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Dick TRacy embala o marketing de Madonna

Cada ano a indústria do entretenimento tem o seu ponto-clímax. Em 1989 foi Batman. 1990 repete a forma dos heróis dos quadrinhos, substituindo o herói de Bob Kane pelo detetive Dick Tracy criado por Chester Gould. Sexta-feira, 15, no Superstar Theatre, no Parque Disney, em Orlando, Florida, numa festa de arromba, 4 mil convidados - entre os quais 1.500 jornalistas estrangeiros (e vários brasileiros), assistiram ao ponto máximo da super campanha promocional para fazer de Dick Tracy (lançamento nacional em 12 de julho, em Curitiba várias salas do circuito Fama Filmes) a maior renda do ano. Warren Beatty, 53 anos, irmão mais novo de Shirley Beatty MacLaine, que tem dado certo como diretor ("Reds", 1987, por exemplo), é o diretor e intérprete principal desta produção sofisticadíssima, com todos os macetes para encantar audiências de várias idades - desde os mais velhos, que nos anos 40 acompanhavam as aventuras do detetive nas páginas do "Globo Juvenil" até a geração que até agora nunca havia tomado conhecimento do herói. Com toda superprodução, "Dick Tracy", musicalmente, ganha nada menos que três álbuns com sua música: "I'm Breathless", com Madonna - há três semanas nas lojas - é o primeiro dos três que a Warneer lançou. Agora, está saindo "Dick Tracy", com canções ao estilo dos anos 30 - época em que se passam as aventuras do herói, com um elenco diversificadíssimo de intérpretes musicais (K. D. Lange, August Darnel, Jerry Lee Lewis, Erasure e Al Jarreau). O melhor, entretanto, será a trilha instrumental composta por Danny Elfaman, líder do Oingo Boingo, autor das trilhas de "Batman", "Midnight Run" e do novo filme de Tim Burton (o diretor de "Batman"), "Edward Scissorhands". A super-estréia mundial de "Dick Tracy"- simultaneamente em quase todo o mundo, dentro das novas técnicas de marketing da indústria cinematográfica - catipultua [catapultua] ainda mais a carreira de Madonna Luise Veronica Ciccone, 31 anos, americana de Detroit, Michigan. Promoção não falta neste exemplar ícone do selvagem mundo yupie do sucesso a qualquer preço. Em apenas 7 anos, Madonna passou de apenas uma ambiciosa garçonete que chegou a Nova York com US$ 35 dólares a uma superstar que vale US$ 90 milhões. Com apenas três álbuns ("Madonna", julho/83; "True Blue", 1986; "Like a Prayer", 1988), mais as trilhas dos filmes que fez anteriormente (Procura-se Susan Desesperadamente", "Quem é esta Garota/Who's That Girl" e o inédito "Shangai Surprise"), e uma coleção de escândalos - desde as surras que levou de seu ex-marido, o péssimo caráter mas bom ator Sean Penn, dezenas de tumultos amoroso-sexuais-promocionais-religiosos (com o crucifixo e temática de "Like a Prayer", que horrorizou os católicos), Madonna tem num de seus hits, a própria autodefinição de sua carreira o que visa o sucesso, a fortuna a qualquer preço: "Material Girl". Neste final de década, Madonna se projetou de tal maneira que poucos outros artistas ganharam tanto espaço na mídia mundial quanto ela - numa progressão que ao menos neste 1990 parece prosseguir, pois a simultaneidade da estréia de "Dick Tracy" - no qual interpreta a insinuante "Breathless Nohoney", amante do gangster Big Boy Caprice, inimigo do herói - o lançamento de seu novo elepê ("I'm Breathless", WEA), com três faixas da trilha do filme e mais a mega temporada de "Blond Ambition World Tourn", iniciada no Japão, em abril e que após passar pelos EUA e Canadá (onde ocorreram novos escândalos, com Madonna reclamando da presença policial para "conter" seus excessos eróticos no palco) e que terminará na Europa em agosto - e faz a presença artística de maior destaque nos meios de comunicação. Frente a uma avalanche promocional - da qual nem a "Veja" escapou ao lhe dedicar matéria de capa em seu penúltimo número (nº 1134, 1 de julho de 1990), faz com que aos que tentam manter um necessário distanciamento crítico para ouvir algo mais do que o simples produto comercial, desconfiem do que pode alguém tão mecanicamente industrializado em termos de marketing trazer artisticamente. Surpresa! Mesmo que se tenha toda má vontade em relação ao ícone comercial Madonna, é necessário admitir que "I'm Breathless" é, no mínimo, um disco curioso e interessante. De princípio, porque as três canções extraídas da trilha musical de "Dick Tracy" são de autoria de um dos mais competentes compositores americanos, Stephen Sondheim (letrista em "West Side Story", "A Little Night Music", "In the Woods" e tantos outros musicais de sucesso na Broadway). Com o clima dos anos 30, do rag e jazz, "Sooner of Later", "More" e "What Can You Lose", são as faixas que antecipam a música de "Dick Tracy" que chega logo nos dois outros lps. Em "Sooner of Later" há o clima sofisticado, um amplo acompanhamento de metais, mas "What Can You Lose" tem um arranjo simples - com o piano solitário de Bill Scheneider e o duo vocal com Mandy Patinkin. "More", não deixa de ter um toque autobiográfico: a letra fala em ambição, ganância. Cinco outras faixas do lp trazem o novo parceiro de Madonna - Patrick Leonard, com quem dividiu as letras e está nos teclados de "He's a Man", "Hanky Panky" (Uma das letras mais excitantes da coleção), "Cry Baby", "Somethink to Remember" e "Back In Business". A faixa mais dançante é "Vogue", parceria de Madonna e Si Shep Pettibone. "I'm Going Bananas" (Michael Kernan/Andy Paley) e as duas partes de "Now I'm Following You" (Andy Paley/Jeff Lass/Ned Clafin/Jonathan Paley) - tendo inclusive a participação vocal de Warren Beatty (embora a mesma não faça parte da trilha de "Dick Tracy") completam o disco. Produto de marketing, tão planejado para se tornar sucesso disparado como o filme "Dick Tracy", o lp de Madonna não irrita - muito pelo contrário. Além do mais, sua presença - agora loira (ela que camaleonicamente muda seu look com incrível velocidade) é sempre um piteu para os poderosos do show bussiness - e embala sonhos eróticos de milhões de fãs desta sex-symbol dos anos 90.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
25
24/06/1990

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