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Aramis

A época de ouro dos sambas e marchinhas

Uma forma agradável, alegre e digestiva de se ter uma visão musical do comportamento do brasileiro, especialmente do carioca, entre 1900/1976 seria a de se ouvir os sucessos do Carnaval durante estes 86 anos de festa de Momo. Como isto é impossível - a não ser que você seja amigo de colecionadores como Nirez, em Fortaleza, Gracio Barbalho em Natal, Sérgio Cabral e Paulo Tapajós no Rio, Miécio Caffé ou João Luiz Ferreti em São Paulo e, em Curitiba, de Leon Berg ou Luciano Lacerda, só há uma opção: ter uma visão reduzida, dos clássicos que ficaram destes carnavais, através de alguns discos ainda existentes em catálogo. Informativamente, Edigar de Alencar, um pesquisador dos mais sérios, fez a mais completa análise em "O Carnaval Carioca Através da Música", que ao sair em 3ª edição (1976, Livraria Francisco Alves Editora/MEC), foi atualizado até 1976, incluindo assim até a citação da marcha rancho "Tristes Papéis" e da marchinha "Guenta Sim", de César Costa Filho e do curitibano Heitor Valente. Se houver uma nova edição deste livro, Edigar de Alencar não terá que se preocupar em atualizá-lo. Simplesmente porque nestes últimos dez anos, a música carnavalesca - como a conhecíamos tradicionalmente - desapareceu. Mesmo tentativas organizadas, como o concurso promovido por dois anos pela Rede Manchete de Televisão, não conseguiram reviver o gênero e até a premiação de marchas de João de Barros (Carlos Alberto Ferreira Braga), 80 anos - a serem completados no próximo dia 29 de março - não foram sequer gravadas. Braguinha, último remanescente da época de ouro da música de Carnaval, por ocasião do lançamento do álbum "Memória 3", dedicado a décadas de ouro do Carnaval brasileiro (anos 30), em evento ocorrido no restaurante Inverno & Verão, em São Paulo (novembro/86), falou de suas músicas, cantarolou e mostrou seu permanente otimismo. Mais tarde, porém, nos confessaria seu desânimo em constatar que realmente a música carnavalesca morreu em termos de produção e industrialização. O GRANDE REGISTRO - Houve anos em que mais de 400 marchas, sambas e até frevos e marchas-ranchos disputavam a preferência dos foliões. Eram gravados entre setembro/outubro e, através de um trabalho pessoal de seus autores começavam a ser catapultadas, junto às emissoras de rádio do Rio de Janeiro e São Paulo - que correspondia, em termos de força de comunicação, ao que representam hoje as redes nacionais de televisão. Assim, não só a qualidade e comunicabilidade de cada composição contava para ela cair no agrado do povo, mas também o trabalho de divulgação de seus autores e intérpretes - através de programas de auditório nos rádios, distribuição das partituras junto a orquestras regionais e grupos musicais (as sociedades de direitos autorais distribuíam, anualmente, grossos volumes com as partituras/letras) e outros veículos. O teatro - especialmente o da revista e mesmo de cinema (as saudosas chanchadas da Atlântida dos anos 50) também, muitas vezes contribuíam para popularizar uma música de Carnaval. Dezenas de "autores" que ficaram em parcerias famosas na música carnavalesca na verdade nunca escreveram uma nota ou frase de qualquer sucesso e limitavam sua contribuição ao trabalho de catapultá-las - como, até hoje, alguns disc-jóckeys e produtores fonográficos desonestos continuam a fazer. Exemplo desse tipo de parceiro-promocional é Milton de Oliveira, que ajudava ao compositor Haroldo Lobo (RJ, 22/07/1910-20/07/1965) a