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Aramis

A disputa pelo melhor dos festivais gaúchos

Oficialmente levantados pelo atuante Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, são 30 os festivais de música do Rio Grande do Sul. Considerando-se eventos que não tiveram a continuidade desejada ou se restringem a setores específicos, esse número poderia crescer para quase meia centena. Independente dos números, o fato é que a música, no Rio Grande do Sul, adquiriu uma força intensa, de modo que um mercado cada vez maior se abre para compositores, intérpretes e instrumentistas, e atraia, com toda razão, as gravadoras, para o registro de todos os festivais. Hoje, não ocorre nenhum festival de música no Rio Grande do Sul que não seja acompanhado da imediata edição de um elepê, com as finalistas. Discos que atingem vendagens expressivas, compensando o investimento feito. Tudo começou há 15 anos, com a Califórnia da Canção Nativa, cuja próxima edição ocorrerá entre 11 e 15 de dezembro, com uma estrutura imensa, que poderá chegar ao investimento de Cr$ 800 milhões, já que, a exemplo dos anos anteriores, a população de Uruguaiana, sede do evento, quase duplica, tal o número de visitantes que recebe para esse acontecimento musical. Distante pouco mais de 200 quilômetros de Uruguaiana, o município de Santa Rosa, já na terceira edição do Musicanto, inflaciona a área dos prêmios, oferecendo nada menos do que um Ford Escort, zero quilômetro, ao(s) autor(es) da melhor música, razão pela qual esse festival, idealizado pelo acordeonista e compositor Luís Carlos Borges, estimulou a disputa entre os animadores nativistas. Também em shows, o Musicanto de Santa Rosa botou pra quebrar: no ano passado, levou para uma apresentação no estádio da cidade a cantora Mercedes Sosa, na única apresentação que a intérprete argentina fez, em 1984, no Brasil. Este ano, numa contratação que está provocando polêmicas, o Musicanto pagará Cr$ 230 milhões à paraibana Elba Ramalho. Discute-se a validade do canto da cantora num evento nativista. Mas há também os que a defendem, lembrando a integração necessária do nativismo com outras manifestações culturais brasileiras. Entre os defensores da presença de Elba Ramalho, em Santa Rosa, está o mais conhecido folclorista gaúcho, Neco Fagundes, articulista da "Zero Hora" e produtor do programa nativista "Galpão Criolo", que há 13 anos anima as manhãs de domingo pela TV - RBS. Participando de painel sobre a Valorização dos Regionalismos no Mosaico Cultural Musical Brasileiro, no Chamamento Cultural da Seara, em Carazinho, Neco (Antônio Augusto) Fagundes fez precisas colocações sobre os aspectos regionais da música, afirmando que segundo entende, há mais pontos em comuns entre o gaúcho e o nordestino do que com argentinos e uruguaios, em certos casos de identificação cultural. xxx O fortalecimento do movimento nativista no Rio Grande do Sul, observado, especialmente, a partir da consolidação da Califórnia da Canção, hoje evento de repercussão nacional -, trouxe toda uma grande modificação no comportamento gaúcho, conforme registramos, em série de artigos, há um ano. Hoje, a juventude tem o orgulho de se pilchar com os trajes típicos e assumiu a música regional, a tal ponto que o acordeonista Renato Borghetti, 22 anos foi o primeiro instrumentista brasileiro a ganhar o Disco de Ouro com a venda de mais de 100 mil exemplares do elepê de estréia. O segundo disco de Borghettinho já vendeu 60 mil cópias em apenas 5 semanas e, nas previsões de Dárcio Silva Castro, o homem da Sigla/Som Livre do Sul, "as vendas ainda nem começaram". Mais de 500 elepês de música gaúcha, produzidos nos últimos 10 anos, entre lançamentos de gravadoras nacionais e produções locais (inclusive de pequenas etiquetas como Quero-Quero, Acit e Palo) provam a força dessa música vigorosa, forte e extremamente brasileira, voltada para os valores da terra, para o culto da amizade, para os sentimentos humanos, sem, entretanto, deixar de ser romântica e apaixonada. Acompanhando-se os Festivais Nativistas, registrados em discos, que, no Paraná, chegam, especialmente, às regiões Oeste e Sudoeste (onde é mais forte a presença dos gaúchos e seus descendentes), sente-se a importância desse fenômeno artístico-cultural que se projeta como um dos fatos mais relevantes entre os anos 70/80. E que está apenas começando, tal o entusiasmo que caracteriza os organizadores dos principais acontecimentos nativistas do Rio Grande do Sul. LEGENDA : Passarinho, cantor dos mais premiados nos festivais nativistas, ao lado do compositor Júlio Machado, autor de "Benquerença", vitorioso na Seara de Carazinho.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
15/11/1985

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