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Aramis

Do Xerox e da bur(r)ocracia

O xerox trouxe a democratização dos arquivos e bibliotecas, possibilitando que se obtenha, rápida e economicamente, cópias do material necessário às pesquisas. Ao menos teoricamente, pois na prática a questão se complica. Na Biblioteca Pública, por exemplo, a Xerox do Brasil bem poderia montar, como promoção, um aparelho moderno, que permitisse cópias maiores de raras edições ali existentes, especialmente na secção de Documentação Paranaense - que não podem ser xerocadas no equipamento tradicional, sob o risco de terem sua destruição apressada. Mas já deve existir algum modelo mais aperfeiçoado de máquina reprodutora que permita a copiagem de toda uma página de jornal. A Biblioteca, claro, não dispõe de recursos para adquirir tal equipamento (aliás, a sua situação sempre foi de penúria), mas uma negociação com a diretoria da Xerox - cujo presidente, Sr. Gregori, é um entusiasta da cultura poderia trazer uma solução: afinal, haveria melhor espaço para um show-room, do que a própria biblioteca, central e frequentadíssima? Aqui fica a sugestão! xxx A questão do xerox também está incomodando os pesquisadores que procuram o Arquivo Público do Estado - oficialmente Departamento de Arquivo e Microfilmagem, subordinado à Secretaria de Administração, a quem, no dia 22 de maio último, o deputado Rafael Greca de Macedo encaminhou um pedido de informações. O trefego deputado quer saber sobre os gastos a que estão sendo obrigados os pesquisadores que recorrem àquela instituição para "a serviço do progresso da ciência e da pesquisa histórica e de raízes locais e nacionais", reprografar preciosos originais, que facilitem e informem seu trabalho, ilustrem suas teses, e contribuam para o conhecimento da história, da etnografia, da geografia, "enfim do arcabouço cultural da sociedade paranaense." xxx A preocupação do deputado Greca - encaminhado ao advogado e escritor (bissexto) Francisco Brito de Lacerda - que substituiu a Mbá de Ferrante, na direção do Arquivo Público (onde este, permaneceu 30 anos como diretor), tem razão frente a denúncias encaminhadas por pesquisadores que freqüentam aquela repartição, a saber: 1) É verdade que, para se obter, uma cópia xerox de originais no Arquivo, é cobrada a taxa de Cz$ 2,00 por folha? 2) Sabe a direção do Arquivo que esta taxa, por império da burocracia, deve ser recolhida junto ao Banestado, em guias de recolhimento "GRs", em 5 vias, cujo jogo custa Cz$ 7,33? 3) Percebe a Secretaria de Administração que não há economia alguma para o Estado neste procedimento, visto que o jogo de guias, excede, em Cz$ 5,33, o valor de cada "xerox" cobrado? 4) Percebe a direção do Arquivo Público que a burocracia atrapalha a pesquisa, tornando-a exaustiva - uma espécie de gincana além da investigação científica, com direito a filas no posto bancário, e com atraso na finalidade mais criativa daquela instituição? Considerando que Brito de Lacerda, "herdeiro das tradições históricas valorosas" é também "um pesquisador das nossas raízes", talvez aquiesça em interceder, junto ao secretário Mario Pereira, da Administração, para mudar, para melhor, este estado de coisas, Rafael faz algumas sugestões de ordem prática: 1) Estudar a possibilidade de um minúsculo prontuário interno que controle a venda de xerox, dispensando as "GRs" e a peregrinação ao Banco, recolhendo-se depois a "féria" mensal, em bloco, numa só guia ao Banestado. 2) Abolir, "em nome do progresso da ciência, da pesquisa histórica e do Paraná", esta taxa de xerox, incluindo uma cota "x" por pesquisador nas despesas do Arquivo. - "Afinal - raciocina Rafael - o Arquivo deve informar à sociedade, pelo menos aos seus pesquisadores, dos documentos, da história, dos bens culturais ali depositados, e abastacer a produção intelectual da Capital e do Estado."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
05/06/1987

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