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Aramis

Disco do Ano

Carlinhos Vergueiro pertence a uma geração de compositores que ficaram, em sua formação musical entre a Bossa Nova e o Tropicalismo, com os reflexos dos Beatles. Filho de um jornalista e radialista admirável, responsável pela programação da Rádio Eldorado, de São Paulo, ouvindo boa música desde a infância, moço que descobriu a importância das coisas simples - o botequim, os amigos, as serenatas, consolidou se tudo isso num jovem que, aos 25 anos, já tem uma razoável obra, registrada em quatro elepes. De "Brecha" (Continental, 75) a "Pelas Ruas"(Odeon, EMCB 7025. Setembro/77). Carlinhos evoluiu muito, queimou etapas, pode-se dizer. Compositor que quer ser ele mesmo longe de modelos e limites, é antes de tudo um romântico um sentimental na melhor tradição e disto deve se orgulhar. Um jovem que canta o amor que acaba, o amor cansado, o amor esperança, fala da noite, fala da vida. Que chega a gente identificar-se, fica como um amigo de mesa de bar, daqueles a quem a gente chora e encontra toda a vida a esperança. Isso está presente nas músicas de "Pelas Ruas", para nós, um dos grandes elepes deste ano, que se não valesse por nenhuma outra faixa, já ficaria em "Porque Será", inspirada parceria de Carlinhos com Toquinho e Vinícius de Moraes, profunda e bela em sua extrema tristeza do amor que acabou. Por que será Que eu ando triste por te adorar Por que será Que a vida insiste em se mostrar Mais distraída dentro de um bar... Cada uma das músicas de Carlinhos Vergueiro sozinho, ou em parceria com J. Petrolino, sugerem um ambiente, um momento, um estado de espirito. Isso dá um sentido documental, de sentimento, na tradição de um Noel Rosa, de um Geraldo Pereira, de um Lupiscino Rodrigues, antes de tudo cronista do coração e do comportamento em suas épocas. Creio que, em relação aos seus três elepes anteriores, Carlinhos está bem mais liberto, sem preocupação de gêneros, de regras estabelecidas, podendo se dar ao luxo até de partir da estrutura de "flamengo", mas com alma e sentimento paulista. Um disco, enfim, de um jovem compositor (além de ótimo interprete) que traduz, com coração e sinceridade, coração aberto, canta os amores, as tristezas, a solução e o encontro, na noite, nos bares, aos goles de conhaque. Faz bem ouvir Carlinhos Vergueiro e perceber que os boêmios e seresteiros do coração ainda existem. Faixas: "Briguemos", "Valsa", "Conhaque", "Marginais da Manhã", "Galo, O Último cantor", "Porque Será", "Teimosia", "Noção de Batalha", "Em Nomes dos Amantes", "Mormaço", "Ferve na Noite" e "Boa Noite Morte". FOTO LEGENDA- Carlinhos Vergueiro
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
04/12/1977

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