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Aramis

Do ideal aos bofetões, um sindicato para nossa arte

A entrega da carta sindical da mais nova entidade de classe do Paraná — Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões , em ato realizado na noite de ontem,na sede da Federação dos Trabalhadores do Comércio, tem um amplo significado para todos que acompanham a nossa vida artística. Representa, antes de tudo, um reconhecimento ao trabalho de muitas pessoas que há anos vem tentando reunir uma classe formada por pessoas que fazem das tripas coração num mercado de trabalho ainda restrito. A Associação Profissional de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Paraná foi fundada em 15 de setembro de 1975 e coube ao seu segundo presidente, o advogado e delegado de polícia Celso Toniolo – ator apenas ocasionalmente, lutar pela estrutura legal da entidade que, na presidência de Aluízio Cherobim transformou-se agora em sindicato. xxx Aloízio e sua esposa Luciana Cherobim representam bem a luta de quem faz teatro no Paraná. Ele cirurgião-dentista, ela professora — fazem teatro há mais de 30 anos no Paraná. E sempre se preocuparam com a desunião da classe. Participaram de inúmeras tentativas para agrupar os profissionais (e semiprofissionais) da área, mas só nos últimos sete anos e que nasceu uma consciência maior advinda especialmente em função da lei que regulamentou a profissão. No passado, várias tentativas foram feitas — e seria justo que fosse lembrado o nome de Fernando Zeni, ator, produtor e diretor, falecido em acidente automobilístico há três anos, que chegou a presidir uma das associações formadas ainda no meio dos anos 70. xxx Divergências e brigas entre artistas e técnicos em espetáculos de diversões existem muito. Ainda na semana passada, dois atores produtores que fazem teatro profissional — José Maria Santos e José Plínio, desentenderam-se nos corredores da Secretaria da Cultura e se engalfinharam quando a discussão ficou mais acalorada. José Maria Santos, 46 anos, mais de 25 de vida teatral, atual presidente da Associação de Teatro do Paraná, é um homem sem papas na língua, lutador por seus direitos. José Plínio abandonou a carreira de advogado para tentar sobreviver apenas de teatro independente dos motivos (que não conhecemos e nem nos interessam) que levaram a troca de sopapos, o fato é representativo do clima de tensão [em] que vivem permanentemente os que tentam sobreviver de sua arte. Aqui em São Paulo ou no Rio, não se trata apenas de pedir (e reclamar) subvenções oficiais, mas, sim, a necessidade de ter consciência de que é preciso maior organização —em todos os níveis para que os espetáculos tenham público e não haja o constante esvaziamento de recursos para companhias e (discutíveis) superstars vindos de fartas “ajudas” que, no final, acabam saindo do bolo que deve, prioritariamente, se destinar aos nossos profissionais. xxx No ano passado, Aluízio Cherobim com a técnica de guerrilheiro cultural afiou suas lanças e foi a luta contra a ambição da astuta Rute Escobar em levar mais de Cr$ 5 milhões para trazer aqui uma discutível parte de seu festival internacional de teatro — que agradou a poucos e não deixou nenhum resultado concreto. Agora, como sindicatos, Cherobim e seus companheiros de diretoria poderão tomar ações mais concretas e positivas — mas para isto é indispensável que os maiores interessados — ou seja, os atores, atrizes, diretores, cenógrafos, iluminadores e demais técnicos — aparem as arestas, lavem suas roupas sujas reservadamente e tenham pontos em comuns, firmes e resolutos para reivindicar publicamente. Só assim, o nosso teatro deixará a indigência e a limitação que o tem caracterizado nos últimos anos — fazendo com que todos se lembrem, com saudade dos bons tempos em que O Teatro de Comédia do Paraná encenava grandes espetáculos com sucesso de público.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
26/01/1982

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