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Aramis

A digestão de Mendes e a pluma de Corea

A rigor a primeira vista não são muitos os pontos em comum entre o mais recente lp de Sergio Mendes (and Brasil 77) lançado no Brasil ("Vintage 74", Polydor/Phonogram, 3451047) e "Light As a Feather" com Chick Corea e seu conjunto Return To Forever (Polydor/Phonogram, 2310247). Enquanto Mendes, fluminense de Niteroi, 33 anos, 14 de música, egresso da Bossa Nova, é hoje um dos mais prósperos instrumentistas brasileiros, há 8 anos nos Estados Unidos, onde encontrou a fórmula de agrado (fácil) do público americano, Corea - Armando Anthony ("Chick") Corea, também de 33 anos, nascido em Chelsea Massachusetts, só agora começa a aparecer em nosso país como Mendes, Corea começou a trabalhar em 1960 e nestes 14 anos atuou ao lado de instrumentistas como Mongo Santamaria, Willie Bobo, Blue Mitchel e Herbie Mann. Sérgio Mendes, um bom pianista, muito equilibrado em seus arranjos, soube sempre ajustar as suas gravações com o balanço brasileiro ao suave encanto de boas vocalistas - algumas delas hoje já em destacadas carreiras como solistas. Isto pode se sentir, novamente nas 10 faixas deste "Vintage 74", luxuosamente produzido por Bones Howe, com uma capa criada pelo pintor paulista Wesley Duke Lee e onde Mendes alterou os arranjos rítmicos com o maestro Bob Alcivar e teve a orquestra com arranjos e regência a cargo de Dave Grusin. Equilibrando o repertório com quatro músicas brasileiras - "Águas de Março" e "Double Rainbow" de Antonio Carlos Jobim (esta segunda em parceria com Gene Lee), "Você Abusou" (Antonio Carlos/Jocafi) e "Marinheiro Só" - apresentado como "Original arrangement by Sergio Mendes", sem citar o nome de Caetano Velloso, para conhecidos sucessos de Stevie Wonder ("Dont't You Worry'Bout a Thing", "Superstition", e "If You Really Love Me"), Leon Russel ("The Masquerade"), Randy McNeill ("Waiting For Loves") e a pouco conhecida dupla Dennis Lambert-Brian Potter ("Funny You Shoul Say That"), este disco de Mendes é como seus últimos trabalhos. Agradável, digestivo - como refeição farta - como numa espécie de autocrítica da produção, mostrada na colorida foto interior do álbum. Frutas, bebidas e boas companhias, ao lado de belas mulheres, com muita música. E que não provoca desarranjos intestinais... Em compensação "Light As A Feather", auspiciosa presença do grupo Chick Corea tem a leveza de uma pluma e a beleza daquilo que Sergio Mendes pretendia fazer quando ainda não havia sido consumido pelo esquema industrial. Brilhante pianista inspirado compositor - como mostra em 5 das seis faixas do lp "You're Everything", "Captain Marvel", "500 Miles Hig", "Children's Song" e "Spain", Corea teve a ampara-lo neste lp produzido em 1972, o belíssimo vocal de Flora Purim, a brasileira esposa de Airto Guimorvan Moreira, que também participa da gravação no setor de percussão. Flora demonstra sua belíssima voz, focalizando as letras de Neville Potter em "You're Everything" e "500 Miles Hig" e sua própria letra para "High As A Feather" (música de Stanley Clarke), que dá título ao lp. Suave, criativo, mostrando todo o talento de um novo pianista-compositor, "Light As A Feather" é realmente um disco leve como pluma e surge neste ano, como um dos melhores do ano. Apesar do atraso com que aparece no Brasil, pois foi gravado em Londres, em outubro de 1972.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
14
01/09/1974

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