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Denise, agora a temporada em SP

Denise Stocklos sempre teve lugar cativo em nossos espaços jornalísticos. Desde que pela primeira vez foi notícia, quando, recém chegada de Irati, apresentou com um grupo de colegas, a sua primeira peça ("Círculo na Lua, Lama na Rua") no antigo Teatro de Bolso, sempre justificou destaque e hoje, nome internacional, é, como diz Marília Martins, na revista "Isto É" que está nas bancas, "um cobiçado produto na rarefeita pauta de exportações artísticas brasileiras". Como nem todos são leitores de "Isto É", justifica-se, portanto, que se transcreva alguns trechos da matéria de três páginas que Denise ganhou da influente publicação, a propósito da estréia de "Mary Stuart", da italiana Dacia Maraini (Teatro de Cultura Artística, São Paulo, desde o dia 20). xxx Marília começa recordando da estréia mundial de "Mary Stuart", na versão one-show-woman que a mímica Denise fez no Teatro La Mamma, em Nova Iorque, em fevereiro último e que iria ocupar por apenas sete noites uma das salas daquele centro da vanguarda nova-iorquina. "Foi quando, no terceiro dia de apresentação, o crítico D. J. Bruckner resolveu arriscar uma visita ao teatro e, ato seguinte, publicar sua opinião nas páginas do jornal "The New York Times". - "Ela é obsessiva, divertida, surpreendente - vence desafios de forma brilhante", analisou. Bastou para que, a cada noite, os 150 lugares passassem a ser disputados por uma pequena multidão, multiplicando por quatro o prazo da temporada. "Passei, da noite para o dia, do pânico mais completo a uma alegria incontrolável", relembra Denise. A esta resenha seguiram-se outras, igualmente elogiosas, em publicações prestigiosas como o "Daily News" e o "Village Voice". E ao inesperado sucesso nova-iorquino seguiram-se outras temporadas, igualmente concorridas: Havana, Freiburg (Alemanha), Paris. Por uma única noite, há alguns meses, Denise apresentou no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto o espetáculo que agora os paulistas estão aplaudindo. Quem viu, aplaudiu um dos mais sérios trabalhos cênicos já montados neste País - com Denise mostrando toda sua criatividade e expressão de atriz, diretora e mesmo co-autora - já que do texto original da italiana Dacia Maraini - ela fez cortes, acrescentou falas e, sobretudo, atualizou - com imagens e, especialmente, músicas, a rivalidade entre Elisabeth I, a onipotente rainha da Inglaterra nas primeiras décadas do século XVI, e sua prima, Mary Stuart, herdeira legítima da coroa, destronada e condenada a morte na disputa pelo poder. "Mais do que um manifesto político, no entanto, o espetáculo é uma exibição do virtuosismo cênico desta atriz que apenas no ano passado, depois de quase 20 anos de carreira, conseguiu seu primeiro prêmio Mambembe", diz Marília Martins, que buscou também opiniões de pessoas importantes sobre o trabalho de Denise. - "Ela é uma das poucas atrizes brasileiras que imprimem um estilo pessoal, intransferível a tudo o que faz". Um estilo que se calibra, no palco, pela mistura improvável de rigor corporal e forte dramaticidade. Como testemunha outro conhecido diretor paulista, Antunes Filho, que a dirigiu em "Bonitinha mas Ordinária", de Nelson Rodrigues. - "Quando a conheci, ela era uma égua tenaz, havia. Aos poucos aprendeu, com a mímica, a domar seus gestos". Outra opinião muito importante. A de Tônia Carrero, nome maior do teatro brasileiro, comentando o fato de Denise não usar apenas a mímica, mas sim também a fala, uma Denise que, nestes sete anos, foi, lentamente, abandonando a mímica linear, ilusionista, para se apoderar das palavras, e desta mistura de teatro e performance, sua marca atual, sempre em apresentações solo. - "Ela não cabia apenas dentro da mímica", comentou Tônia, acrescentando: - "Ela tem um corpo ambíguo, nem de homem nem de mulher. São pés que seguram o chão e mãos que não acabam mais". Marilena Ansaldi, coreógrafa, atriz e que se aproxima também da mímica, diz sobre Denise: - "O que há de fundamental em seu estilo é esta incansável procura de integrar a cena a sua personalidade e fazer do palco um confessionário". A própria Denise, 37 anos, dois filhos - Thais e Piatã, hoje vivendo numa casa confortável no bairro de Pinheiros, São Paulo, tem tudo para fazer uma carreira internacional. No final do ano volta ao La Mamma, em Nova Iorque, com um projeto audacioso: - "Quero fazer a minha versão do "Hamlet" de Shakespeare". LEGENDA FOTO - Denise: a mímica consagrada
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/08/1987

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