Login do usuário

Aramis

Da flauta de Rampal ao pop descartável

O francês Jean Pierre Rampal é hoje o flautista erudito mais conhecido no Brasil - e um mestre internacional. Amigo do curitibano Norton Morozowicz - com quem já fez várias apresentações no Brasil (inclusive no Teatro Guaíra, há 4 anos, com a Camerata Antiqua), Rampal também tem uma discografia ampliada. Desde suas intervenções jazzísticas (com seu amigo Claudio Bolling), como os dois bons lps que a CBS aqui editou no ano passado, ou este recente "A Arte da Flauta" (Everest/Imagem), gravado com a participação de Mário Duschenes (flauta/flautim) e Kenneth Gilbert (cravo). Quatro foram as peças gravadas, começando peloTrio em Ré Maior de Wilhelm Friedemann Bach (171-1784), filho de Johann Sebastian Bach (1685-1750) e de sua primeira esposa, Maria Barbara (1684-1720). De George Philip Telemann (1681-1767), temos outro Trio, este em Dó Maior e com a duração de 12 minutos. Poucos conhecem a obra de J.C. Pepusch (Berlim, 1667 - Londres, 1752), que ficou na história com o nome inglês de John Christopher. Deste autor é um Trio em Sol Menor. Finalmente, o Trio em Sol Menor, de Jean-Baptiste Loellet (1680-1730), compositor francês mas que viveu a maior parte de sua vida na Inglaterra. xxx Dois discos numa capa simples, em lançamento da Polygram, pretendem mostrar ao público brasileiro uma das tendências da música (mercado jovem): a absorção da chamada black music por intérpretes brancos. Trata-se de "Greatest Beats", uma coletânea dos maiores sucessos da gravadora Tommy Boy. Este selo americano é um dos responsáveis pelo lançamento de bem sucedidos artistas negros dos anos 80 - ainda pouco conhecidos entre nós, mas escalando as paradas de sucesso: Afrika Bambaataa, Planet Patrol e Jonzun Crew. O tipo de disco "pau de sebo" para testar, no Brasil, a aceitação de uma nova safra de intérpretes e compositores destinados a esse mercado descartável de milhões de dólares. xxx Nessa mesma faixa de mercado jovem, a Polygram faz outros lançamentos - numa confiança de que a garotada está com mesadas gordas para absorver tantos produtos comerciais. É o caso do trio The Star Sisters, formado pelas gatas Ivonne, Patricia e Ingrid - belas mulheres, mas com um repertório incrementado, que não lembra em nada os bons tempos das Andrews Sisters. Valem só pelo visual. Também pela Polygram a The Gap Band, num lp-apresentação "Best of The Gap Band", (selo "Total Experience"), com dez músicas sem maior destaque. Já "Star On Hits 3" é uma reunião de diferentes formações, todas na linha de música liquefeita para trabalho rápido, vendas imediatas e nenhum compromisso maior: desde uma misteriosa The New Jersey Mass Choir até grupos como Amadiscos, Tempo Rubatto (com um potpourri de arranjos pop sobre temas clássicos de Beethoven, Tchaikovsky, Haendel e outros), The Star Sisters resgatando em linguagem elétrica dois clássicos dos anos 40 - "Horay For Hollywood" (Mercer/Whiting) e "There's no Business Like Show Business" (Irving Berlin). Há ainda vocalistas como Rosetta Jefferson, Jean Kenight, Debbie e até René Froger. Enfim, uma geléia geral. xxx Já que falamos em caras novas, um "good looking" que também está entrando no mercado: Al Corley, ex-ator da série de TV Dallas e que teve em "Square Rooms" o seu primeiro êxito. Ganhou boa promoção nos Estados Unidos e, boa pinta, capaz de agradar às adolescentes, chega agora ao Brasil, disputando espaço. A divulgação da Polygram diz: "Al Corley, um apaixonado por carros velozes, garotas bonitas e alma de artista concluiu a universidade em 78 e começou a trabalhar como ator em outubro de 81". Musicalmente, pouco diz, mas o garotão é pretensioso - embora sincero: - "Eu não posso ser comparado a um cantor de ópera, mas, com certeza, como um cantor pop eu sou muito bom." xxx A telenovela já chegou ao fim, mas a trilha internacional de "Ti Ti Ti", lançamento da Sigla ainda vende bem. Um monte de grupos e intérpretes novos promovidos nas suas águas - ao lado de gente mais velha - como Gilberto O'Sullivan (lembram-se de "Alone Again, Naturally?") ou da africana Sade ("Hang On To Your Love") , que muitos chamam de cantora bossanova.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
23
19/01/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br