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Aramis

A espiral da boa música (III)

A cobertura que o 2º Encontro Nacional de Professores de Instrumentos de Cordas, realizado no último fim de semana em Fortaleza, recebeu de influentes órgãos de imprensa nacional - como página do caderno b do "Jornal do Brasil", onde o rigoroso crítico Ronaldo Miranda enalteceu o bem sucedido projeto Espiral, veio confirmar a validade desta iniciativa idealizada há 3 anos, pelo maestro Marlos Nobre, destinada a permitir que o maior número possível de jovens tenha acesso ao estudo de instrumentos de cordas - carência que obriga as (poucas) orquestras existentes no Brasil a contratar músicos estrangeiros em massa, como aconteceu ainda recentemente em Natal e Belo Horizonte, onde se formaram novas orquestras. A apresentação da orquestra integrada por jovens de 10 a 18 anos, a maioria filhos de operários, no sábado passado, no auditório o do Sesi na capital cearense, emocionou aos presentes - provando a extrema seriedade deste projeto. Marlos Nobre, idealizador do Projeto - uma das metas prioritárias de sua administração no Instituto Nacional de Música, não compareceu, pois, inesperadamente, foi demitido no dia 30 de abril último. E o seu sucessor, o violinista e compositor Cussy de Almeida só tomou posse na sexta-feira. Passados apenas 5 dias da administração da nova direção do Instituto Nacional de Música desconhecem-se ainda os caminhos a serem seguidos para este Projeto, mas os resultados observados no encontro de Fortaleza foram dos mais positivos, patenteados no documnto assinado em seu encerramento, e onde os professores e coordenadores dos 8 núcleos já implantados - declararam que "antes de mais nada, evidenciou-se que os resultados obtidos pelo Projeto Espiral, dado o seu pouco de tempo de duração, superaram, em muito, todos os outros que se conhecem na área de ensino de instrumentos de cordas existentes no Brasil. E que dado o esvaziamento de instrumentistas de cordas nas orquestras brasileiras, este projeto representa um marco altamente compensador e que talvez seja da forma com que ela esta se processando o único modo de fazer existir no País instrumentos capazes de virem a compor futuras orquestras". Assim, a expectativa em torno dos caminhos que o novo diretor do Instituto Nacional de Música, Cussy de Almeida, dará ao Projeto passou a constituir uma grande preocupação, pois, pelos resultados demonstrados com o núcleo de Fortaleza, a conclusão dos professores ali presentes, foi de que "a obra que a Funarte vem desenvolvendo através do Instituto Nacional de Música merece todo o louvor da classe dos músicos brasileiros, que vê na continuidade desse empreendimento um imperativo de ordem cultural de interesse público relevante". Desenvolvido pelo INM em convênio com o Sesi em Fortaleza e Brasília, secretarias de Educação e ou Cultura, Prefeituras e Universidades em outras capitais, o Projeto Espiral não chegou ao Paranná porque, por ocasião do seu lançamento, no I Encontro Nacional de Professores de Instrumentos de cordas (Rio, 30/31 de agosto de 1976), não houve, por parte dos nossos representantes, entusiasmo e agilização capazes de motivar que a nossa cidade, ao contrário de Belém, Natal, João Pessoa, Recife, Brasília, Florianópolis, Porto Alegre e Fortaleza - recebesse a semente então plantada, e quando o diretor do recém-criado INM, Marlos Nobre, afirmava que a política de ação do órgão criado pelo ministro Ney Braga, no aspecto concernente às orquestras seria o de estimular os organismos sinfônicos ou de câmara existentes, fixando [conseqüentemente] o músico em cada região, e criar núcleos de formação de instrumentistas de cordas, pouco a pouco, nos Estados carentes de sinfônicas, como primeiro passo". Ney Braga, a quem se deve a criação da hoje consolidada Fundação Nacional das Artes, com todas suas unidades implantadas, destacava, enfaticamente, na apresentação do projeto: "Queremos e vamos apoiar todas as iniciativas que tornam realidade o pleno desenvolvimento deste setor importantíssimo de nossa cultura: A música. E o estaremos fazendo através do recém-criado INM, que, integrado na Funarte, vem garantir a constância e o alcance desse apoio". E, em 3 anos, o INM - como a Funarte - levou a frente projetos da maior importância, consagrando sua equipe - do presidente José Cândido de Carvalho e diretor executivo Roberto Parreiras, aos mais humildes colaboradores, num trabalho integrado e entusiástico. Agora quando volta a governar o Paraná, Ney Braga, por certo, deseja ver, em seu Estado, os bons frutos que a sua ação no MEC lançou nacionalmente. A presença de uma representante da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, a violinista Heleny Zippin - integrante por sinal da Sinfônica da UFP há 11 anos, e que com 3 colegas está criando um quarteto de cordas - foi significativa: ela pode observar e anotar, a validade da idéia, cujo desenvolvimento foi iniciado por Alberto Jaffé, hoje no Sesc, em São Paulo, e que apesar de diferentes problemas, provou as possibilidades de serem multiplcados os instrumentistas de cordas, em pouco tempo, com abertura para jovens