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Einhorn e as músicas que ganharam o Oscar

Mauricio Einhorn, um nome que para o grande público talvez não pareça conhecido. Entretanto, um dos maiores talentos instrumentais em nosso País e também compositor dos mais inspirados. E com o detalhe de ser um dos únicos executantes de um pequeno grande instrumento: a harmônica ou gatinha de bôca. Carioca do dia 29 de maio de 1932, filho de pais austríacos, Mauricio começou a se interessar por harmônica quando ainda era criança. "Exatamente no dia em vi o filme "Sempre no Meu Coração", onde numa cena aparecia uma orquestra de gaitas de boca". Alguns programas de calouros ("A Hora do Pato", "Papel Carbono") foram suficientes para revelar o talento do jovem executante de harmônica, que logo passaria a trabalhar com o excelente Waldyr de Azevedo, um dos bons executantes de cavaquinho no Brasil. E se Einhorn já amava a música brasileira, neste período então sua aproximação com nossas raízes foi ainda mais profunda. Filho de uma família de classe média que, como a maioria, nunca viu a profissão de músico com bons olhos, Mauricio Einhorn até 1971, nunca dedicou-se inteiramente à música, alternando suas apresentações musicais (principalmente as chamadas "canjas", nas madrugadas cariocas) com um duro trabalho, que passou por várias atividades: desde a lapidação de diamantes até o proprietário de uma loja de discos em Copacabana, que fechou, finalmente em 1972. Isso talvez explique porque sua intervenção, embora marcante, tenha hoje apenas sido percebida junto do público mais informado, mais preocupado em saber quem é quem no registro de cada faixa. Em termos de discos, já em 1952, faria sua primeira gravação, mas o 78 rpm passou totalmente desapercebido. Já em 1959, faria um elepê importante ("Nova Geração em Ritmo de Samba"), onde uma jovem cantora chamada Claudete Soares, revelava uma de suas primeiras composições, o conhecido "Sambop". A sensibilidade, o talento e a riqueza harmônica de Einhorn na execução da gaita-de-bôca, fariam com que no movimento da Bossa Nova, seu valor passasse a ser reconhecido e, ao menos nos termos profissionais, devidamente aproveitado. Com diversos parceiros, mas especialmente com o violinista Durval Ferreira, Mauricio faria uma série de músicas marcantes, expressivas - até hoje incluídas entre os melhores momentos da BN: "Estamos Ai" (o grande sucesso de Leny Andrade), "Batida Diferente" (que chegou a ser gravada pelo conjunto de "Cannonball" Adderley (Julian Edwin Adderley, 1928/1975), num disco onde foram ainda incluídos duas outras músicas da dupla: "Samba's Joyce" e "Clouds/Nuvens"), "Tristeza de Nós Dois" (parceria com Bebeto, do Tamba Trio, que a lançou em seu primeiro elepê), "Diza" (parceria com Johnny Alf) e tantas outras. Mauricio , sempre preocupado com a música brasileira, participaria do movimento Musicanossa, surgido entre 67/68, numa tentativa de conter o som iê-iê-iê da época, que não foi adiante de alguns shows no Teatro Santa Rosa e de três elepês espalhados pela Philips, Odeon & Rozenblit. Mas que valeu como símbolo de resistência à destruidora guitarra elétrica. Convocado pelas mais diferentes gravadoras para colocar o som de sua harmônica em mais de 400 registros - dos mais diferentes cantores, raras vezes citado nas fichas de contracapa (também raríssimas em nossa fonografia), Mauricio Einhorn faria, dez anos atrás, um disco histórico: "Tempo Feliz", produção de Roberto Quartin, para a Forma (já distribuída pela Philips), reunindo o violão de Baden e a harmônica de Mauricio, em momentos preciosos e inspirados - especialmente em "Chuva" (Durval Ferreira/Pedro Caetano), sem favor um dos 10 melhores temas BN, cujo solo de harmônica foi tão profundo, com tanto feeling, que até hoje a autoria da música é atribuída a Mauricio. Esta mesma faixa, quatro anos antes já havia sido o ponto-alto do elepê de estréia do conjunto "Os Gatos", formado por Eumir Deodato