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Aramis

Dias de Gincana

Apesar da gasolina estar a Cr$ 3,61, vários postos da cidade devem ter chegado ontem com os seus estoques quase a zero, pois no último fim de semana mais de 2 mil carros - desde econômicos fuques até beberrões Mustangs alienígenas, fizeram quase 100 mil quilômetros, praticamente sem sair da cidade. No total, mais de 4 mil pessoas estiveram na gincana patrocinada pelo Clube Curitibano, como parte do seu "Festival de Maio". Xxx Independente dos aspectos sociais - cujo registro fica para as colunas especializadas - a gincana teve características bastante curiosas, que fizeram as diferentes equipes ("Kokaka", "Discretamente", "Los", "Cidadela", "Smugs", "Os Bandalhos", etc.) procurarem mais de mul pessoas, fazerem centenas de telefonemas interurbanos, pesquisarem em velhos livros e documentos, as soluções para as intrincadas provas que o engenheiro Marcos Pinheiro Machado, do Badep, é especializado em bolar. Xxx Há mais de 12 anos que Marcos Pinheiro Machado é o coordenador de provas das gincanas curitibanas, conseguindo sempre incluir questões como estas: 1) Traga um Kitazato; 2) traga o produto registrado no Dipoa sob no 3774; 3) consiga 8 revistas "Pato Donald" em idiomas diferentes; 4) qual o verdadeiro nome do poeta cognominado "o poeta da cor e do relevo"; 5) qual o nome do executivo mais bem pago dos EUA no ano de 1975, quanto ganhou em qual companhia trabalhou; 6) qual o número telefônico secreto do gabinete do governador da Bahia; 7) traga um Schwaloff autêntico. Xxx Para ganhar os Cr$31 mul em prêmios - a serem entregues hoje, durante o baile carnavalesco, algumas equipes gastaram quase outro tanto em despesas de gasolina, telefonemas interurbanos, alimentação de mais de 200 pessoas, etc. Por exemplo, para conseguir parte do texto do folheto de cordel "Segunda Queixa de Satanás a Cristo sobre a Corrupção do Mundo", de autoria do poeta pernambucano Vicente Vitorino Melo, o estudante Raphael Valdomiro Greca de Macedo, da Kokaka, fez 10 ligações com Pernambuco e afinal conseguiu que um colecionador de Caruaru lhe ditasse o precioso texto. Outras equipes incomodaram bastante o professor Ivan Cavalcante Proença, primeiro intelectual a fazer uma pesquisa universitária sobre a literatura de cordel. Conseguir um cinzeiro de propaganda da Royal Air Marroc não foi problema para a equipe que tinha em suas fileiras os filhos do empresário [Luís] Gil Caldas (que viaja mensalmente ao Oriente). Mas para outras foi impossível preencher esta exigência. Xxx A entrega das provas também teve lances de suspense: a primeira parte, no sábado, foi entregue "no 22o andar de um edifício da Boca Maldita". A segunda, "por um homem de chapéu de palha", na manhã de domingo, num ponto do Expresso. Para coordenação as diversas equipes montaram verdadeiros quartéis-generais. O da Kokaka, na residência do milionário Antonio Domacoski, tinha 3 telefones, uma fotocopiadorea e uma cozinha que funcionava em tempo integral. E, entre os colaboradores, havia até a presença diplomática do cônsul da Polônia. Xxx No final de domingo, na entrega das provas, aconteceu aquilo que em fevereiro não ocorreu: um legítimo desfile carnavalesco na Avenida Getúlio Vargas, que teve até [seqüência] com corso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
25/05/1976

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