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Aramis

De Elizeth, a cantora maior, a revelação Naire, ouça a boa MPB

E a Música Popular Brasileira continua, Graças a Deus, apesar de tudo! Pegue-se um punhado de novos discos colocados nas lojas, sem preconceito e escute-se o que existe. Desde a grata reaparição da Elizeth Cardoso após quase dois anos de ausência até uma revelação como este cantor chamado Naire, que em boa hora a RGE Discos está apresentando. Junte-se ainda Benito Di Paula e seus sambas paulistas, passando-se, em termos de consumo popular aos chamados discos-sucessos, por uma série de gravações Brazilian Singers, o Sambas Nota 10, Os violinos no Samba, o grupo Samba 6 e para terminar o novo (e excelente) lp instrumental deste músico criativo Osmar Milito. Sim, os senhores! O nosso Samba continua bom. Muito bom. Aos 27 anos, nove de carreira, Benito de Paula repete sempre antes de cantar o seu maior sucesso - "Violão Não se Empresta a Ninguém", que foi este samba que "fez chover em minha horta". Fluminense de Nova Friburgo, lutando por um lugar ao sol no show bussines, Benito tentou muitos caminhos até, na extrema simplicidade, encontrar-se com o melhor samba na noite paulista e transformar-se num dos nomes mais populares das Casas de Samba que hoje dominam a madrugada da Terra da Garoa. Exclusico da "Catedral do Samba", Benito começou a gravar na Copacabana há uns 4 anos, mas só a partir de 1973 se firmou mesmo. Hoje já lança em tournees pelo Estado, embora ainda lhe falte um produtor para um show de melhor gabarito, que justifique apresentações em um circuito universitário - com apresentações em teatros. Ao contrário muitos tem se aproveitado de sua ingenuidade para programaçòes pretenciosas, como a recente tentativa de lança-lo num espetáculo suicida no ginásio do Circuito Militar do Paraná. Há uma diferença entre ouvi-lo no micro-universo da Catedral do Samba, embalado por alguns uisques, para joga-lo às feras num auditório de 3 mil lugares. "Um novo Samba" (Copacabana, COLP 11772) é o novo lp de Benito Di Paula, exclusivamente com composições próprias todas dentro de seu estilo já conhecido de uma simplicidade ingênua, que marca o chamado "samba paulista". Para os puristas falta aquele sentimento tão presente nos sambas de Cartola ou Nelson do Cavaquinho e que tem em Paulinho da Viola o herdeiro maior. Mas Benito pertence a uma outra sociedade/formação, e suas músicas devem ser aceitas deste prisma. Aceitas e compreendidas, Faixas: "Se não For Amor", "Samba do Profeta", "Fui Sambando", "Fui Chegando", Quando Tudo Mudar", "Certeza de Você Voltar", "Que Beleza", "Sandália de Couro", "Depois do Amor", "Agradecimento", "Ela Veio do Lado de Lá" e a já conhecida ( e sucesso) "Retalhos de Cetim". Conheçam Naire.... com atenção! Afinal aconteceu a primeira revelação do ano. Ele se chama Naire, simplesmente, e está chegando num excelente lp da RGE (303.023, março/74), que infelizmente esqueceu de distribuir um press-release para informar quem é o moço, de onde veio, o que pensa. Mas o que afinal não diminui o impacto de sua estréia. Produzido por J. Shapiro, com direção artística de Toninho Paladino e arranjos de Luiz Cláudio Ramos, Naire gravou este seu primeiro disco nos estúdios da CBS, na GB, com a participação de um grupo de bons músicos: Antonio Adolfo, Mamão, Chacal, Chiquinho, Alexandre, Luiz Claudio, Chiquinho do Acordeon, Batô, Laudir, Fernando Leporace, Pascoal e Franklim (flauta). O repertório não poderia ser melhor: Naire abre com uma das músicas que consideramos das melhores de 73 "15 anos", que compôs" em parceria com Paulinho Tapajós e que na Phono - 73 foi defendida por Nara Leão. Uma letra sensível e inteligente, que se apropriou perfeitamente a Nara Leão, que dela nos falou de entusiasmo quando aqui esteve no ano passado. Paulinho Tapajós é aliás o grande amigo e parceiro e de Naire, participando inclusive de duas faixas: "Duas Irmãs" e "Quinze Anos". Juntos fizeram para este lp as faixas "menestral das Cabras" (com um leve toque de Zé Rodrix e seu rock rural), "Um dia Azul de Abril" e, "Bendito Seja", "A Donzela", "Paz de Penedo", "Duas Irmãs" e "Feliz Feliz". Com Tiberio Gaspar, Naire compôs "Companheiro", Chá de Jasmimn" e "Passeio Público". Exclusivamente sua é "A Vida é Agora". E o inspirado "Ave Maria" de Roberto Menescal-Paulinho Tapajós é a única faixa que não teve sua participação como autor. Voz