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Aramis

Eleições no Santa Mônica

Mais do que as eleições de um clube associativo, de interesse restrito aos seus membros, o pleito marcado para o Santa Mônica Clube de Campo, no próximo dia 14, adquire um sentido político - que extrapola a área. Quando o engenheiro Ivo Arzua Pereira, ex-ministro da Agricultura e ex-prefeito de Curitiba, aceitou, há dois anos, encabeçar a chapa de oposição, significou um protesto pelos desejos de continuismo do então presidente Ari Paiva Siqueira, que, em 1976, numa eleição igualmente histórica, conseguira derrubar Leonel Amaral, campeão internacional de tiro e que desde a morte de Joffre Cabral e Silva (1914-1967) vinha se perpetuando no comando do clube fundado há 18 anos. O advogado Athos Abilhoa, com longa vivência em Londrina e hoje diretor administrativo financeiro de duas empresas com sede em Curitiba, e que participou da atual administração como orador - surgiu como candidato natural a presidência. Homem de muitas idéias, foi lembrado pela facção contrária ao continuismo, como o candidato ideal. Aceitando encabeçar a chapa "Cinco Estrelas" - formada com cuidado, para somar diferentes grupos de associados, Abilhoa se dedica a partir de agora à campanha, mantida em alto nível, mas que, como em toda eleição, terá aspectos políticos bem definidos. Para Abilhoa, é uma disputa natural a presidência de um clube do qual é associado desde sua [fundação]. Ao ler o edital de eleições do Santa Mônica Clube de Campo publicado na imprensa, dia 15 de novembro último, informando que uma das urnas está colocada na Fundação da Unidade Rotária, no Centro Cívico, Athos Abilhoa estranhou tal envolvimento político do clube de serviço. E como antigo rotariano, consultando os estatutos da instituição, estranhou que, pela primeira vez, sede da entidade do clube de serviço, possa vir a ter um engajamento em assuntos vinculados à política. Por isso, no último dia 25, endereçou expediente ao empresário Osvaldo Obroslak, governador do Rotary no Paraná, fazendo duas perguntas - cuja resposta deve ser dada nos próximos dias: 1) existe precedente no âmbito dos Rotarys de Curitiba ou mesmo do Rotary Internacional, de colocação de urna eleitoral no seu recinto, com as inevitáveis implicações de ordem política? 2) Caso não exista, poderá o fato em alusão interpretado como forma indireta de apoio dos rotarys de Curitiba a candidatura do dr. Ivo Arzua à presidência do Santa Mônica Clube de Campo? xxx A plataforma da chapa Cinco Estrelas está colocada de uma forma original: em carta (pessoal e franca) que Athos Abilhoa se dirige aos associados, ele faz perguntas e levanta alguns aspectos que julga discutíveis na atual administração. Especialmente a prioridade dada à construção de obras, para as quais foram utilizados inclusive recursos provenientes da taxa de manutenção, e "o resultado não poderia ter sido outro: o funcionamento do clube, a sua parte dinâmica, praticamente, deixou de existir. O Santa Mônica parece um suntuoso Galaxie, sem gasolina, sem manutenção, sem motorista - parado na garagem". Com a objetividade adquirida em seus anos de repórter, Athos Abilhoa explica a razão que levou a concorrer nas eleições do dia 14: "Foi o resultado da acumulação, nos últimos anos, de inúmeros fatos contrários ao bom funcionamento e progresso do clube. Creio que a gota d'água foi ter tido conhecimento de que um antigo moniquense, pessoa largamente conhecida em nossa cidade, desencantado com a atual situação do clube, vendera o seu título - e pela irrisória quantia de Cr$ 5.000,00. Vale registrar que os títulos do nosso clube são hoje, em Curitiba, os mais desvalorizados - mesmo se comparados com os títulos de clubes infinitamente menores". Atualmente há uma campanha de vendas de 600 títulos - patrimoniais - que não são oriundos de uma nova emissão. São títulos que já pertenceram a outras pessoas que estão sendo revendidos. "Em suma, lembra Abilhoa, os títulos dos ex-sócios que abandonaram o clube". O esvaziamento do Santa Mônica não é um fato isolado. Com mensalidades a Cr$ 500,00 - e que tende a subir face aos altos custos operacionais, o clube vai perdendo seu quadro de associados. Destinado a classe média ao ter sido idealizado, por Joffre Cabral e Silva e Helio Setti, o clube de campo tem também o reflexo da crise do combustível: a distância da cidade, que há alguns anos era uma atração, pelo excelente patrimônio, hoje passou a significar uma despesa a mais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
8
02/12/1980

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