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Eduardo 2º, o rei gay segundo Derek

Derek Jordan, 50 anos, inglês, homossexual, portador do vírus da Aids, surgiu nos últimos anos como um dos mais inquietos cineastas do chamado Novo Cinema Britânico. "Caravaggio", uma versão livre da vida de amores homossexuais do pintor da Renascença, já antecipava o realizador militante das causas gay, de extremo bom gosto visual, que com obras como "The War Requiem", "Diálogos Angelicais", "The Garden", entre outros filmes cult, passou a ser conhecido no Brasil através da [vida] de suas obras nos extintos no FESTRIO e, mais intensamente na Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. Alguns dos seus títulos obtiveram lançamento no circuito e no vídeo, como é o caso de "Eduardo 2º", e 1991, que foi apresentado na Mostra do ano passado e provocou muito impacto. Baseado num texto considerado maldito de Christopher Marlowe (1564-1593) - autor também do clássico "Doutor Faustus" (filmado por Richard Burton numa de suas raras experiências como diretor,- "Ëduardo 2º" reconstitui o trágico reinado [de] Eduardo 2º, rei da Inglaterra entre 1307/1327. Casado oficialmente com a francesa Isabella, filha de Felipe, o belo, Eduardo amava mesmo Piers Gaveston, a quem encheu de títulos, salvou de inúmeros exílios e por quem sacrificou tudo - até a coroa e a vida. Lançado agora em vídeo pelo Look, este filme destina-se a faixas especiais de público. Amir Labaki, crítico da "Folha de São Paulo", lucidamente observou "A paixão homossexual detonou uma avassaladora cruzada homífica: "Eduardo 2º poderia ser rebatizado [de] " O Militar, o Clérico, o Nobre, sua Esposa e o Amante", caso seu diretor fosse Peter Greenaway e não Derek Jarman. Como em outros filmes - inclusive "Caravaggio" -Derek não se preocupou com a fidelidade histórica: modernizou o texto de Marlowe, ao colocá-lo num cenário simples e atemporal e com um figurino contemporâneo. Como bem escreveu Labaki, a primeira leitura é óbvia: 1300 é igual a 1990 quanto à intolerância frente à "aberração homossexual". Na releitura jarmaniana, Eduardo 2º foi expulso da história inglesa não por ter descuidado dos negócios do Estado, mas sim por tê-lo feito em favor de uma paixão "satânica". Segundo Jarman, "[esta] é a única história de amor do reinado da Inglaterra, ao lado aquela da rainha Vitória e [seu] Alberto". (sic) Em "The Garden" (19910), Jarman já havia exorcizado seus pesadelos de aidético em consumação - o que volta a fazer neste "Eduardo 2º", o exemplo e um cinema distante do modelo dos filmes históricos dos anos 40/50. No elenco, Tilda Swinton foi premiada como melhor atriz no Festival de Veneza e há uma participação especial: Annie Lennox, do duo Eurythmics. O personagem título é interpretado por Seven Waddington, Andrew Tiernan o seu amante Gaveston e Roger Mortimer o ambicioso Nigel Terry, amante de sua rainha. Curiosamente, na primeira despedida de Eduardo e Gaveston, Annie Lennox, embala musicalmente a seqüência com a sua versão para "Every Time We Say Goodbye" extraída do projeto "Red, White and Blue" (disponível em vídeo), que homenageou no não passado o centenário de Cole Porter (1891-1964), o grande compositor americano que também era homossexual. Um filme em que Jarman buscou repetir uma filosofia de outro intelectual gay, o romancista Gore Vidal: sexo á política. Com suas passeatas reprimidas, complôs militarescos e tiranetes a granel, "Eduardo 2º" "deve ser lido como uma fábula contra a forma de tirania". Para [despostas] e brucutus, lembra Jarman, a liberdade é também uma forma de Aides" como escreveu Labaki. FOTO
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Vídeo
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05/04/1992

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