Documentos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de julho de 1980
No final de julho, o público curitibano terá oportunidade de assistir no auditório Salvador de Ferrante um dos espetáculos mais elogiados pela critica paulista e carioca: << Na Carrêra do Divino >>, criação coletiva de um grupo de jovens entusiastas por teatro - que se designam << O Pessoal de Victor >>, ligados a Universidade de Campinas. Com coordenação de Carlos Alberto Soffredini, propõe uma experiência das mais válidas - e pela qual temos insistido em nossas colunas: a reavaliação da cultura (m seu sentido antropológico) caipira. Com base especialmente no básico estudo << Os Parceiros do Rio Bonito >>, de Antônio Cândido, mas também empreendendo pesquisas em outras fontes, Soffredini e sua equipe (re)construíram a caminhada de uma família de caboclos, do interior paulista, em sua chegada a terra, fixação de valores e expulsão do espaço. Folclórico, cultural, social e político, << Na Carrêra do Divino >> tem em sua trilha sonora, formada por música folclóricas ou composições do próprio diretor musical do espetáculo. Wanderley Martins e Soffredini, um de seus pontos altos. Assim, foi das mais simpáticas a iniciativa de Osmar Zan, coordenador artístico da RCA em São Paulo, em convidar Nonô Basilio (Alcides Filisbino de Souza. Formiga. MG. 22/11/1922) e Naná (Maria de Lourdes Sousa, Formiga, MG, 19/8/1934), em participarem da produção musical deste disco-documento. Especialmente considerando a pobreza dos discos que registram trilhas sonoras de espetáculos musicais, só isso já faz com que o lançamento com a parte musical de << Na Carrêra do Divino >> adquira especial significado - e justifique que adquira, seja nas lojas, ou diretamente da produção, quando a peça estiver sendo apresentada em Curitiba, no final deste mês. Soffredini explica << Na Carrêra do Divino >> ou << Narração Visionário do Velho Roque Lameu >> como um trabalho sobre a cultura caipira, enfocada em três momentos: no primeiro (<< No Tempo do Paiolão >>) o caipira está em relação equilibrada e com domínio pleno do seu universo, dono de suas lendas, seus mitos, suas superstições, sua ingenuidade, seu << cumpadrio >>, sua terra e sua fome. No segundo momento (<< O Anticristo >>) seu universo é estilhaçado por uma força que ele não domina, não compreende: o capitalismo. Então ele sonha com um tempo novo que nunca virá (o tempo do << Boi Assado >>). Então abandona seu mundo físico, deixando nele a sua cultura e levando consigo apenas seu sonho, à procura de um novo equilíbrio que nunca verá .
A trilha sonora procura acompanhar este clima, seja através das composições de Martins/Soffredini (<< João de Barro >>, << Na Carrêra do Paiolão >>, << Amanhecer >>, << Só Terra >>, << A Origem da Roça >>, << O Machirão da Colheita >>, << Apuros de um Santo Casamento >>, << A Caçada >>, << Na Carreira do Anticristo >>, << Na Carrêra do Boi Assado >>), ou de peças recolhidas do folclore, como a belíssima << Moreninha Se Eu Pedisse >> recuperada por Rossini Tavares de Lima ou << Cuitelinho >>, que Paulo Vanzolini recolheu e Soffredini adaptou. O próprio Nonô, veterano com 30 anos de carreira, reconheceu a expontaneidade dos intérpretes na gravação: Adilson Barros (autor, aliás da música-título do espetáculo), Eliane Giardini, Marcília Rosário, Márceio Tadeu, Maria Elisa Martins, Paulo Betti, Reinaldo Santiago, interpretam com muita garra as canções deste espetáculo dirigido a Curitiba - fazer com que se entenda - e admire - um pouco mais de agora a Curitiba - fazer com que se entenda - e admire - um pouco mais de riqueza do homem no Interior - em seus valores culturais.
FOTO LEGENDA 1- Na Carrêra do Divino Pessoal do Victor
Enviar novo comentário