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Aramis

A emoção de Mercedes e a poesia de Neruda

A música argentina continua a ter em Mercedes Sosa sua maior estrela. Enquanto pelo menos meia dúzia de outros grandes talentos daquele país continuam inéditos entre nós - da suave Maria Elena Walsh ao jazz-rock de Charly Garcia - os discos de Mercedes Sosa têm sido, felizmente, lançados quase que simultaneamente na Argentina e Brasil. "Será Posible El Sur?" (Polygram/ Philips) nos traz uma Mercedes Sosa menos amarga do que aquela cantora corajosa e sempre defendendo os direitos humanos que tanto sofreu com a repressão no Cone Sul - perseguida na Argentina e proibida de se apresentar no Brasil e Uruguai por tantos anos. Gravado entre setembro e outubro de 1984, em Buenos Aires, este disco equilibrado e harmonioso continua a ter a grande presença brasileira - aqui representada por um enternecedor "Corazon de Estudiante" (Milton/ Wagner Tiso), "Siembra" (José Fogaça/ Vitor Ramil) e o "Vira, Virou" (Kleiton e Kledir). Wagner, Kleiton e Kledir, inclusive, participaram das gravações. As outras faixas são também das mais belas - desde um fragmento da emocionante valsa "Pequena" até canções novas de Peteco carabajal ("Como Pássaro en Aire") , e "Mi Abuela Bailó la Zampa") ou a canção de Jorge Bocanera/ Carlos Ponciel de Peralta que dá título ao disco. Aos 50 anos, Mercedes Sosa (Tucaman, Norte da Argentina, 9/7/1935) é hoje uma das vozes mais conhecidas no mundo, com uma discografia de extrema dignidade. Neste novo disco, um destaque especial merece "Todavia Cantamos" (Victor Heredia), onde a sua profunda voz alça um vôo solitário, entre dramático e esperançado, com o acompanhamento do percussionista Domingo Cura. xxx Simultaneamente a "Será Posible El Sur?", a Polygram edita outro álbum dos mais interessantes: "Victor Heredia Canta Pablo Neruda". Porteno do bairro de Montserra, reduto de poetas e músicos populares, Heredia concilia em sua obra as influências de poetas argentinos e espanhóis. Assim apareceram em suas composições Armando Tajada Gómez, Atahualpa Yupanqui, José Pedroni e Antônio Machado, Rafael Alberti e Miguel Hernandez, através de temas como "El Viejo Matias", "De Onde Soy" e "Esta Mañana Llueve". Tendo começado como folclorista, Victor Heredia amadureceu artisticamente, aprofundando as idéias, mensagens e formas de expressão. Em 1974, num estúdio de 8 canais, gravou um elepê com base na poesia do chileno Pablo Neruda, que se tornou um clássico. Há dois anos, por sugestão de seu produtor José Luís Ollé, Heredia regravou o disco, com maiores recursos técnicos e um excelente grupo instrumental, resultando um excelente documento musical da poética de Neruda, poeta de tamanha força e comunicação neste século. Para o público que ainda não conhecia Heredia, eis uma auspiciosa apresentação. E aos admiradores de Neruda, um documento indispensável - mostrando a força musical de poemas como "Nina morena Y Agil", "Porque Há Salido El Sol", "Cuando Tenias En Tus Ojos El Sol", "Cuerpo de Mujer" e outros momentos tão significativos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
08/09/1985

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