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Aramis

A enciclopédia dos super-heróis que Goida escreveu

Goida Hiron Cardoso Geidanich, 55 anos, jornalista e publicitário, é um dos homens que mais conhece quadrinhos no Brasil. Tanto quanto o cinema - sobre o que escreve há quase 20 anos, na "Zero Hora", em Porto Alegre, o bom Hiron, membro permanente da comissão organizadora do Festival de Gramado do Cinema Brasileiro; sempre dedicou algumas horas por semana ao mundo dos quadrinhos. Foi ele quem levou ao seu amigo Ivan Pinheiro Machado, dono da LP&M, a idéia de criar uma coleção de álbuns de HQ, com os grandes autores, que se revelou como um dos gêneros mais rentáveis da casa - e que foi imitado por outras editoras no eixo Rio-São Paulo. Há anos que Goida vinha reunindo informações sobre os autores de quadrinhos, numa pesquisa abrangente a todos os países aos quais conseguiu ter acesso desta linguagem que surgida há mais de 100 anos, combatida por pais e educadores durante décadas é hoje cult reconhecida em universidades. Aliás, é bom lembrar que foi um outro gaúcho, Francisco Araújo, professor da Universidade do Vale dos Sinos, que, quando professor-residente na Universidade de Brasília, ali introduziu uma cadeira de HQs, iniciando cursos também de extensão, o primeiro dos quais tivemos a satisfação de promover em Curitiba, em 1971, quando o então atuante Departamento de Relações Públicas e Promoções da Prefeitura desenvolvia um trabalho cultural - base daquilo que resultaria na Fundação Cultural. xxx A dedicação de Goida aos quadrinhos, somada a ajuda e organização de sua filha, Ana Maria, possibilitou que há dois anos pudesse concluir aquilo que é a primeira "Enciclopédia dos Quadrinhos" editada no Brasil (LP&M, 400 páginas) e no qual levantou mais de mil verbetes sobre roteiristas e desenhistas dos comics - num trabalho precioso, comparável apenas a duas ou três obras semelhantes editadas na França e Estados Unidos - mas há muito esgotadas. Como consultor da LP&M na Coleção Quadrinhos, Goida programou recentemente mais dois importantes volumes: "Minhas Mulheres" de Robert Crump e "Zorro" de Alex Toth. Nome mais famoso do chamado underground dos quadrinhos americanos, Crump (Filadélfia, 30 de agosto de 1943) não ficou apenas nas imagens fixas com seus personagens audaciosos, sexualmente avançados para os anos 60 quando começou a produzi-los, mas os levou para o cinema, a começar por "Fritz, the Cat", em parceria com Ralph Bekshi (1972). Fritz - um gato bastante diverso do outro bichano dos quadrinhos, o Félix, é o seu personagem mais conhecido, mas sua obra é extensa e sempre provocativa. "Minhas Mulheres", com todo o humor ácido e liberdade desta década o traz numa edição bem cuidada, com tradução de Magda Lopes ao longo de 80 páginas. Já "Zorro" - personagem que tem duas versões - a do espadachim galante do México dominado pela Espanha no século XIX - e o Lonely Ranger, o herói mascarado do Oeste americano, com desenhos de Ed Kressy e roteiro de Striker com seu amigo Tonto, que também ganhou entre nós o nome de Zorro. Mas as histórias desenhadas por Alex Toth, 63 anos, desenvolvidas a partir de 1956, referem-se ao Zorro original, nascido da imaginação de Johnston McCulley (1882-1958) - e cuja primeira história saiu em 1919, ganhando já, no ano seguinte, uma transposição cinematográfica, "The Mark of Zorro", com Douglas Fairbanks (pai). 20 anos depois seria Tyrone Power que voltaria ao personagem, que em 1957 ganhou uma série produzida por Walt Disney, com 78 episódios para a televisão, sempre com Guy Williams como Zorro. Foi baseado nesta série de TV - inclusive apresentada no Brasil nos anos 60 - que Alex Toth criou os quadrinhos, com notável domínio do preto-e-branco e perfeita dinâmica de narrativa. Neste volume lançado pela LP&M (tradução de William Lagos, 64 páginas) estão quatro aventuras que, como todos os trabalhos produzidos para Disney, nunca creditavam o desenhista original - razão pela qual até agora poucos ligavam o nome de Toth a este personagem popularíssimo ao ponto de ser personagem de inúmeras paródias e anedotário. xxx O mais recente título da coleção Quadrinhos é "Sarvan", um science fiction criado pelos espanhóis Jordi Bernet (Barcelona, 1944) e Antônio Segura (Valência, 1947). A personagem, Sarvan, uma bela mulher do mundo de Words, espera pela chegada de um Deus, que virá dos céus e compartilhará do seu destino, o mundo de Worda. O roteirista Segura idealizou este mundo de Words como algo entre o primitivo, o místico e principalmente o erótico. Um mundo de guerreiros, mulheres sensuais, magos, bruxas, animais fantásticos e as dimensões do irreal. E neste mundo cai Helion, um astronauta derrotado em batalha espacial pelos seus inimigos e seu encontro com Sarvan provoca faíscas nesta narrativa que se inclui entre as modernas HQs européias. Bernet, já teve trabalhos anteriormente editados no Brasil como "Torpedo 1936" e os graphis álbuns "A Bela e a Fera" (Light & Bold) e "Custer", 88 páginas, Cr$ 6.000,00.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
16/01/1992

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