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Aramis

Crime à Suiça

A Suíça lembra muitas imagens: verdes colinas no verão, espontes de inverno, o melhor chocolate, a precisão dos relógios, a segurança de seus cofres bancários, a ordem, o respeito, a liberdade e principalmente a neutralidade. A Suíça identificada como sinônimo de paraíso tem sido, até hoje, vista apenas em imagens de cartões postais, em seqüências de beleza turística em filmes publicitário. Assim, a ambientação de um intrincado filme policial - com conexões políticas, econômicas e de espionagem - em Berna, não deixa de ser, de princípio, um enfoque geográfico interessantes, diríamos até original. Acrescente-se a isso a história desenvolvida por um dos mais admirados europeus (Friedrich Durrenmant, 56 anos, escritor suíço de expressão alemã, nascido em Knolfingen, cantão de Berna), a direção segura de Maximilian Schell e um elenco surpreendente, mais uma admirável trilha sonora de Enio Moriconne para termos um resultado estimulante: "Aposta Fatal" (Cine Bristol, até sexta-feira), um dos melhores programas nesta temporada de poucas atrações. Irmão caçula (Viena, 1940) da atriz Maria Schell (Viena, 1926), Maximilian só estreou no cinema 12 anos após a sua mana: ela começou em 1943, em "Der Steinbruch", de S. Steiner, e Maximilian foi lançado por Lazlo Benedeck em "Kinder Mutter Un Rein General" (1955). E apesar de papéis expressivos em 20 anos de cinema, Max - como Maria - tem preferido mais o teatro do que ao cinema. De ator e diretor, estreou em "O Pedestre"- filme elogiadíssimo, lançado no Rio-São Paulo há 2 ou 3 anos e que está entre os filmes de arte que os curitibanos parecem condenados a não conhecer. "Aposta Fatal" (En dof the Game) é, assim, salvo engano, a primeira chance de vermos o trabalho de Maximiliano Schell como diretor e o resultado é altamente positivo. Sem abandonar a sua visão realista e críticos, em peças marcantes como "Die Ehe Des Hernn Mississippi (O Casamento do Sr. Mississippi, 1952) e "Der Besuch der alten dame" (A Visita da Velha Senhora, 55) - ambas já levadas ao cinema - "Durrenmatt é também um romanticista de extrema força, como mostrou em "Der Richter und sein Henker ("O Juiz e seu Carrasco", edição no Brasil da Livraria do Globo, 1961), ponto de partida do roteiro para este "End of the Game". O humor negro, as intrigas do poder e das finanças, a memórias reisneiana, a melancolia da velhice, o sexo, os rostos do sotidiano, são elementos que se fundem neste filme de grande beleza plástica e humana. O duelo entre lei-crime, traduzido no desforço intelectual-criminoso entre um veterano policial (Martin Balsan, na melhor interpretação de sua carreira) e um poderoso magnata ( Robert Shawn) oferece condições de Schell aprofundar o tema e mais do que um filme policial realizas um filem sobre a vida e a morte - o passado e o presente, os velhos e os jovens - no caso os personagens interpretados por Jan Vogt e a (sempre) bela Jacqueline Bisset. "Aposta Fatal" é o exemplo de que não há gêneros menores. Um filme (aparentemente) policial pode ser tão profundo, tão filosófico, tão inquietante, quanto a mais difícil obra de Bergman, ou Resnais. Mas para isso, é preciso que haja um escritor do gênio de Durrenmatt (que aparece numa seqüência, vivendo ele mesmo), direção segura e um bom elenco. ________________________________ Bastou ser publicada a noticia do prejuízo sofrido pelo artista Lauro Roberto Andrade - o estimado "Paiva", que teve uma de suas mais belas peças adulterada na mostra "Arte e Pensamento Ecológico", realizada em março/77, no Centro de Criatividade, para que o presidente da Fundação Cultural, Ênnio Marques Ferreira, cavalheirescamente o procurasse em sua casa, levando um pedido formal de descupas, lamentando o ocorrido e informando que "séria providências" foram tomadas contra o assessor que adulterou a peça Pessoa pacata e aberta ao diálogo, Lauro Roberto aceitou as desculpas e desistiu de tomar outras providências, não entendendo apenas porque tal explicação não veio antes. Afinal se passaram dois meses de completo silêncio e só depois que decidiu denunciar o fato publicamente conseguiu uma solução. Agora, se a peça estiver em condições, vai enviá-la a Bienal de São Paulo, para a qual foi um dos poucos artistas paranaenses selecionados. Um bom tema para um conto do Londrinense Domingos Pellegrini Júnior, preocupado em retratar literariamente a realidade de novo Paraná ou para um bem humorada crônica do carioca Carlos Eduardo Novaes: "O Jornal", que João Chateaubrind, dedicou uma página para relatar como foi a briga que acabou com a festa de igreja que se realizava no último domingo de maio, no distrito de Encantado do Oeste, durante a 4a Festa da Soja para conseguir recursos destinados à construção do novo templo. Um japonês embriagado, Mário Takano, insistiu em pagar uma conta de Cr$ 20,00 para um fotógrafo que por ter aceito o dinheiro de outra pessoa acabou apanhando. A confusão degenerou-se de tal forma que envolveu dezenas de pessoas e único soldado da Polícia Militar, ali destacado, Ismaias de Andrade, enfrentou sozinho uma multidão, prendeu o desordeiro, viu a cadeia invadida por um amigo de Tanaka, brigou, apanhou, mas afinal conseguiu acalmar a situação. Depois de tudo isso, quase acabou tendo uma punição: a estória foi contada de outra versão ao subdelegado Ari Foschiera, de Assis Chateaubriand e Ismaias passou de herói a carrasco. Levando o jornal de Manesco a sair em sua defesa. _____________________________ É uma pena que a gravadora RGE-Fermata tenha praticamente encerrado suas atividades em Curitiba, no que tange a promoção de vendas, pois é com isso está passando totalmente desapercebido o lançamento do elepe de uma dupla do Norte do Estado - Zé Alves (José da Silva, nascido em Mata Grande, Alagoas e criado no Paraná) e Celo Aparecido Guimarães (nascido em Londrina). O disco chama-se "O Amanhã Logo Virá" e como registrou o crítico J. Ramos Tinhorão" é um exemplo do processo de descaracterização da música rural, em que os jovens rejeitam seus ritmos a características locais e partem para uma salada de estilos que representa exatamente o seu momento de choque cultural-social". A dupla Zé Alves e Guimarães está nesta faixa de descaracterização - tema que já abordado nesta coluna em várias ocasiões. Na foto da capa do lp, Zé e Guimarães, aparecem sentados numa moderna lancha a motor, vestem uma estapafúrdia mistura de calças de xadrez e brilhantes camisas floridas, "enquanto olham a objetiva da máquina fazendo pose com os rostos de ascensão sócio-econômica, devidamente a moda unissex dos cabelos longos e encaracolados", como acentuou Tinhorão. E musicalmente o resultado também é lamentável: guaranias aboleradas, valsas aboleradas, rasqueados abolerados etc. Ou seja, nem caipira, nem urbano - confusamente comercial. ___________________________ Vender livros nos dias atuais não é tarefa fácil. Por isso o sr. Celso Baptista, 59 anos, cabelo e suíças brancas, seresteiro e trovador há 5 décadas, encontrou uma forma simpática para oferecer algo mais aos seus possíveis clientes. Integrando a equipe de vendedores da Encyclopaedia Britânnica, Celso Baptista oferece aos compradores não só as (boas ) obras, mas se propõe, sempre que consegue fazer uma venda, a comparecer na residência do adquirente, o dia e hora marcada, para fazer uma serenada - com clássico do gênero, das décadas de 10 a 40. Quando não no próprio escritório. Os resultados tem sido positivos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
15/06/1977

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