou "O Pestinha" (Problem Child) maiores momentos de cinema, dirigidos por estreantes (Chris Columbus e Dennis Dugan, respectivamente) e com elencos, naturalmente, jovens - a começar pelos personagens centrais, crianças simpáticas e talentosas, mas candidatos a um precoce envelhecimento artístico (responda rápido: quais os garotos e meninas que, lançados em filmes de sucesso nos últimos 20 anos, conseguiram fazer carreira após chegar a adolescência? No passado era diferente: Elizabeth Taylor, Shirley Temple, Brandon de Wilde, Mickey Rooney, Judy Garland, Dean Stockwell, entre outros, que começaram pequenininhos e conseguiram sobreviver artisticamente). McCaulay Culkin, 10 anos, é Kellin McCallister, esquecido por sua família quando esta sai correndo para não perder o avião que os levaria a passar o Natal em Paris. Sozinho em casa, o garoto enfrenta assaltantes em seqüências engraçadíssimas. O diretor, Chris Columbus, tem familiaridade com temas infantis: foi o roteirista de dois grandes sucessos - "Gremlins" (1984) e "The Goonies", além de ter roteirizado outro êxito, "O Enigma da Pirâmide" (The Young Sherlock Holmes, 85, de Barry Levingson). Já Júnior (Michael Oliver, 7 anos) é o órfão que ao ser adotado por um pacato casal - Ben (John Ritter) e Flo (Amy Yasbeck), revela-se um garoto problema, quebrando a tranqüilidade familiar e levando o "avô" improvisado, Big Ben (Jack Warden, veterano ator) a clamar aos Céus: "Vocês adotaram Satã". Como "Esqueceram de Mim", o diretor Dennis Dugan - outro estreante - utiliza gags e situações simples, mas de fácil empatia, o que poderá fazer de "Problem Child" um êxito de bilheteria embora não chegue com a mesma promoção que "Home Alone" ganhou desde sua estréia nos EUA, há 120 dias. Outro marketing que funciona é o das seqüências e embora tivesse jurado que não voltaria mas a série "Rocky", o diretor John G. Avildsen não resistiu ao punhado de dólares e aceitou fazer a quinta fita da saga do lutador que enriqueceu Sylvester Stallone. Além de Stallone, três outros intérpretes dos 4 filmes anteriores - Talia Shire (irmã de Coppola, e que vem aí em "O Poderoso Chefão - III Parte", cujo lançamento no Brasil a Paramount adiou para março), Burt Young e o veterano Burgues Meredith. O roteiro do próprio astro Stallone pouca novidade traz, mas apesar disto é lançamento que a CIC confia como a grande bilheteria para este final de ano. Tão grande, que os Cines Condor / Lido I / II, desprezaram desta vez a nova aventura dos Trapalhões (envolvidos agora com Robin Wood) que entra só no Plaza, para ali faturar tranqüilo até o primeiro trimestre de 1991. Ah! Para quem gosta de bons filmes, "Muito Mais que um Crime" (The Music Box), de Costa Gravas, continua em exibição no Cine Ritz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
14/12/1990

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