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Eddy, o intelectual que o Paraná perdeu

"Não se pode morrer na metade do quinto ato" (Henryk Ibsen - 1828-1906; "Peer Gynt", ato V) A primeira peça que assisti no auditório Salvador de Ferrante foi "Seu Nome Era Joana". Verão de 1958. No palco, a história da donzela de Orleans - num magnífica atuação de uma jovem amadora, Astrid Rudner (por onde andará hoje?) tinha uma luminosidade e vibração ao meu provinciano olhar de quem começava a ver o que era uma montagem teatral. Guardei não só o impacto daquele peça encenada pelo então ativíssimo grupo de teatro mantido pelo Sesi como o nome do autor. Autor, diretor de teatro e, sobretudo jornalista, Eddy Antonio Franciosi, morto em circunstâncias dramáticas na madrugada da última sexta-feira, 14, dedicou mais de 35 dos 60 anos - que completaria em 16 de novembro próximo - ao teatro e jornalismo. Escreveu uma dezena de peças de teatro, dirigiu outras tantas, editou revistas e mesmo jornais, coordenou promoções culturais e foi, sobretudo, uma pessoa digna - e assim merece ser lembrado. Vítima da brutalidade em sua sensibilidade de escritor anos atrás já havia sofrido um atentado pessoal quando permaneceu seqüestrado e torturado num dramático final de semana, por um ladrão sádico. Na época, ao invés de gastar num longo tratamento psicanalítico para superar o trauma daquela experiência sentou-se em frente à sua máquina de escrever e produziu um texto contundente e emocionante - "O Carteiro da Noite" - cuja encenação, com direção e interpretação de Ailton Silva (Caru), só viria autorizar anos depois. Ironicamente numa prova de que a vida repete a arte mas nem sempre com happy end, a brutalidade com que foi assassinado neste último fim de semana faz com que os que o conheceram em seu trabalho profissional, como pessoa educada de sólida cultura - viajando sempre que possível ao Exterior, leitor ávido sobre vários temas, sempre discretíssimo em sua vida pessoal, dele lembrem-se neste aspecto - e não na exploração brutal e chocante das circunstâncias de sua morte violenta. Durante as poucas horas em que seu corpo permaneceu sendo velado na capela da Federação das Indústrias do Estado do Paraná - da qual era assessor de imprensa há 30 anos - os amigos que souberam de sua morte (o sepultamento foi ontem, pela manhã, em Guarapuava) - e entre os primeiros a chegar estavam o secretário René Dotti, da Cultura e o ex-ator Sale Wolokita, presidente da Federação Rádio e TV Educativa do Paraná - recordavam as muitas atividades culturais desenvolvidas por Eddy desde que chegou a Curitiba, ainda na primeira metade dos anos 50. Gaúcho de Guaporé, Eddy veio ainda criança para o Paraná. Seus pais - Ernesto Francisco - falecido em 22 de março último, aos 82 anos - e sua mãe, dona Odila, 78 anos - moraram algum tempo, antes de chegar ao Paraná, em Xaxim, SC, onde nasceram os dois últimos filhos, Beatriz e Ernesto. Estes dois filhos - mais os irmãos Luís, Carlos e Darci - que residem em Guarapuava e Laranjeiras do Sul - deram ao casal Franciosi 14 netos. Único da família a se fixar em Curitiba, Eddy começou como repórter no "Diário do Paraná", passando, mais tarde, para "O Dia". Ali, na redação do "Diário do Paraná" - inaugurado em 31 de março de 1954, integrando a Rede Associada - Eddy participou de uma brilhante geração de jornalistas, de grande presença na vida cultural da provinciana - mas afável - Curitiba dos anos 50 - e na qual, despertando o seu entusiasmo pelo teatro, Eddy se integraria ao Curso de Artes Dramáticas mantido pelo Sesi - Serviço Social da Indústria - e viria a ter uma intensa atuação no sadio movimento amadorístico que se fazia na época. Foi através do grupo do Sesi que surgiram muitos profissionais, entre os quais José Maria Santos, falecido a 4 de janeiro deste ano. Lala Schneider, atriz e colega de Eddy na Federação das Indústrias (antigo Sesi) por mais de 30 anos, em São Paulo, participando da montagem de "Mistérios de Curitiba", tão logo soube da morte do amigo e companheiro apressou-se em viajar, para tentar chegar a tempo de estar em seu sepultamento.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
19/09/1990

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