provindos de famílias humildes - filhos de operários, órfãos (como no caso de Porto Alegre) ou da comunidade, mas dentre os quais poderão surgir virtuoses ou, ao menos, bons profissionais. Dificuldades existiram - desde a falta de professores até carência de instrumentos - e uma lista de 18 itens, entregue na segunda-feira pelo coordenador atual do projeto, professor Gerson Valle, a Roberto Parreiras - mantido pelo ministro Eduardo Portella na Funarte - traduziu várias reivindicações. A continuidade, a ampliação do Espiral - com a criação de novos núcleos - é, ao menos nesta semana, uma incógnita, pois Cussy de Almeida, novo diretor do Instituto Nacional de Música, no cargo apenas há 5 dias úteis, ainda não definiu seus planos a respeito. Na segunda-feira, já dispensou a colaboração de alguns assessores do maestro Marlo Nobre, entre os quais Ary Vasconcellos, jornalista, autor do básico "Panorama da Música Popular Brasileira", um dos profissionais mais entrosados na área da MPB - e que vinha assessorando o Instituto nesta área. Por certo, uma nova equipe será formada, mas por suas próprias ligações com os problemas da música no Brasil - violinista e regente da Orquestra Armorial, de Recife, cujo quarto lp, na Continental, lançado há 30 dias, teve a participação especial do flautista curitibano Norton Morozowicz, Cussy deverá entender a importância de quem um projeto de tal magnitude e importância não só apenas musical-profissional, mas inclusive de alcance social, não seja paralisado. Ex-integrante do Quarteto Guaíra, que entre 1976/77, com o violoncelista Ppetr Dausberg - que substituiu a sua esposa, a pianista Miriam (chefe-de-gabinete do ministro Portela no MEC) na direção da Sala Cecília Meirelles, e o casal Jerzy Milewisky (polonês , violinista)9 e Aleida Schweitzer (pianista catarinense mas que residiu por muitos anos em Curitiba), fez mais de 20 apresentações em Curitiba, gravando um lp com auspícios da Fundação Teatro Guaíra, o novo diretor do INM tem ligações com o nosso Estado. Assim, dependendo da soma de esforços dos organismos culturais e educacionais, o Projeto Espiral poderá também vir ao Paraná, já que a sua filosofia é de que haja uma real participação da comunidade - e não caiba apenas a Funarte a sua manutenção. Há 3 anos, Curitiba perdeu - por razões que nem compensa aqui relatar - a oportunidade de ter o seu núcleo. Hoje, provado que, mesmo descontados os múltiplos problemas naturais, o Projeto é válido, cabe a quem de direito somar esforços para que também os jovens curitibanos tenham mais esta abertura para formação musical. E, num governo voltado a um programa de educação e cultura de base - e que já lançou, há duas semanas, o ambicioso projeto Acorde, com múltiplos eventos - e para cuja execução a Secretaria de Cultura e Esportes terá que montar uma firme estrutura - por certo o Projeto Espiral, não pode - nem deve - ser desprezado. xxx Os ingressos para a única apresentação da Orquestra Filarmônica de Hamburgo, que a Pró-Música trouxe, quarta-feira, no Guaíra, chegaram a ser vendidas, no mercado paralelo, a Cr$ 1.750,00, provando, assim, existir público para bons eventos. Os 110 integrantes desta orquestra sesquicentenária, sob a reg^~ecia do maestro Aldo Ceccato, 45 anos, milanês de nascimento, apresentaram um espetáculos dos mais belos, com a abertura dos "Mestres Cantores" de Wagner, sinfonia nº 3 de Mendelssohn e a Sinfonia nº 4 de Brahms. Um público seleto - e inclusive prestigiado com o governador Ney Braga, que ao lado do prefeito Jaime Lerner e secretário Luís Roberto Soares, da Cultura, preferiu o balcão, do que o camarote oficial - aplaudiu tanto que, ao final, a Orquestra deu dois números extras. Após, na recepção que o cônsul Hans-Georg Fein, da República Federal da Alemanha, ofereceu no Círculo Militar, o engenheiro Eduardo Garcez Duarte, presidente da PMC, exultante com o êxito do concerto, comunicava que foi possível recuperar o investimento - US$ 20 mil - e já contratar para breve a passagem da Sinfônica de Los Angeles, sob regência de Carlo Maria Giulina, por Curitiba. Garcez, inclusive, emocionou a esposa do maestro Cecatto, Eliane - também italiana, levando para ela autografar um programa de um recital que seu pai, Victor de Sabata (81903-1967) regeu a 1/4/1951, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, e que Garcez, que ali estudava, assistiu. Já Humberto Lavalle, outro entusiasta pela música erudita, apersentou ao maestro Aldo, o industrial Silvio Cecatto - descobrindo parentesco entre ambos. E o empresário Walter Santos, da Aulus, anunciava a possibilidade da Sinfônica do México, que vem ao Brasil, em setembro, também passar por Curitiba. Este fim de semaana será muito musical - com Sidney Miller, Alaide Costa e Antonio Adolfo, a partir de hoje no Paiol, e o "Tropical Jazz Rock", com Egberto Gismonti & Academia de Danças, mais John McLaughlin e sua Eletric Band, no ginásio do Círculo (segunda, 21 horas), de forma que o assunto continua amanhã.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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18/05/1979

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