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Aramis

Drácula volta a atacar (sexta-feira no Guaíra)

Antecipando-se à estréia da adaptação que Ruben Ewald Filho fez da noela de Bram Stocker para a Rede Tupi de Televisão - transpondo para uma pequena cidade brasileira a assustadora (hoje nem tanto) figura do vampiro da Transilvânia, e mesmo ao lançamento de "Nosferatu", refilmagem que Werner Herzog fez há 2 anos do clássico em 1922, estréia no Guaíra, no apropriado horário da meia-noite, na próxima sexta-feira, dia 25, "Drácula", texto de Eddy Antônio Franciosi, direção de Antônio Carlos Kraide, que também está arcando com a produção, num risco grande: em cenários, fgurinos, elenco e adereços, mais de Cr$ 1 milhão nesta primeira grande produção teatral de 1980. Como 1980 será o ano de Drácula - além de "Nosferatu" e da telenovela da Tupi, devem estrear os filmes de John Badham, o mesmo diretor de "Os Embalos de Sábado a Noite", inspirado na peça que há 3 anos lota um teatro da Broadway, e do novato Stan Dragotti, "love at first bite", com o canastrão George Hamilton, a peça de Eddy Franciosi, paranaense de Guarapuava, duas dezenas de textos, quase 20 anos de atividades como jornalista, dramaturgo e diretor de teatro (além de assessor do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná e editor da revista "Indústria"), estréia cercada de grande curiosidade. E antes que alguém acuse Eddy de ter aproveitado um momento em que o personagem criado pelo escritor escocês Bram Stocker (1847 - 1912), cuja primeira edição data de 1897, é bom esclarecer: sua peça está pronta há 4 anos e, a exemplo de muitos outros de seus textos que permanecem inéditos, adormecia na gaveta por uma razão simples : a dificuldade de enfrentar os custos de uma produção alta como esta. Antônio Carlos Kraide, nos últimos anos o mais atuante diretor do teatro paranaense, decidiu pegar o pião-na-unha e mostrar que não tem medo de vampiro: há 2 meses vem ensaiando um excelente elenco - Ariel Coelho (no papel título, veio do Rio, onde começava a ter uma projeção nacional), Lala Schneider, Odelair Rodrigues, Ivone Hoffmann, Sansores França, Emilio Pitta e Luiz Mello. xxx Eddy Franciosi conta quando nasceu o seu Drácula: "Era um sábado de carnaval - lembro bem - o carnaval de 1966, quando vi um morcego desfilando pela Emiliano Perneta. Um morcego meio fajuto, com sua capa de cetim barato e mal-feita, máscaras dessas que se compram nas esquinas, de papel. Mas um morcego. Meio capenga. Mas um morcego e tanto! Foi o bastante para a decisão de aproveitar a velha idéia de escrever uma peça. Velha mesmo, de muitos anos, antes até das primeiras experiências, porque surgida na infância, das estórias fantásticas contadas na casa e nos galpões da fazenda, nos períodos de férias. O morcego, afinal, não era um desconhecido. Existe um tipo comum em vários países, no México, principalmente, que também aparece nos pampas argentinos e gaúchos, que atacam animais e lhe sugam o sangue. Então me diziam ser alguém que fora castigado a se transformar naquilo e que não morreria jamais. Dormia de dia. De noite sugava. Era preciso, pois, dormir com portas e janelas trancadas. E de fato eu os vi, algumas vezes, bater-se contra as vidraças". xxx Eddy continua seu depoimento: "A peça ficou pronta na terça-feira, com todo o horror que sempre tive ao clima carnavalesco. Depois, como de costume, deixei-a "descansar" para analisá-la mais friamente depois. A quarentena que costumo submeter todos os meus trabalhos. Satisfez-me como construção teatral; não, porém, como conteúdo. Apesar de alguma conotação com os dias de hoje (pensei até em consultar Dalton Trevisan para dar-lhe o título de "O Vampiro de Curitiba", posto de lado, a seguir), não era, ainda, o que pretendia. Não se tinha razão de ser apenas mais uma peça sobre "Drácula". Sabia-o por experiência própria quando escrevera "O Julgamento", focalizando a figura de Joana D'Arc. Mais um Drácula assim como mais uma Joana, sem nada lhes acrescentar não se justificavam por si. Estavámos, na época, nos anos mais duros da censura, quando mais se discutiu sobre direitos humanos, quando perseguições eram uma constante, quando os porões estavam cheios. Falava-se muito em não intervenção em assuntos internos de Estados e se intensificava a