Login do usuário

Aramis

Escola de Homens (para o ano 2000)

Durante toda a manhà de domingo, no centro esportivo da Praça Oswaldo Cruz, mais de 250 crianças - entre 6 e 9 anos tiveram uma bela experiência de vivência esportiva, atletismo e, principalmente integrando humana. O segundo campeonato livre promovido pela Federação Paranaense de Judô, reunindo alunos de 10 escolas e clubes da cidade, mais do que um evento esportivo, aparentemente de interesse restrito apenas à comunidade familiar dos participantes, foi uma saudável mostra dos bons resultados que a massificação da prática do judô, como defesa pessoal e, principalmente, respeito ao adversário, esta conseguindo em Curitiba - onde embora as três academias tradicionais - Kodokan, Budokan, e Instituto Brasileiro Brasileiro de Judô, venham sentido um pequeno esvaziamento de alunos aconteceu, por outro lado, uma maior diversificação de aulas de judô junto a colégios - de níveis - em toda a cidade. Paralelamente às academias de lutas marciais - que tem aparecidos nos últimos anos - o trabalho da Federação Paranaense de Judô, presidido pela faixa preta Makoto Tamanuschi, é o que tem raízes mais profundas, inclusive pelo próprio fato da entidade, fundada em 7 de outubro de 1961, ter em seus quadros dirigentes, professores e judokas do melhor nível profissional e intelectual, a começar pelo diretor técnico. Aldo Lubes, proprietário da Kodokan, uma das mais antigas escolas da cidade. Observando-se as crianças de 6 a 9 anos, enfrentando-se nos três tatames, em uma competição altamente saudável e bem conduzida, ocorreu-nos uma crônica que o jornalista Antônio Maria (Araújo de Moraes, Recife, 1921 Rio de Janeiro, 1964) escreveu em seu "Jornal", na "Última Hora", RJ, onde comentando o fato de um pai ter assassinado um cidadão, após uma discussão motivada pela briga de seus filhos de seus filhos, de 8 anos, em que um deles havia se ferido, comentava da importância de que, nos dias de hoje (e olhem que já se passaram quase 20 anos da publicação da crônica), as crianças cresceram consciente de que é preciso saber se desviar dos golpes e bofetões que a vida nos reserva - física e espiritualmente, evitá-los, respeitar os adversários - mas, em último caso, também enfrentá-los. E o grande jornalista, escritor e poeta, homem que como poucos soube amar os seus semelhantes e que em sua imensa solidão tinha sempre, em cada crônica, palavras de amor e esperança (apesar de todos os seus conflitos, frustrações e tristezas pessoais) enaltecia o trabalho dos professores de defesa pessoal a partir do pioneirismo de Hélio Gracie, com seu justjitsu, então ainda restrito a uma elite no Rio de Janeiro. Domingo, nos tatames do centro esportivo da Praça Oswaldo Cruz, crianças loiras, morenas amarelas, numa integração ética representativa de nossa própria formação. Filhos de famílias das mais diversas condições sociais, viveram, sem saberem, momentos que, por certo, representarão muito para que se formem com mais coragem, altivez e mesmo independência do que as gerações que as antecederam e não tiveram a sorte de, democraticamente, aprenderem, desde cedo, que se é preciso saber lutar, defender-se é também fundamental o respeito ao próximo. As crianças que estudam judô na Thalia, Kodokan, Budokan, Curitibano. Instituto de Judô, Circulo Militar, Positivo, Country, Instituto Mattos. Meu Cantínho e Colégio Madalena Sofia, com seus brancos quimonos, faixas brancas a laranjadas, mostraram, durante uma manhã que ainda há motivos para se acreditar de que um dia de amanhã poderá ser melhor - e que se o sorriso e a inocência de seus rostos venham, infelizmente, a sofrer com as pancadas da vida, elas estarão melhores preparadas do que nós a serem homens responsáveis, honestos e conscientes para o terceiro milênio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
05/06/1979

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br