Login do usuário

Aramis

"Entrevista" de Fellini é melhor estréia da semana

Wilson Antunes Filho, o simpático, atencioso e interessado em bom cinema, que gerencia, com amor, o Bristol, recebeu mais de 30 telefonemas desde a última sexta-feira. Eram espectadores indignados pelo fato de "Inimigos - Uma História de Amor", o belíssimo filme de Paul Mazurski, baseado no romance de Isaac Bashevis Singer, ter sido retirado de cartaz. Embora, mais uma vez, a dita "culta platéia curitibana" (que piada!) não tivesse prestigiado este filme ambientado na comunidade judaica nova-iorquina do final dos anos 40, os que assistiram começavam a elogiar, e a propaganda boca a boca iria garantir uma elevação de rendas. Só que a exibidora, preocupada - naturalmente - com o borderaux, o substituiu por "Elas me Querem", comédia da alemã Doris Dorrie, que, pelo visto, teve renda ainda menor. E a partir de hoje, é uma reprise que ali acontece, "O Predador", de John McTiernann, que tem na presença do halterofilista-ator Arnold Schwarneger, a atração maior para o público. Já outros telefonemas tem chegado a vários jornalistas - inclusive este redator - de pessoas que não agüentam mais a programação dos curtas que o setor de cinema (?) da Fucucu impõe goela abaixo dos infelizes espectadores do circuito oficial. Não se trata de inimigos dos curtas, muito pelo contrário: são cinéfilos que apreciam a produção de curtas, defendem a reserva de mercado, mas não tem mais saco para assistir milionésimas reprises como "O Dia em que Dorival Enfrentou a Guarda", premiadíssimo, aliás, mas que pela insistência com que está sendo programado - há seis meses vem se alternando nas salas oficiais - irrita o mais xenófobo fã do cinema brasileiro. Mas se "O Dia..." é ainda um curta de valor, pior são curtas medíocres, alguns apelativos, que também são reprisados ad-nauseun nos Cines Ritz, Luz, Groff e Guarani. Um deles, sobre a crise de uma "coroa" e suas fantasias sexuais, irritou tanto ao advogado, cinéfilo e intelectual Aldo Almeida, Secretário das Finanças do Município, que ele não teve dúvidas: tentou, diplomaticamente, argumentar junto a diretoria da Fucucu da inoportunidade de uma sala oficial reprisar tantas vezes um curta deste nível. Como não encontrou eco para sua justa reclamação - o que, aliás, não surpreende - Aldo não teve dúvidas: reclamou ao próprio prefeito Jaime Lerner. E o nosso alcaide, que aprecia o cinema brasileiro e defende os curtas, também já se mostra irritado. Da forma com que a Fucucu está procedendo, ao invés de ajudar a que o público aprecie os curtas, provoca ódio: só a boa educação dos telespectadores tem evitado que as reprises das reprises de "O Dia em que Dorival Enfrentou a Guarda" que continua no Groff, ou "Queremos as Ondas no Ar", no Luz, no programa de "Meu Pé Esquerdo" - sejam recebidos com vais. O Grande Fellini - Felizmente para completar a sessão de "Entrevista", de Frederico Fellini, no Ritz, a partir de hoje, foi incluído um curta menos desgastado: "Raça na Praça", de Luiz Alberto Pereira. Com relação ao filme de Fellini, que chega com quatro anos de atraso - é uma produção de 1986, premiada no festival de Moscou - é lamentável que inexista em Curitiba qualquer livraria com uma boa secção de livros estrangeiros, pois assim os fellineanos mais fanáticos poderiam ter um complemento literário deste filme: trata-se de "Fellini's Cinecittá", texto de Fellini, que após o lançamento na Itália, teve uma edição em inglês (com tradução de Grahan Fawcett, 184 páginas), pela editora Studio Vista. Este belíssimo livro - vendido no final do ano passado a 25 libras foi uma espécie de grande reportagem-nostalgia que o mais notável dos cineastas italianos fez a propósito