Login do usuário

Aramis

Ecologia nas páginas ilustradas do álbum

Programado originalmente como um ambicioso livro-de-arte com a consultoria da Salamandra, uma das editoras mais competentes na área de projetos especiais, "O Livro do Matte", patrocinado pela Leão Júnior, ainda com os incentivos da lei 7505/86, teve que se adequar a realidade e assim saiu em edição miniaturizada - (12 x 21 centímetros, 92 páginas), mas o que não diminuiu sua qualidade. Um texto saboroso e didático da jornalista Teresa Urban, que trabalhou meses na pesquisa, com bonitas ilustrações de época que valorizaram este trabalho que teve coordenação editorial de Marcos da Veiga Pereira, filho de Geraldo Jordão Pereira e neto do editor José Olympio - portanto com uma tradição de bons trabalhos editoriais. Outro lançamento especial supervisionado pela Salamandra foi o livro "Árvores Nativas do Brasil", uma coletânea de fotos de 63 espécies nativas reunidas pela paisagista Cecília Beatriz da Veiga Soares e patrocinada pela Refinaria de Manguinhos. Uma edição de 2.500 exemplares, mil dos quais para distribuição entre os clientes da empresa. O poeta Thiago de Mello, que vem vindo a Curitiba regularmente - inclusive em projetos desenvolvidos com o publicitário Eloy Zanetti, diretor de comunicação do grupo Boticário - é o autor do belíssimo "O Povo Sabe o que Diz - Pequena Antologia da Sabedoria Popular Brasileira". Patrocinado pela Consultoria Andrade Gutierrez, o projeto editorial da Sver & Boccato, reuniu num belíssimo livro de 22 x 26 centímetros, 112 páginas e um cassete com Thiago de Mello e o jornalista Armando Nogueira, declamando adágios escolhidos pelo poeta de "Faz Escuro mas eu Canto". A parte musical ficou a cargo de Manduka (Alexandre Manoel Thiago de Mello), filho do poeta, com arranjos para flautas de Mauro Rodrigues, em gravações feitas no Estúdio Bemol, em Belo Horizonte. Manduka foi também o autor das ilustrações sobre os textos criados por seu pai. xxx Embora não tenham chegado às nossas mãos, outros projetos culturais que merecem ser registrados: o Banco Nacional, que em 1989 havia editado "Frente e Verso" de Drummond, este ano investiu US$ 70 mil em fitas de vídeo sobre as carreiras do compositor Chico Buarque e do piloto Ayrton Senna, bicampeão de Fórmula 1. A empreiteira Carioca de Engenharia, que anteriormente havia patrocinado projetos de livros sobre Caymmi e Vinícius, coordenados pelo pesquisador Jairo Severiano, este ano patrocinou 2.500 serigrafias de Carlos Martins - inspiradas nas palmeiras imperiais do Jardim Botânico - para distribuir aos seus privilegiados clientes. A Shell patrocinou "Fauna e Flora do Brasil", reunindo pinturas de animais e flores do Pantanal, dos alagadiços do Rio São Francisco e do Parque Nacional de Itatiaia. O Banco Holandês Unido patrocinou "Albert Eckhout - A Presença da Holanda no Brasil", no qual reuniu desenhos e pinturas que Franz Post e Eckhout fizeram sobre o índio e o negro no Brasil. Estes dois artistas holandeses vieram com Nassau ao Brasil no século XVII encarregados de fazer pinturas para decorar seu palácio em Haia. A João Fortes Engenharia, que tem uma tradição de patrocinar livros documentais no Rio de Janeiro, possibilitou que "A Praça Mauá na Memória do Rio de Janeiro" ganhasse uma fina edição. A ecologia também teve outro trabalho belíssimo: "Borboletas", um volume de 127 páginas patrocinado pelo Banco Chase Manhattan do Brasil, no qual desfilam 70 da mais raras, exóticas e coloridas espécies de borboletas de nosso país - muitas delas ameaçadas de extinção - apresentadas de um modo absolutamente inédito: foram fotografadas no seu habitat para que o leitor receba uma informação visual mais precisa sobre o seu ciclo de vida. Pelos cuidados que exigiu, o livro consumiu nada menos que quatro anos para ser realizado. "Em vez de fotografar borboletas em caixas de museus, como se faz normalmente, nós fizemos um trabalho de campo por todos os cantos do país", diz o entomologista Luiz Soledade Otero, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e dono de um vasto currículo que inclui o título de doutor em Ciências pela Universidade de Paris. Foi o responsável pelas pesquisas, texto e consultoria científica do livro. As fotos são de Luiz Cláudio Marigo, 40 anos, que conseguiu retratar com fidelidade os difíceis momentos que enfrentou para captar as imagens das borboletas de várias espécies, pesquisadas em seus habitat em várias partes do país. Outra obra belíssima que chegou às livrarias no final do ano foi "Xingu - Seu Território Tribal" (Cultura Editores Associados, 200 páginas), reunindo fotos de Maureen Basillat e texto dos sertanistas Orlando e Cláudio Villas-Boas. Como diz a editora Miriam Paglia Costa, "trata-se de um dos mais extraordinários registros já realizados sobre a vida dos índios brasileiros, tendo custado quase uma década de trabalho da fotógrafa Maureen Basillat, em viagens ao Parque Indígena do Xingu e reunindo a experiência de toda uma vida dedicada ao conhecimento e à defesa do índio pelos sertanistas Villas-Boas - já indicados duas vezes ao Nobel da Paz". "Xingu - Seu Território Tribal" foi lançado originalmente em 1979, em seis países (Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Suécia e Brasil). Agora, após um reconhecimento mundial, tem uma nova edição - com sabor de novidade - no Brasil. Provas de que apesar dos tempos cinzentos do descolorido panorama cultural ainda há empresários que acreditam em grandes investimentos do espírito e da inteligência.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
05/01/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br