e Durval, entre os melhores músicos da Guanabara, e que somente reunia-se para gravar, fazendo dois elepês fundamentais na Philips - que há muito já deveriam ter sido reeditados. Em 72, quando finalmente foi conhecer Nova Iorque (dez anos antes, por razões de amor, desistiu, na última hora, de participar do concerto no Carnegie Hall), Einhorn participou de um importante elepê feito por João Donato/Emir Deodato (lançado no Brasil, pela CID, no ano passado), que lhe começava a abrir as portas do sucesso quando, novamente por razões do coração (que tem razões que a própria razão desconhece) voltou ao Brasil. Este ano, finalmente, Einhorn iniciou uma nova experiência: convidado pelo saxofonista Victor Assis Brasil passou a se apresentar em concertos de jazz, como o recentemente (julho/75) realizado no auditório Salvador de Ferrante. Coincidindo com esta abertura de trabalho para o público universitário, Mauricio Einhorn é convidado a fazer um elepê. O maestro Ugo Marotta, que já havia produzido um compacto simples na Top Tap, com Einhorn solando "O Último Tango em Paris" (Barbieri) e "So-So Blues (Einhorn / Marota), o escolheu para solar 14 temas do cinema premiados com o Oscar, num elepê produzido pela Philips. Embora seja um disco comercial, buscando as trilhas da nostalgia - e que não apresenta qualquer informação adicional sobre as músicas (e os filmes) incluídos, para não citar sequer os instrumentistas (excepto Einhorn, cujo nome aparece em mínimas letras na contracapa como "participação especial"), "The Oscar Winners" (Philips 6349136, agosto/75) é um disco importante. Importante por permitir que o público conheça e admire a sensibilidade instrumental de Einhorn, executante de um instrumento tão pouco divulgado (existem pouco mais de 40 gaiteiros-de-bôca em todo o mundo, no Brasil, apenas 4 ou 5 profissionais, e dos quais sem dúvida, Mauricio é o melhor). A seleção das 14 músicas para este "The Oscar Winners" foi arbitrária, sem qualquer participação de Mauricio que, como bom profissional, limitou-se a fazer os seus solos. Perfeitos e magníficos, valorizando, emoldurando, dando personalidade à obras-primas como "The Shadow Of Your Smile " (Johnny Mercer - Mandell), do filme "Adeus às Ilusões" (55, de Minelli), apontada pelo compositor Sammy Cahn (grande amigo de Mauricio), ao receber o disco, nos EUA, como a melhor faixa do álbum. Aliás, do próprio Sammy, foi incluído "Call Me Irresponsible", que em 63, incluída na trilha sonora de "O Estado Interessante de Papai" (Papa's Delicate Condition, de Gene Kelly), lhe valeu também um Oscar, bem como "Three Coins In The Fountain". Todas as faixas, de uma forma geral, estão boas. E melhor ainda os solos de Mauricio: "The Continental" (Herb Magidson/Com Conrad), que em 34, no filme "Alegre Divorciada", foi a primeira canção-tema premiada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood; "The Way You Look Tonight" (Dorothy Fields-Jerome Kern), do filme "Swing Time"; "Over The Rainbow" (E.T. Harburg - Haroldo Arlen), de "O Mágico de Oz" (39, de Victor Fleming); "Lullaby Of Broadway" (Al Dubin - H. Warren), do filme "Caçadoras de Ouro de 1935"; "White Christmas", de Irving Berlin, do filme "Holiday Inn", 1942; "You'll Never Know" (Mack Gordon/Harry Warren), do filme "Hello Frisco, Hello"; "Swinging On A Star" (Johnn Burke - Jimmy Van Heusen), do filme "Going My Way"; "Secret Love" (Paul F. Webster - Sammy Fain), do filme "Ardida Como Pimenta", 53; "Three Coins In The Fountain" ( Sammy Cahn - Jule Styne), do filme "A Fonte dos Desejos"; "Love Is A Many Splendored Thing" (Paul Francis Wbster - Sammy Fain), do filme "Suplício de uma Saudade" (55, de Henry King); "Moon River" (Johnny Mercer - Henry Mancine), do filme "Bonequinha de Luxo" (Breakfast At Tiffany's, 61, de Black Edwards); e, finalmente, "The Shadow Of Your Smile".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
57
24/08/1975

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