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Aramis

Do passado e de agora, o jazz de melhor qualidade

Mais uma esplêndida fornada do melhor jazz para que ninguém que se interesse pelo gênero deixe de ter oportunidade de conhecer momentos iluminados - passados e recentes. Como sempre, a CBS é quem mantém a liderança - em que pese o belo trabalho que Léo de Barros faz pela Polygram e a diversificada linha de lançamentos da WEA - sem contar o catálogo da Imagem. Acrescente-se as três produções da BMG/Ariola (ex-RCA) - com o histórico "The Bridge", de Sonny Rollins, Charlie Mingus em álbum duplo e o sopro inesquecível de Paul Desmond (1924-1977), em cuidadosas produções supervisionadas pelo curitibano Roberto Mugiatti, um dos jornalistas (e saxofonista amador) que melhor conhece jazz. Charlie Mingus (1922-1979), reconhecido como o maior baixista do jazz moderno, nove anos após a sua morte, pode ser (re)apreciado em três momentos altos de sua carreira. Em "New Tijuana Moods" (BMG/Ariola) temos todo o calor e a vibração de Mingus, quando levado por uma tremenda dor-de-cotovelo, fez uma temporada mexicana, em 1957, produzindo um material tão audacioso que a RCA americana levaria cinco anos para colocar no mercado as propostas sonoras feitas neste álbum desconcertante a quem não se disponha a entender os caminhos do jazz no final da década de 50 - mas já por veredas incríveis com a presença catalisadora da dançarina de flamenco Ysabel Morel, que contribui com gritos e castanholas no flamejante "Ysabel's Table Dance", faixa precursora de toda a moda espanhola no jazz, celebrizada por Miles Davis ("Sketches of Spain", 1959), John Coltrane ("Olé", 1961) e Chick Corea ("Olé", 1972). Já um Charlie Mingus com um repertório mais conhecido - incluindo clássicos como "Goodbye Pork Pie Hat", uma de suas composições mais famosas - o que entre os dias 5 a 12 de maio/1959 gravaria, já na Columbia, o magnífico "Mingus Ah Um" (CBS), de certa forma completado agora por "Shoes of the Fisherman's Wife" (Columbia Jazz Masterpieces, CBS), também com gravações feitas há 29 anos - exceto a longa faixa título, registrada em 23/09/1971. Temas como "Slop" originalmente concebido para um ballet na TV ou uma belíssima revisão de "Mood Indigo" fazem deste um documento histórico. Como se não bastasse a magnífica coleção de 12 fitas em cromo, com o melhor das gravações de Miles Davis entre 1955/62 na CBS - aqui registrada na semana passada, temos mais um precioso disco deste extraordinário pistonista, desta vez dividido com outro gênio do jazz moderno, o saxofonista John Coltrane (1926-1967), reunindo registros que foram feitos no festival de Newport, em 4 de julho de 1958 ("Ah-Leu Cha", "Straight no Chaser", "Fran Dance", "Put your Little Foot Right Out", "Two Bass Hits" e "Bye Bye Blackbird") - com a participação de outros jazzistas notáveis como Bill Evans (piano, 1929-1979), Julian "Cannonbal" Adderley (1928-1975) no sax alto, Paul Chambers (baixo) e Jimmy Cobb (bateria). Em complemento, duas faixas registradas de um encontro havido três anos antes (27/10/55) de Davis e Coltrane, no qual além de Chambers (no baixo) participaram Red Garland (piano) e Philly Joe Jones (bateria): "Little Meloane" e "Budo". Como a discografia de Miles Davis tem sido, generosamente, editada no Brasil, estas sessões representam mais alguns momentos da carreira de um dos gênios do jazz. Charlie Christian (1919-1942), 46 anos após a sua prematura morte, em Nova Iorque, começa finalmente a ter suas gravações aqui editadas, o que permite aquilatar o seu trabalho do precursor do "bebop" no instrumento que, de forma primitiva e pioneira eletrificava - razão do titulo deste "The Genius of the