divulgar suas marchinhas como "O Bonde do Horário Já Passou" (1941), "Eu Quero É Rosetear" (1947), "A Mulher Do Leiteiro" (1942), "O Passarinho Do Relógio" (1940), "O Passo Do Canguru" (1941), "Pó-de-mico" (1941), "Quem Chorou Fui Eu" (1950) etc. A prova disto está que após a morte de Haroldo Lobo, nunca mais se ouviu uma composição de Milton de Oliveira. O GRANDE REGISTRO - Houve, é preciso reconhecer, várias tentativas de fazer a música carnavalesca renascer. Há cerca de 20 ou 18 anos, o produtor Alberto Pigliani chegou a convocar letristas do nível de Vinícius de Moraes para um movimento chamado "Carnaval de Verdade", mas que, infelizmente foi frustrante. Marlene e Emilinha Borba, símbolos das cantoras de rádio que criaram os grandes sucessos carnavalescos dos anos 40/50, insistiam até há pouco em gravarem ingênuas marchinhas e irônicos sambas, com a esperança de "acontecerem" no Carnaval. Infelizmente, paradoxalmente, enquanto os clássicos dos Carnavais do passado continuam a ser ainda as músicas mais cantadas nos bailes, desapareceu a produção da chamada "música de Carnaval". Obviamente, substituída não somente pelos sambas-de-enredo, das grandes escolas (mas que, salvo pouquíssimas exceções, não chegam aos bailes) e algumas músicas de nomes famosos que, astutamente gravadas por cantoras como Beth Carvalho, Gal Costa e mesmo Simone (cada vez mais preocupada em incluir sambas-de-enredo facilmente assimiláveis em seus discos) tem explodido em anos recentes (por exemplo, Gal Costa emplacou com frevos de Fausto Nilo, ao mesmo tempo que retornou a melhor vertente com a regravação de "Tô Pegando Fogo", de João de Barro). O tema é amplo, comporta muitas interpretações e informações e não se esgota, em absoluto, num registro jornalístico. Para não dizer que para 87 não houve nenhum elepê carnavalesco - excluindo-se os álbuns dos sambas-de-enredo (ver registro nesta mesma página), aconteceu uma produção excelente, infelizmente sem distribuição comercial. Pelão (João Carlos Botezelli), 47 anos, sem favor nenhum um dos mais importantes produtores fonográficos do Brasil, continuando o projeto que desenvolve desde 1984 para a Elebra Eletrônica, de São Paulo, no sentido de resgatar a memória musical brasileira, coordenou, no ano passado, o álbum "Memória 3" dedicado a década de ouro da música carnavalesca, partindo de uma idéia de Isu Fang, diretor da firma patrocinadora. Assim, recorrendo a fonogramas originais (especialmente do acervo da RCA/Odeon), com apoio de pesquisadores, Pelão reuniu 12 clássicos do Carnaval, mostrando a força da comunicação e a beleza eterna (ao menos enquanto existir Brasil e Carnaval) de marchinhas e sambas que vão de "Na Pavuna" (1930) ao "Hino Do Carnaval Brasileiro" (1939), passando por clássicos de Noel Rosa ("Com Que Roupa?", 1931; "Fita Amarela", e Até Amanhã", 1935); Lamartine Babo ("O Teu Cabelo Não Nega", 1932); João de Barro ("Touradas De Madrid", "Pastorinhas", entre outros). Reprocessadas eletronicamente, sem chiados, "Memória 3" é o melhor registro feito do Carnaval brasileiro. Esperamos que a Elebra autorize que este trabalho de Pelão possa ter uma edição comercial. LEGENDA FOTO 1 - Pelão, produtor do "Memória 3", dedicado ao Carnaval dos anos 30.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
01/03/1987
EU TRABALHO COM UM RAPAZ ESPECIAL QUE ADORA MUSICA,PRINCIPALMENTE DE CARNAVAL. HÁ 20 DIAS ELE ME TORMENTA PARA EU CONSEGUIR O AUTOR DA MARCHINHA PAZ EAMOR. VCS PODEM ME AJUDAR?

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