suave, personalíssima, arranjos agradáveis e sobretudo o bom gosto dos arranjos e competência dos músicos escolhidos para acompanhá-lo nas 13 faixas deste lp digno, honesto e sensível. Anotem o nome de NAIRE. Ou melhor: comprem o seu disco. Vale os Cr$ 32,00 que custa. Elizeth, cantora maior Sempre que Elizeth Cardoso poucas vezes teve produtores fonográficos a altura de seu talento. Acima de qualquer discussão, a grande Cantora brasileira que representas para nós o que Ella Fitzgerald é na música norte-americana Elizeth Cardoso foi desperdiçada muitas vezes devido a insensibilidade dos recor men a quem a Copacabana, sua fábrica há mais de 20 anos, tem entregue a responsabilidade de seus álbuns. Ainda na semana passada, jantando com Ricardo Cravo Albim, lembrava que um dos grandes momentos da MPB - e da carreira de Elizeth - foi justamente o imortal show que fez no Municipal, com o Zimbo Trio e Jacob do Bandolim & Época de Ouro, que resultou em 2 lps do MIS-Copacabana indispensáveis em qualquer discografia mínima do que de melhor existe na MPB. E aqueles discos, gravados ao vivo, foi o exemplo de boa produção mérito que ninguém tira de Ricardo, a quem o Museu da Imagem e do Som da Guanabara deve sua consolidação e que tanto tem feito pela nossa música popular. Pois bem, para os paranaenses, um orgulho muito especial: o bom Adelson Alves, moço até 1964 trabalhava nas rádios da cidade, vindo do Norte do Estado e que em 10 anos de sofrido trabalho na GB adquiriu reputação de um dos mais importantes produtores fonográficos e honesto disc-jockey (Rádio Globo, horário da madrugada), acaba de produzir o último lp de Elizeth. E se não nos atrevemos a dizer que seja o melhor da Divina é porque sempre aguardamos o próximo. E este disco estava demorando. Há dois anos que Elizeth não gravava nenhum lp e sua última presença fonográfica em compacto foi lamentável: a medíocre "Eu Bebo Sim", que os seus fãs entre os quais nos incluimos demorarão a lhe perdoar. Adelson, convidado por Elizeth para produzir seu disco, demonstrou toda a sua sensibilidade anteriormente comprovada em múltiplos lps, entre os quais o de sua noiva, a cantora Clara Nunes, selecionando um repertório que permite a Elizeth mostrar todas suas potencialidades: a ternura dramática da obra-prima "Quando eu me chamar Saudade" (Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito) ao extraordinário "Tatuagem"(Chico Buarque/Rui Guerra), passando pelos sambas mais descontraídos, como "Palavra de Rei" (Paulo Valdez/João da Pecadora) e "Pra Que Afinal? (Mauro Duarte/Adelson Carvalho). Elizeth consegue dar uma dimensão totalmente nova a músicas já conhecidas como "Violão Vadio" (Baden/Paulo Cesar Pinheiro) ou aos mais recentes como "Vai Ser Tão Fácil" (Ivor Lancelotti), "Justiça" (Eduardo Gudin/Paulo Cesar Pinheiro), "Sereneu" (Délcio Carvalho) e a grande revelação do lp - para nós já pintando entre as 10 melhores do ano: "Símbolo de Paz". Que vale como uma reconciliação com Paulo Diniz (em parceria com Roberto José), que realmente está em uma nova e brilhante fase, criando samba de raríssima inspiração e com uma frase que poderia entrar naquela nossa pesquisa dos "mais belos versos da MPB": - Na manhã em que você chegar Eu quero morrer de amor. Também Ivor Lancellotti em "Vai Ser Tão Fácil", oferece uma pérola de poesia: Vai ser tão fácil esquecer você Vou esquecer de mim. O título do disco explicado na contracapa por adelson justifica também o samba exaltação "Mulata Maior A Divina" que nasceu do entusiasmo de Zeca Melodia, Pedro Paulo e Joãozinho. Empolgação na abertura da face B, com a participação especial de Carlão Elegante e a ausência, compreensível, de Elizeth. Com arranjos dos maestros Nelsinho e Carlos Monteiro de Sousa, este lp mostra que Elizeth é a Cantora maior da música brasileira, agora e por muito e muito tempo. E que dizendo os versos de Nelson Cavaquinho, faz todos os brasileiros sentirem vergonha de não poderem fazer mais pelos extraordinários poetas esquecidos - como o autor de "A Flor e o Espinho". Sei que amanhã quando eu morrer Os meus amigos vão dizer Que eu tinha bom coração Outros até hão de chorar Me dê as flores em vida O carinho, a mão amiga Para aliviar meus áis Depois, que eu me chmaar saudade Não preciso de vaidade Quero preces e nada mais....
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
05/05/1974

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