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Aramis

Em defesa de nosso cinema

O cineasta Sebastião França, assessor especial do secretário René Dotti, aproveita a viagem ao Rio de Janeiro neste final de ano para formalizar com a Fundação do Cinema Brasileiro o aditivo no convênio entre aquela instituição e a Secretaria da Cultura prorrogando em 180 dias o prazo para que os realizadores paranaenses, selecionados para produzirem quatro curtas-metragens possam apresentar seus trabalhos. Conforme denunciamos, a Secretaria da Cultura estava encontrando dificuldades para obter um contato com o presidente-interino da FCB, sr. Homero de Carvalho, o que poderia prejudicar os cineastas que receberam já uma substancial parte do financiamento para seus filmes por parte do governo do Paraná. Dos quatro, apenas Nivaldo Lopes (Palito) fez algumas seqüências do curta-metragem sobre o compositor Lapis (Palmilor Rodrigues Ferreira, 1943-1978). Os outros cineastas, por diferentes motivos, ainda não puderam deslanchar seus projetos. São eles os irmãos Wagner com um filme de animação chamado "A Flor"; Fernanda Montori com "O Mistério da Loira Fantasma" e Fernando Severo com a ficção "Sombras no Fim da Tarde", livremente inspirado em conto do escritor argentino Jorge Luis Borges. xxx O presidente da Associação Brasileira de Documentaristas / Associação Paranaense de Cineastas, após a notícia que aqui publicamos também se posicionou a respeito. E, a propósito nos endereçou a seguinte carta. xxx "Relativo a sua matéria "Desatenção de Homero prejudica Cineastas", a ADB-Acipar, têm a informar que: 1 - O convênio firmado entre a Fundação do Cinema Brasilerio, a Secretaria de Estado da Cultura e realizadores paranaenses (e que teve a ingerência política da ABD-Acipar) é representada, formalmente, no Paraná, pelo Exmo Sr. Secretário de Estado da Cultura ou por proposto por ele designado. No caso da F.C.B., representa o convênio o Exmo Sr. Presidente da entidade ou, igualmente, um proposto. 2 - A presidência da F.C.B. designou a sra. Ana Pessoa (coordenadora de projetos) para gerenciar o referido convênio, tendo a mesma participado de diversas reuniões com representantes da SEEC e realizadores, ocorridos aqui no Paraná. 3 - Ao ler sua matéria, imediatamente entramos em contato com a F.C.B. e tivemos a informação de que a mesma não apenas respondeu, através de telex, a solicitação da SEEC como também, considerando as enormes dificuldades que atingem todo o Cinema Brasileiro, dilata até o mês de julho de 1989 o prazo solicitado pelos realizadores. 4 - Dito isto, a ABD-Acipar entende como resolvidas as questões formais relativas ao convênio e espera que os quatro filmes de curta-metragem em produção, representem um avanço na cinematografia paranaense e obtenham amplo sucesso no circuito do cinema cultural brasileiro." xxx Numa segunda parte - que a rigor nada tem em relação ao comentário que aqui fizemos - o sr. Peter P. W. Lorenzo, na qualidade de presidente da ABD-Acipar, faz outras considerações: "Ao mesmo tempo em que agradecemos sua permanente e decidida atuação em prol da divulgação e do fortalecimento do Cinema Brasileiro e do Paraná em especial, não podemos deixar de lembrar que Homero de Carvalho foi, no Paraná, um dos mais ativos realizadores, somando à sua considerável produção documental, participação técnica competente em várias produções do nosso cinema nos últimos dez anos. Homero possui esmerada formação acadêmica, tendo realizado curso de pós-graduação em cinema na Escola de Comunicação de Artes - ECA, da USP, além de cursos de especialização em montagens cinematográficas, no Brasil e na Alemanha. Sócio-fundador da ABD-PR e da Acipar, dirigiu a entidade na gestão 84/85, sendo também fundador do Conselho Nacional da Associação Brasileira de Documentaristas, Homero é reconhecido nacionalmente como um dos integrantes do melhor quadro do Cinema Cultural Brasileiro. Necessário expressar ainda que a ABD-PR sente-se infinitamente orgulhosa pelo fato de um de seus associados ter sido alçado à direção da Fundação do Cinema Brasileiro, justamente num momento de crise sem igual que assola a atividade cinematográfica e o país como um todo. Temos certeza de que Homero de Carvalho, que ao lado de Afonso Beato estruturou e implantou a F.C.B., agora, mesmo em situação política e econômica adversa, consolidará a Reforma Institucional do Cinema Nacional no que tange à área cultural, dando ao Estado do Paraná o crédito de mais esta colaboração ao Cinema Brasileiro". xxx Sem discutir o direito do presidente da Associação Brasileira de Documentaristas / Associação Paranaense de Cineastas em, apaixonadamente, fazer tão generosos elogios ao sr. Homero de Carvalho, que assumiu a presidência da F.C.B., interinamente, em substituição ao cineasta Afonso Beato - que viajou aos EUA para fotografar o novo filme de Jim McBride - o fato é que o cineasta Sebastião França, realizador de vários curtas e um batalhador há muitos anos pelo cinema cultural, teve dificuldades de obter contato com o mesmo. Tanto é que , irritado, nos colocou a par da situação. Posteriormente, recebeu comunicação da F.C.B. - mas só após a sua reclamação ter merecido acolhida em nossa coluna. Por outro lado, tanto na XVII Jornada do Cinema da Bahia (Salvador, setembro/88) como no XXI Festival do Cinema Brasileiro de Brasília (outubro/88) - na qual aconteceu, paralelamente a reunião nacional das ADBs (e na qual o Paraná esteve ausente, apesar do convite feito ao sr. Lorenzo) ouvimos várias críticas à atuação de Homero na Fundação. Muitos cineastas se queixaram da dificuldade de serem recebidos por Carvalho, sempre alegando estar ocupado em reuniões - ou então ausente da instituição - especialmente após ter substituído a Afonso Beato, este, reconhecidamente, um dirigente bem mais acessível aos seus colegas. Foram afirmações públicas que, na época, não divulgamos justamente para não prejudicar a imagem de Homero de Carvalho, que chegou burocraticamente a uma posição de poder na Fundação Brasileira de Cinema. Nos alegramos de ver que Peter Lorenzo, em nome da Associação dos Cineastas, está preocupado em defender os nossos realizadores - e já que tem tanta admiração por Homero, seu amigo particular, esperamos que capitalize esta oportunidade para obter melhores condições aos nossos realizadores - fazendo com que nosso cinema tenha maiores oportunidades no campo nacional. Afinal, não bastam só as premiações obtidas por Fernando Severo com seu "O Mundo Perdido de Kozak" nos festivais de Gramado, Rio-Cine, Salvador e Brasília. Esperamos que Lorenzo e outros cineastas locais realizem seus filmes e façam por merecer um destaque profissional e nacional - sem ter que depender exclusivamente do paternalismo do Estado. De nossa parte, os espaços que editamos continuam a disposição para divulgar trabalhos de cineastas honestos, talentosos e esforçados que fazem seus trabalhos sem procurarem a autopromoção e o culto a personalidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/12/1988

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