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Aramis

Documentários sobre os homens e a esperança

Se na ficção, os filmes desta nova geração de cineastas alemães já entusiasmam, ainda mais significativos são os quatro documentários. "O Índio" (Der Indianer), 1986-87, de Rolf Schubel, é daqueles filmes de "utilidade pública", que se insere numa linha, por sinal, bastante procurada pelo cinema americano: as obras que transmitam esperança e fé a pessoas com doenças graves (*). Leonard Lentz (1930-1987) é um cidadão classe média, casado, que durante suas férias em Pamplona, Espanha, sente um problema na garganta. Ao consultar o médico, a trágica realidade: câncer na laringe. A partir daí, num estilo de câmera objetiva - ou seja, o personagem que narra a ação, ficando na posição do olhar da câmera (**), o documentário por tensos 93 minutos acompanha sua via-crucis, com duas operações, a difícil recuperação, mas terminando com uma mensagem de otimismo e esperança. "Amostras do Solo" (Bodensproben), 1987, de Riki Kalbe, 30', programado para amanhã, é um documentário sobre um estudo arqueológico, acompanhado do longa "Joe Polowski - Um Sonhador Americano", este filme de Wolfgang Pfeifer. Exemplo de como se faz um documentário, este filme de 84 minutos, mostra quem foi o idealismo de Joe Polowski (1925-1985), que em 25 de abril de 1945, estava na frente da patrulha americana que encontrou-se com unidades do Exército russo em Torgau, às margens do Elba. Deste encontro, de russos e americanos - na etapa final da II Guerra Mundial em território alemão - nasceu a disposição de Joe em fazer daquele um dia-símbolo que conscientizasse o mundo da necessidade de maior entendimento entre os homens. Voltando aos EUA, vivendo modestamente - teve vários empregos, o último dos quais foi de motorista de táxi em Chicago - Joe não esmoreceu em seu idealismo, procurando a ONU e, em 1955, liderando um grupo de 9 veteranos que participaram do histórico momento em que foram a Moscou - em pleno auge da guerra fria - para se confraternizarem com os soldados russos que também participaram dos fatos. Reconstruindo a saga de Joe Polowski com fotos, filmes 16mm e depoimentos, Wolfgang Pfeiffer fez um belíssimo filme em memória à coragem, determinação e idealismo dos expedicionários. Coincidentemente, a Legião Paranaense dos Expedicionários - este ano agredida com a mais sórdida ofensa já feita à memória de nossos pracinhas - como vizinha que é do Goethe Institut, deveria ser ativada para uma exibição especial deste documentário emocionante. Finalmente, o último programa da mostra - dia 21, quinta-feira - não poderia ser mais atual: "Sobre o Fim dos Tempos" (Vom Ende der Zeit), entre os dias 14 a 19 de junho de 1983, os cineastas Christian Meissenborn e Michael Wulfes passaram confinados com as famílias Kirner e Jacob num abrigo de 8,5 metros quadrados, construído por DM 270 mil, para protegê-las no caso de uma guerra nuclear. Com câmeras de vídeo, registraram a experiência de duas famílias - cada uma com dois filhos - num isolamento total, como um teste do que seriam obrigados a suportar no caso de um conflito nuclear. Na época da realização deste filme, antes da "Glasnost", a tensão ainda era grande e a "indústria" de construção de abrigos particulares era das mais lucrativas. Embora, hoje, com uma redução da escalada armamentista, um documentário-advertência como "Sobre o Fim dos Tempos" tem a sua maior validade, merecendo posterior reprise, acompanhada de uma mesa-redonda sobre as questões que tão profundamente aborda. Notas (*) Vários filmes com abordagens de doenças e deficiências físicas de pessoas que procuram enfrentá-los têm sido realizados com sucesso. Ainda esta semana, "Uma Segunda Chance" (Regarding Henri, 91, de Mike Nichols), em exibição no Condor até quinta-feira, mostra como um jovem e brilhante advogado (interpretado por Harrinson Ford) atingido por um tiro no cérebro, consegue restabelecer-se para uma vida normal. (**) "A Dama do Lago" (Lady in the Lake), que Robert Montgomery (1904-1981) realizou em 1947, foi o filme precursor na utilização da câmera como olhar do personagem principal. Naquele thriller, o personagem só era visto em uma cena defronte o espelho.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
19/11/1991

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