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Aramis

Ella em Londres. J.A.T.P. em Estocolmo (55) e Urbie Green

ELLA IN LONDON (Pablo/Phonogram, 23.10.711, junho/75) - Quando chegou a Londres, nas primeiras semanas de 1974, Ella Fitzgerald usufruía o recomeço de uma carreira seriamente interrompida pela doença. Por alguns anos já, seus olhos haviam dado preocupações e longos interlúdios de inatividade. O princípio dos anos 70, marcou uma época em que os médicos faziam tudo o que podiam para salvar a vista de Ella. Estes problemas fizeram com que em 73 ela cancelasse sua temporada no Brasil - a terceira que aqui faria. Mas já em setembro daquele ano, em Nova Orleans, tive a alegria de ver ouvir Ella, de óculos, em plena forma, num excelente recital num dos mais luxuosos teatros daquela cidade. E cinco meses depois, Ella estreava em Londres ali trabalhando pela primeira vez num clube noturno. Como observa o crítico Benny Green, na gravação deste recital, feita ao vivo, foram registrados gritos, dirigidos por pessoas da platéia, pedindo esta ou aquela canção do repertório de Ella. O segundo efeito que pode ser sentido na audição deste elepe, produção de Norman Granz, é que Ella, encantada com o clima acolhedor daquela noite, quando a carinhosa platéia lhe sugeria soltar os cabelos, "cantou com aquele tipo de fogo que raramente podemos observar, vindo de alguém que se encontra no isolamento de um palco", como registrou Gren, acrescentando: "Por esta razão, a música neste disco comemora um grande momento de verdade para as platéias londrinas, que nunca haviam tido a chance de ver o que Ella é capaz de fazer quando está cercada de uma verdadeira atmosfera de jazz. Neste álbum, o mais recente gravado por Ella, estão clássicos do jazz, mas que parecem estar em primeiro registro, tal o feeling, o entusiasmo a sinceridade da maior Dana da música vocal contemporânea, desde a morte de Billie Holiday (1915-1959): "Sweet Georgia Brown" (Bernie-Pinkard - Casey), "They Can't Take That A Way From Me" (George & Ira Gershwin), "The Man I Love" (George & Ira Gershwin), "It Don't Mean A Thing" (If It Ain't Got That Swing) (Ellington Mills) e Everytime We Say Say Goodbye" (Cole Porter). Mas temos músicas recentes, como "You 'Ve Got a Friend" de Carole King, uma própria composição de Ella ("Happy Blues") ou temas menos familiares ("Lemon Drop", de G. Wallington; "The Very Thought Of You" de R. Noble), todos formando um repertório único, garantindo a este elepe lugar de destaque entre os melhores do ano. J. A T.P. STOCKHOLM 55 (Pablo/Phonogram, 23.10.713, junho/75) - Um dos méritos de Norman Granz, sem dúvida o mais eficiente produtor de jazz americano, foi o movimento "Jazz ato the Philharmonic", que ele próprio descrevia como "uma idéia muito simples": a escolha de um grupo de solistas de jazz, o aluguel de uma sala de concertos e o convite as pessoas para assistir o músico fazendo a sua música". 'Naturalmente diz Norman, era importante escolher os músicos certos e saber quais eram as combinações corretas de músicos; e era mais importante, inclusive, deixar que os músicos fizessem o que quisessem, tocassem solos tão longos quanto lhes ditasse o capricho, improvisassem riffsa, mudassem os temas na última hora e se conduzissem em geral como se o único objetivo do mundo fosse o prazer e a autoexpressão. Em 1955, quando "Jazz at the Philharmonic" chegou a Estocolmo, suas convenções tinham sido estabelecidas, seus precedentes fixados e sua fama atingira escala mundial. Talvez a característica mais notável e também a mais elogiada dos grupos que apareceram sob a bandeira do JAPT, tenha sido a sua natureza heterogênea. Em 1955, a guerra interna do jazz entre antigos e modernos não tinha acabado (como de certa forma ainda hoje não acabou) e, assim, lançar Roy Eldridge e Dizzy Gillespie para o mesmo público, exigia um bocado de coragem moral. J. A T. P. Stockholm" 55, registrado 20 anos passados e só agora editado em elepe por Norman Granz, não deixa de ser um disco histórico dentro da fotografia jazzistica. O título do elepe ("The Exciting Battle", Pablo/Phonogram 23.10.713,junho/75), não