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Aramis

Debates sobre relações do cinema e a televisão

Os debates sobre a questão do cinema e suas relações com o vídeo - em termos de produção e comercialização - e exibição na televisão, programados para mesas-redondas nos dias 12 e 13, aqui em Brasília representarão, de certa forma, um segundo tempo nas discussões que movimentaram paralelamente o último festival de Gramado. Como acentuou naquele festival a jornalista Susana Schild, do "Jornal do Brasil", que aqui agora participa do júri oficial aglutinando diretores, produtores, distribuidores, representantes de laboratórios e estúdios em torno de uma nova realidade para o cinema órfão da Embrafilme e de outras medidas protecionistas e obrigado a mergulhar de cabeça em economia de livre mercado, a questão do casamento do cinema e a televisão mostra uma nova realidade nestes anos 90 - muito diferente da época das gordas subvenções e financiamentos oficiais dos anos 70. Exemplos mostrando que a televisão pode ser uma aliada - e não uma inimiga - do cinema não faltam: a RAI italiana produz filmes de Federico Fellini e muitos outros cineastas importantes: na Inglaterra, a Chanel 4 foi responsável pelo reerguimento do cinema britânico - valorizando talentos como de Peter Greenaway "O Cozinheiro, o ladrão, sua mulher e seu amante" - a TV sueca investe em Bergman e na Espanha a programação é intensa, inclusive com co-produções internacionais - algumas previstas para o Brasil ("Herzog", o filme que João Batista de Andrade tenta fazer há 5 anos; "A Outra Margem", de Nelson Pereira dos Santos, também projeto adiado) que só não aconteceram mais por culpa nossa do que pelos sócios internacionais. Embora por Júlio Bressane - aqui premiado no ano passado como melhor diretor por "Os Sermões - possa oferecer um bom depoimento sobre a experiência de seu filme ter sido lançado, logo após competir no Festival em cadeia nacional (Bandeirantes) represente uma boa contribuição as colocações que críticos (e programadores de filmes na TV) como Wilson Cunha (produtor de "Cinemania"), Paulo Perdigão e Rubens Ewald farão, é uma pena que Cacá Diegues não esteja presente. Afinal, embora seu "Dias Melhores Virão" lhe tenha rendido US$ 100 mil (menos do que a Fucucu vai gastar para trazer a discutível Mostra Internacional de Cinema a Curitiba) pagos pela Rede Globo - o que lhe permitiu pagar o custo do filme - o mesmo ficou literalmente queimado para o mercado exibidor. Visto em horário nobre, em 12 de abril às vésperas de sua apresentação no Festival de Berlim, onde representou o Brasil - e já lançado em vídeo - nenhum exibidor quer agora programá-lo no circuito comercial - a até a Fucucu vem adiando seu lançamento no Ritz - embora cartazes prometem sua "próxima estréia". Em entrevista ao "JB", Diegues reconheceu que não foi uma boa estratégia. - "Hoje não faria de novo. Reconheço que o melhor caminho para um filme é ser exibido primeiro no cinema, depois em vídeo, e finalmente na TV, um percurso econômica e culturalmente mais viável".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
10/10/1990

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