dos 50 anos de Cinecittá, inaugurada com foguetório fascista e filmes de Vittorio Mussolini, cineasta e filho do ditador, em 1937. Como escreveu Antônio Gonçalves, a Cinecittá resistiu ao Duce, ao Terceiro Reich, aos "westerns spaghetti" dos anos 60/70, chegando a década de 80 como pólo de produção para produções independentes, como "As Aventuras do Barão Munchausen". Em "Entrevista", Fellini conta, em imagens, sobre o Cinecittá de sua juventude, dos mitos que ali criou - especialmente de Anita Ekberg e Marcelo Mastroianni em "A Doce Vida" (cujos 30 anos também estão sendo lembrados em belíssimo livro publicado há pouco na Itália), num filme que tem uma linguagem jornalística, informal - e com aquele encanto que só o cineasta de "Amarcord" sabe conduzir. Sem dúvida, o melhor lançamento da temporada, "Entrevista" merece ficar várias semanas em cartaz ("Trem Mistério", de Jim Jamurschi, que deveria ter permanecido mais uma semana, saiu ontem de cartaz) para merecer novos comentários. De princípio, aqui fica a dica: um filme imperdível. James B. Harris, 62 anos, foi produtor de alguns dos melhores trabalhos de Stanley Kubrick ("Lolita", "Glória Feita de Sangue") e, ao passar para a direção, com "O Caso Bedford" (The Bedford Incident), com Richard Widmark e Sidney Potier, em 1965, revelou gosto pela polêmica, com temas sérios. Infelizmente, sua (pequena) filmografia continua desconhecida no Brasil - "Some Call It Loving" (73) e "Fast Walking" (82), o que torna este "Um Policial Acima da Lei" (Cops ou Blood on the Moon), realizado há dois anos, um filme que merece verificação. Distribuído pela Alvorada (o que significa o seu lançamento simultâneo em vídeo), o argumento parece simples: o detetive Hopkins (James Woods) torna-se obssecado em solucionar uma série de assassinatos de mulheres em Los Angeles, o que o leva a ser abandona por sua esposa, suspenso pela polícia, perder seu melhor amigo e, naturalmente, se expor a grande perigo. Trabalhando seu próprio roteiro, com música de Michel Colombier e tendo no elenco além do Woods, também Lesley Ann Waren, Charles Durning e Charles Haid. Em exibição no Astor a partir de hoje. Outras Opções - "A Insustentável Leveza do Ser", de Philip Kavffman (Cinema I) e "Meu Pé Esquerdo", de Jim Sheridan (Cine Ritz), é uma dupla oportunidade de rever interpretações totalmente diferentes de um dos atores mais notáveis revelados nos últimos anos: o inglês Daniel Day Lewis. Como médico sedutor do romance de Dandera ou o trágico tetraplégico irlandês que se transforma num escritor e pintor, Lewis dá shows de interpretações. "O Urso", de Jean Claude Annaud ("A Guerra do Fogo"), no Guarani. Para as crianças, "Lua de Cristal" de Tizuka Yamasaki, com Xuxa e Sérgio Malandro (Plaza, São João), "Uma Escola Atrapalhada" (Lido II e São João) continuam em exibição. Já "Olha quem Está Falando", comédia americana que vem batendo records de público em várias partes do mundo, ganha mais pré-estréia no Plaza, amanhã as 22 horas. Já no Astor, às 22h, pré-estréia de "Uma Linda Mulher", com Julia Roberts - realmente uma lindíssima atriz, revelação de "Flores de Aço", que lhe valeu uma indicação ao Oscar de melhor coadjuvante. Por último, uma recomendação: "Os Rejeitados", de Agnes Vardá, continua no Groff. Merece ser visto. LEGENDA FOTO 1 - James Woods em "Um Policial acima da Lei": um thrilling a ser verificado no Condor. LEGENDA FOTO 2 - Duas atrizes excelentes, de gerações diferentes, valorizam "Os Rejeitados", belo filme de Agnes Vardá no Cine Groff: a velhinha Madame Lydia (Marthe Jarnias) e a rebelde Mona (Sandrine Bonnaire).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
13/07/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br