Login do usuário

Aramis

Curitiba ganha seu centro de convenções mas vamos lembrar os tempos do Vitória

Programado para ser inaugurado dentro de uma semana, em termos de atração artística com apresentação do pianista Pedrinho Mattar - e dentro de uma programação da qual, até agora, não se tem maiores notícias - o Centro de Convenções de Curitiba, na Rua Barão do Rio Branco, mereceria que o presidente da empresa de economia mista que se formou para a construção e administração, Marco Antônio Fatuche, se lembrasse, quando das solenidades, de incluir alguma menção ao histórico do prédio. Desde o antigo casarão de alvenaria que ali existia - e que durante décadas sediou o histórico Bar Café "Ao Palácio" - e que há 30 anos transferiu-se para o imóvel do professor João José Bigarella, na mesma quadra (agora vive seus últimos tempos pois há meses já se anuncia sua transferência para sua "sede própria" na Rua André de Barros) até o imponente Cine Vitória - existe uma história urbana e humana que não pode ser esquecida pelos jovens empresários que, nestes últimos anos, só viram aquele espaço para um novo objetivo lucrativo. Quando o Cine Vitória cerrou suas portas em 28 de janeiro de 1987, procuramos alertar sobre a importância de serem preservadas as lajes com as impressões digitais de muitos dos artistas que por ali passaram em iluminadas e elegantes noites de premiéres e que por décadas ficaram como lembranças de uma época. Inspirado no exemplo do Chinese Theatre, em Hollywood, o então dinâmico Ismael Macedo, executivo do Orcopa - que havia construído o cinema associado à família Johnscher (proprietário do imóvel), aceitou a idéia de que ficassem preservadas em cimento as memórias dos eventos que a Editora "O Estado do Paraná" - especialmente a festa do "Tribunascope" - ali promovia. Assim, quando o cinema foi fechado e para evitar que fossem destruídas na demolição, pessoalmente alertamos o então Secretário da Indústria e Comércio, advogado Fernando Antônio Miranda. Homem inteligente e culto, Fernando determinou que se tomassem providências e, acionando uma conexão com outro executivo competente, o advogado Constantino Viaro, então já na superintendência da Fundação Teatro Guaíra, removeram-se as placas de cimento para o almoxarifado do teatro. Alguns meses depois, quando se refizeram os jardins ao redor do Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, as lajes ganharam nova localização - ali encontrando-se até hoje. Um detalhe, talvez mais importante em termos de preservação da memória. Afinal, quando da demolição de outros edifícios e teatros, perderam-se placas e mesmo marcas artísticas de eventos que aconteceram. No Cine Ópera, cujo luxuoso hall era repleto de placas de bronze, marcando eventos ali ocorridos (uma delas lembrando a apresentação de Bienanimo Gigli, em 1951, conforme aqui já contamos em detalhes), foram simplesmente vendidas como sucata. Mesmo as estátuas lembrando deuses gregos, ao redor da tela do cinema inaugurado em julho de 1943 (com "Tudo Isto e o Céu Também") foram irremediavelmente perdidas. A placa que, em 4 de abril de 1929, marcou a inauguração do Palácio Avenida (que será reinaugurado na próxima terça-feira, dia 5), com os nomes do construtor da magnífica obra, Ferez Mehry (1887/1946) e do engenheiro Bernardino de Oliveira, que fez o projeto, somente se salvou de ser perdida porque um dos netos de Mehry, o advogado Roberto, teve o bom senso de preservá-la - usando-o como elemento de decoração - sobre a lareira, em sua antiga mansão de fazenda do município de Quatro Barras. Marcas de um passado num exercício memorialístico que devem ser preservadas e respeitadas. Portanto, para que o hoteleiro Marco Antônio Fatuche, que preside o Centro de Convenções de Curitiba (ligado a Secretaria de Esportes e Turismo) não alegue que não houve quem o lembrasse do aspecto histórico do espaço onde agora Curitiba ganhará um moderno centro de 8.426.52 metros quadrados (com um projeto dos arquitetos Abrão Assad, Rafael Dely, Zenon Pesch e Ricardo Pereira Jr.), dedicamos hoje, nossa página e este fato. LEGENDA FOTO 1 - O "Hall of Fame" tupiniquim: as lajes com as mãos dos astros e estrelas que passaram pelo Cine Vitória encontra-se hoje nos jardins do Teatro Guaíra. LEGENDA FOTO 2 - Memórias do passado: no prédio em que por 24 anos funcionou o maior cinema de Curitiba, agora um Centro de Convenções e Eventos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
03/03/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br