Documentários sobre os homens e a esperança
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de novembro de 1991
Se na ficção, os filmes desta nova geração de cineastas alemães já entusiasmam, ainda mais significativos são os quatro documentários. "O Índio" (Der Indianer), 1986-87, de Rolf Schubel, é daqueles filmes de "utilidade pública", que se insere numa linha, por sinal, bastante procurada pelo cinema americano: as obras que transmitam esperança e fé a pessoas com doenças graves (*). Leonard Lentz (1930-1987) é um cidadão classe média, casado, que durante suas férias em Pamplona, Espanha, sente um problema na garganta. Ao consultar o médico, a trágica realidade: câncer na laringe. A partir daí, num estilo de câmera objetiva - ou seja, o personagem que narra a ação, ficando na posição do olhar da câmera (**), o documentário por tensos 93 minutos acompanha sua via-crucis, com duas operações, a difícil recuperação, mas terminando com uma mensagem de otimismo e esperança.
"Amostras do Solo" (Bodensproben), 1987, de Riki Kalbe, 30', programado para amanhã, é um documentário sobre um estudo arqueológico, acompanhado do longa "Joe Polowski - Um Sonhador Americano", este filme de Wolfgang Pfeifer. Exemplo de como se faz um documentário, este filme de 84 minutos, mostra quem foi o idealismo de Joe Polowski (1925-1985), que em 25 de abril de 1945, estava na frente da patrulha americana que encontrou-se com unidades do Exército russo em Torgau, às margens do Elba. Deste encontro, de russos e americanos - na etapa final da II Guerra Mundial em território alemão - nasceu a disposição de Joe em fazer daquele um dia-símbolo que conscientizasse o mundo da necessidade de maior entendimento entre os homens. Voltando aos EUA, vivendo modestamente - teve vários empregos, o último dos quais foi de motorista de táxi em Chicago - Joe não esmoreceu em seu idealismo, procurando a ONU e, em 1955, liderando um grupo de 9 veteranos que participaram do histórico momento em que foram a Moscou - em pleno auge da guerra fria - para se confraternizarem com os soldados russos que também participaram dos fatos.
Reconstruindo a saga de Joe Polowski com fotos, filmes 16mm e depoimentos, Wolfgang Pfeiffer fez um belíssimo filme em memória à coragem, determinação e idealismo dos expedicionários. Coincidentemente, a Legião Paranaense dos Expedicionários - este ano agredida com a mais sórdida ofensa já feita à memória de nossos pracinhas - como vizinha que é do Goethe Institut, deveria ser ativada para uma exibição especial deste documentário emocionante.
Finalmente, o último programa da mostra - dia 21, quinta-feira - não poderia ser mais atual: "Sobre o Fim dos Tempos" (Vom Ende der Zeit), entre os dias 14 a 19 de junho de 1983, os cineastas Christian Meissenborn e Michael Wulfes passaram confinados com as famílias Kirner e Jacob num abrigo de 8,5 metros quadrados, construído por DM 270 mil, para protegê-las no caso de uma guerra nuclear. Com câmeras de vídeo, registraram a experiência de duas famílias - cada uma com dois filhos - num isolamento total, como um teste do que seriam obrigados a suportar no caso de um conflito nuclear. Na época da realização deste filme, antes da "Glasnost", a tensão ainda era grande e a "indústria" de construção de abrigos particulares era das mais lucrativas. Embora, hoje, com uma redução da escalada armamentista, um documentário-advertência como "Sobre o Fim dos Tempos" tem a sua maior validade, merecendo posterior reprise, acompanhada de uma mesa-redonda sobre as questões que tão profundamente aborda.
Notas
(*) Vários filmes com abordagens de doenças e deficiências físicas de pessoas que procuram enfrentá-los têm sido realizados com sucesso. Ainda esta semana, "Uma Segunda Chance" (Regarding Henri, 91, de Mike Nichols), em exibição no Condor até quinta-feira, mostra como um jovem e brilhante advogado (interpretado por Harrinson Ford) atingido por um tiro no cérebro, consegue restabelecer-se para uma vida normal.
(**) "A Dama do Lago" (Lady in the Lake), que Robert Montgomery (1904-1981) realizou em 1947, foi o filme precursor na utilização da câmera como olhar do personagem principal. Naquele thriller, o personagem só era visto em uma cena defronte o espelho.
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