poderia ser mais perfeito: realmente é uma batalha extremamente excitante o encontro de gênios como Roy Eldridge (Pittsburgh, 1911, trombone, cantor), Dizzy Gillespie Cheraw, 1917, trompete, maestro, compositor), Bill Harris (Willard Palmer Harris, Philadelphia, 1916, trombone), Flip Philips (Joseph Edward Filippelli, New York, 1915, sax-tenor), Oscar Peterson (Montreal, 1925, piano), Ray Brwn (Pittsburgh, 1926, contrabaixo), Louis Bellson (Rocks Falls, 1924, bateria) e Herb Ellis McKinney, Texas, 1921, guitarra) - todos hoje acima dos cinqüenta anos, então na fase dos 30, criando uma música que ouvida agora, parece tão nova, marcante, como se tivesse sido feita neste momento. Este, creio, me parece o maior mérito desta gravação de Norman Granz: mostrar quanto o jazz pode ser novo, independente da época em que foi produzido. Se alguém tem dúvidas da permanência do jazz, de sua força interior, ouça este elepe fundamental e, tenho certeza, concordará quando Granz afirma que 20 anos atrás, neste concerto em Estocolmo, já se fazia uma música tão jovem, tão quente, enfim, "aquilo que os jovens de hoje não estão encontrando na maior parte do jazz atual, e por isso estão se voltando para o rock ou para o jazz-rock com todos os seus acessórios elétricos. Pena! Está aí, debaixo do nariz deles, na espécie de jazz contida neste álbum, e eles não conseguem ver". No lado I, temos apenas duas faixas, "Little David", uma criação coletiva de todo o grupo, seguida de "Ow" (Green). No lado 2, uma fusão de três clássicos: "The Man I Love", "I'll Never Be The Same" (Malneck / Signorelli / Kahn) e "Skylark" (Carmichael / Mercer) e "My Old Flame" (Johnson / Coslow). Por último, "Birks", outra fusão coletiva do talento dos oito extraordinários músicos que participaram deste inesquecível J. A T.P. Stockholm'55. É difícil não repetir o óbvio: um disco indispensável a quem se interessa pelo que de melhor existe em jazz. E que agora não é mais privilégio dos colecionadores ricos. A edição nacional, de ótima qualidade, ai está à Cr$ 50,00. URBIE GREENU'S BEAUTIFUL BAND (Porjec 3/Copacabana, PJLP 11983, maio/75) a Nostalgia provocada por Glenn Miller (1904-44), nas águas de "Escalada", habilmente comercializada pela Rede Globo de Televisão, através da Sigla, está fazendo com que as diversas gravadoras lancem (ou reeditem) elepes com as chamadas big bands - que marcaram uma fase (muito feliz) da música americana, nos anos 30/40. Nesta linha aparece este elepe do trombonista Urbie Green, nome citado nas antologias de jazz como um criativo instrumentista. Urban Clifford Green, nascido em Mobile, Alabama, a 8 de agosto de 1926, estudou piano e trombone. Inicialmente tocou nas orquestras de Jan Savitt, Tommy Reynolds, Frankie Carle, antes de integrar os grupos de Gene Krupa (1946), Woodie Herman (1950/53) e Benny Goodman, participando inclusive do filme autobiográfico "Música Irresistível de Benny Goodman". A partir de 58 passou a dirigir sua própria orquestra. Da fonografia de Green disponível no Brasil, este "Big Beatiful Band" é um dos discos mais interessantes. O Lado A, abre com uma canção de J. Raposo (um dos autores prediletos de Sinatra), "Sing", em belo arranjo de Dick Hyman, permitindo solos de Marvin Stamm no pistão, Eddie Daniels no sax-tenor, Frank Wess na flauta e naturalmente do próprio Urbie. Em seguida, a sensível "Ana Luiza" de Antonio Carlos Jobim, num arranjo de Claus Ogerman, que com 5:50' é faixa mais longa de todo o lp. "Summertime", clássico de Gershwin, em arranjo de Johnny Carisi, ganha a seguir um belo arranjo de Johnny Carasi. Encerrando o lado A, "Alone Again, Naturally", êxito de Gilberto O'Sullivan, num arranjo de Wayne Andre. No lado 2, abertura é com "St. Louis Blues", de Handy, num arranjo de Johnny Carisi para 5:43', seguido de "A Very Precious Love" de Sammy Fain e Paul Francis Webster, em arranjo de Dick Liebe. Encerrando, "What Have They Done To My Song, Ma?" de M. Safka, em arranjo de Jeff Hest. Um belo disco este "Big Beautiful Band" com Urbie Green.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
43
10/08/1975

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