procura de pessoas desaparecidas. Enfim, um horror: Percebii quehavia conotação até mesmo entre as pessoas nascidas nas aldeias e as que viviam no planalto. Então, dentro desse espírito, vivendo essas coisas que sempre me preocuparam o homem, preocupação constante em todas as minhas peças, o texto foi de novo revisto e ficou pronto e me satisfez. Tentei encená-lo. Impossível, por uma série de razões. Umas justificadas. Outras absurdas. Fosse como fosse, ficou engavetado 4 anos. Forçado a dormir. A peça aparece agora numa oportunidade que julgo excelente, quando ressurge em todo o mundo uma nova "onda draculiana", discutida, inclusive, à luz da ciência. Na Broadway há quatro peças em cartaz, de diferentes autores, e outras com o mesmo tema estão ou foram representadas na Argentina, Itália, Alemanha, México e França, sem contar a Inglaterra, onde, parece, sempre há um espetáculo vampiresco sendo representado. Nem poderia ser de outra forma, pois foi lá que o personagem nasceu da imaginação de Bram Stocker. xxx Poucos personagens têm sido tão explorados como o outrora terrível conde da Transilvânia - hoje um produto de consumo. Consta que mais de 200 filmes já foram realizados tendo como personagem, da série comercial da Hammer, com Christopher Lee no tétrico personagem, a recente refilmagem de "Nosferatu" da versão de 1922, de Murnav, considerado um clássico do expressionismo alemão. Uma breve estatística levantada por Sonia Nolasco Ferreira, correspondente do "Globo", em Nova Iorque, logo após a estréia de "Drácula", com Frank Langella, nos cinemas (em 12 de agosto, também numa sessão da meia-noite) indica que as variações do personagem de Bram Stocker surgiram em 29 romances, 118 contos, centenas de artigos em revistas e jornais, 5 séries de televisão e aproximadamente 200 filmes, atingindo 430 milhões de pessoas em 17 países. xxx A peça de Eddy Franciosi - que permanecerá um mês em cartaz no auditório Salvador de Ferrante - tem um detalhe que, em sua opinião, "parece particularmente importante": todas as peças e filmes (e novelas) produzidas recentemente são versões fiéis da história de Stocker, sem nenhuma inovação (a não ser técnica), sem que seus autores lhes tenham acrescentado algo de novo, ao passo que a minha utiliza tão somente o tema. Mesmo assim dei-lhe um novo tratamento, nova linguagem e um conteúdo social-político-filosófico que a distingue das demais, inclusive pela sua conotação atual. Outro detalhe: minha peça se antecipa a todas as recentes encenações, pois que a primeira estréia na Broadway só ocorreu em meados de 1977. Resta contudo a alegria de ser a primeira encenada no brasil, pois quero crer que, doravante, novas versões surgirão. Por isso essa estréia de "Drácula" em Curitiba adquire particular importância". Finalmente, Eddy garante: "o público terá uma surpresa, pois esse Drácula não é exatamente como os demais. Tem, como os outros, dentes enormes e suga o sangue de suas vítimas. O clima também é de horror. Existem teias de aranha, morcegos, corujas, ratos e lobos em profusão. Cemitérios e tempestades. Caixões funerários e cocheiros e coxos. Dentes de alho e crucifixos. Mas, também, um permanente clima de sensualiddae acompanhando a peça de primeiar à última cena, além de um final que, quero crer, não encontra similar em qualuqer outro texto de teatro, noval de televisão ou filme. Poder-se-ia até dizer, talvez, que o Morcego da Transilvânia renasceu no Brasil. Com personalidades e cores próprias". xxx Afora os filmes com Frank Langella e George Hamilton - ambos com estréia prevista para breve no Brasil ("Nosferatu", de Herzog, já lançado no Rio / São Paulo, tem pré-estréia dia 1º, à meia-noite, no Astor e lançamento comercial no dia 7 de fevereiro), há projetos de uma versão de "Entrevista com o Vampiro" baseado no best-seller de Joan Rice (um milhão e meio de exemplares vendidos em 2 anos), direção de Ken Russel ("Mulheres Apaixonadas", "Tommy", "Listzmania", etc.). Imaginem que no papel de Drácula ? John Travolta. Definitivamente, o Vampiro voltou a atacar. Com um marketing aguçado pelos melhores especialistas em criar modismos. LEGENDA : Kraide: Drácula ataca no Guaíra, à meia-noite.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
6
23/01/1980

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