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Aramis

Darcy e a briga dos petebistas

Mesmo chegando nos estúdios do Canal 4 apenas às 23h40min, quando o programa << Sem Censura/Opinião Livre >>, de Cândido Manoel Martins de Oliveira já estava inflamado em suas discussões entre os líderes das diversas correntes do antigo PTB - hoje dividido entre os adeptos (minoritários) da ex-deputada Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio Vargas e do ex-governador Leonel Brizola - a participação do professor Darcy Ribeiro fez com que o ibope (já alto) daquele programa da TV Iguaçu permanecesse até às 2 horas da manhã. Há muito que não se via/ouvia troca de opiniões políticas tão acaloradas na televisão, com o ex-deputado Júlio Rocha Xavier tentando defender as posições do grupo de Ivete Vargas - que ganhou a sigla PTB - contra os argumentos, fortes e firmes, do ex-ministro da Educação e Cultura no governo João Goulart. De certa forma, o debate no programa << Sem Censura/Opinião Livre >> foi mais estimulante do que a própria participação de Darcy Ribeiro na << parceria >>, no Paiol - que de << parceria >> teve muito pouco. Odete Lara, que se diz << ex-atriz >>, em longo e elegante vestido, falou muito pouco, já que a fluência e o raciocínio de Darcy Ribeiro fizeram com que acontecesse uma verdadeira conferência, ao qual o público interrompeu por poucas vezes. Praticamente apenas aplausos às suas palavras, principalmente quando sua críticas foram mais profundas. Já na televisão, Júlio Rocha Xavier, mesmo deixando-se vencerpela emoção e perdendo com isto possibilidades de embrasas melhor seus pontos de vista, investiu furiosamente contra as colocações de Darcy Ribeiro, adepto integral de Brizola e do PDT - a nova sigla que os antigos petebistas adotaram oficialmente. xxx Antropólogo, escritor, professor, primeiro reitor da Universidade de Brasília, ministro da Educação e Cultura e Chefe da Casa Civil do governo João Goulart, a presença de Darcy Ribeiro não foi o suficiente para fazer com que o Paiol ficasse lotado - embora, em proporção a << Parcerias >> interiores, houvesse um público mais numeroso. Inclusive pessoas que normalmente não compareceram aos encontros ali realizados, desta vez estiveram, como o deputado Nelton Friedrich (PMDB-Toledo), que convidou Darcy a comparecer numa reunião da Comissão de Terras, da Assembléia Legislativa - a propósito de suas acusações em relação ao problema das terras de índios apropriadas pelos brancos, Solenemente, Darcy prometeu que atenderá o convite, se o mesmo for feito oficialmente. Uma questão levantada sobre a indústria automobilística, motivo uma longa catilinária a propósito das multinacionais e sua ação no Brasil. Já uma colocação - das mais oportunas -feitas por Hermínio Bello de Carvalho, a propósito do colonialismo cultural e político desenvolvido pelas grandes empresas de comunicação do Brasil, que atendem interesses contrários a nossa cultura, não foi discutida da maneira como mereceria - deixando uma frustração no ar. Darcy Ribeiro preferiu concentrar sua carga nos aspectos políticos, enfatizando suas acusações a ex-deputada Ivete Vargas, num posicionamento que ficaria ainda mais contudente em sua participação no programa de televisão. Quem foi ao Paiol e depois, em casa, acompanhou a << seqüência >> pela televisão, constatou sem dúvida que a divisão entre os << ivetista >> e os << brizolistas >> é maior do que se pode pensar - o que, de certa forma, tranqüiliza a situação. Entre outras revelações, Darcy Ribeiro confirmou que o senador Leite Chaves tentou conciliar os dois grupos, mas não conseguiu. << Afinal os ideais de Getúlio Vargas são os de nosso grupo; os do grupo de Ivete são outros >>, repetiu inúmeras vezes. Enfim, 26 anos após a morte do ex-presidente da República poucas vezes se usou tanto o seu nome - e a sua carta-testamento - como na noite de segunda-feira. FOTO LEGENDA- Darcy Ribeiro; do Paiol ao Canal 4
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
11/06/1980

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