Login do usuário

Aramis

Doris, a sátira ao universo do macho

Se a francesa Agnes Vardá tem voltado seu olhar cinematográfico para a mulher - tratando-a com uma imensa ternura e entendimento ao longo de uma obra que iniciou há 33 anos (quando realizou o curta "O Saisons") a alemã Doris Dorrie, 27 anos mais jovem (ela completou há pouco seus 35 anos), tem uma maneira diferente de encarar o sexo: para ela, o homem deve ser visto num misto de ingenuidade, objeto sexual, e tratado até com sentido maternal. Uma comédia satírica, cruel em sua forma de analisar as reações de um publicitário ao ser abandonado pela esposa, fez de "Homens" (Manner, 1985), o filme de maior bilheteria européia na temporada 86/87, valendo, inclusive, uma consagração a Doris em termos de convites para trabalhos nos Estados Unidos. Desconhecendo-se seus primeiros filmes ("Mitten ins Herz", 83; "In Innern des Wals", 84; "Paradise", 87), o reencontro, já numa fase americana, "Elas me Querem" (Cine Bristol, 4 sessões, somente até amanhã) proporciona que se tente entender a forma com que Doris Dorrie satiriza a figura do macho urbano, contemporâneo, na busca do sucesso profissional e suas angústias sexuais. Desta vez, Doris calcou seu roteiro numa novela de um dos mais respeitados escritores italianos, Alberto Moravia, associado normalmente a melhor fase do cinema italiano. Só que neste caso, Doris preferiu transpor à cosmopolita Manhattan uma estória com toque picarescos que Moravia havia publicado em 1969 "Io e Lui" ("Eu e Ele", tradução de Joel Silveira, editora Expressão e Cultura, 1971, 363 páginas). A partir de um humor surrealista - seu sexo, cansado da vida monótona que é obrigado a levar, já que o "portador", Bert Uttanzi (Griffin Dunne), é um monógamo arquiteto, decide estimulá-lo em algumas aventuras extra-conjugais. O que não é difícil, pois Bert é uma pessoa simpática, ótima aparência e que passa a ser disputado por várias mulheres. A partir desta idéia absurda, "a voz" (que só Bert escuta) do sexo, levando-o a alterações profundas em seu comportamento - Doris contrai uma "viagem" com um humor que correria o risco de cair na mais pura chanchada, mas que se segura graças aos bons intérpretes (Griffin foi revelado por Martin Scorcese no excelente "Depois das Horas", também uma visão um tanto surrealista na mesma Manhattan), enquanto várias atrizes atraentes dividem-se entre as mulheres de sua vida: Ellen Greene, Kelly Bishop, Carey Lowell, Kara Clover, etc. Embora filmado nos EUA, com elenco americano, Doris não deixou de buscar apoios germânicos: a fotografia é de sua colaboradora habitual, Helge Weindler e a música foi criada por Klaus Dollinger, do grupo Passport. LEGENDA FOTO - Griffin Dunne e Kelly Bishop em "Elas me Querem": uma comédia baseada em romance de Alberto Moravia. No Cine Bristol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
11/07/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br