Electric Guitar" (CBS), com gravações no período de 1939/41, quando integrava a orquestra do clarinetista Benny Goodman (1909-1986). São 16 faixas, nas quais pela própria precariedade dos registros, não há possibilidades de um destaque específico da guitarra de Christian - embora a sua força e sonoridade já se faça sentir em momentos antológicos como "Air Mail Special", "Rose Room" e o "Royal Garden Blues". A vinda do violonista francês Stephane Grappelli, 80 anos, na quarta edição do Free Jazz Festival (Rio/SP) no mês passado, estimulou o aparecimento de três gravações: uma fita na série "Walkman Jazz" (Polygram) e seus encontros com os pianistas Hank Jones ("London Meeting", gravado ao vivo em 20/07/1979), Alldisc/Black And Blue / Estudio Eldorado) e Oscar Peterson, registrado em Paris, nos dias 22 e 23 de fevereiro de 1973 (Imagem). Em Londres, o encontro de Grappelli foi com o piano de Jones, mais o baixo de Jimmy Woods e a bateria de Alan Dewson, resultando uma sessão com standards como "These Foolish Things", "Hallelujah", "Yesterday", "September in the Rain" e "I'll Never Be the Same". "Mellow Grapes", tem exuberantes improvisações de Grappelli, "um violinista que é as vezes elegante, sempre com muito swing e o piano sempre afetivo de Jones, embelezando os temas com sua concepção moderna e sempre atual" - conforme destaca o crítico Armando Aflelo na contracapa. Já o encontro de Grappelli com Peterson ocorreu seis anos antes, em Paris, quando o violinista comemorava seus 50 anos de jazz. Peterson reuniu o baixista dinamarquês Niels Henning Oersted Pedersen e o baterista Kenny Clark, inovador de estilo, para as sessões que resultaram em dois elepês (o primeiro já editado pela Imagem há algum tempo) e no qual estão seis temas antológicos - "The Folks who Live on the Hill" (Kern / Hammerstein), "Autumm Leaves" (Prevert / Kosma), "My Heart Stood Still" (Rodgers / Hart), "If I Had You" (Shapiro / Campbell), "I Won't Dance" (Jeronme / Kern) e apenas um tema da parceria Grappelli / Peterson ("Blues for Musidisc"). Outra personalidade jazzística que veio ao Free Jazz, a cantora Diane Schuur, que com "Timeless" ganhou o Grammy no ano passado, teve uma tríplice dose de elepês lançados simultaneamente. Em "Deedles", o produtor Dave Crusin reuniu músicos como Don Grussin, para faixas como "New York State of Mind", "I'll Close my Eyes" e "Can't Stop a Woman in Love", do renovado repertório desta cantora negra cega, para muitos a nova Ella Fitzgerald. Já em "Schuur Thing", além de Getz, temos a presença de Lee Ritenour (guitarra), Carlos Vega, do brasileiro Paulinho Costa (percussão) e até mesmo, em intervenção especial, de José Feliciano - igualmente amparando um repertório de novas canções, valorizadas pela suavidade da voz de Diane, sem dúvida uma cantora com todas as condições para ser a grande Dama do Jazz neste final de década. Duas outras mostras de jazz moderno, contemporâneo, estão em "The and Now" com o saxofonista Groves Washington Jr. (CBS, setembro/88) e o vanguardista trabalho do grupo de Tim Berne ("Sanctified Dreams"), que merecerá posterior registro, mais detalhado. Já de Grover (Bufallo, N.W., 12/12/1943), filho de um sax-tenorista notável e de uma cantora de temas religiosos, temos tido a oportunidade de acompanhar grande parte de sua carreira - seja como "sidemen" de centenas de gravações, como em seus álbuns solos inicialmente na CTI, de Credd Taylor - e que com regularidade aqui chegam. Um sopro criador, suave em certos momentos, agressivo em outros - e que mostra um jovem jazzman em constante processo de evolução.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
10
16/10/1988

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