Login do usuário

Aramis

Essas Mulheres

De uma só vez, a Polygram coloca na praça tres elepes de cantoras com condições de dividirem ainda mais o cada vez mais competitivo mercado musical, enquanto a CBS nos traz mais um vigor nordestino - sobre cujo talento nunca é demais repetir, a RCA continua a ter na paraguaia-brasileira Perla um excelente ponto de vendas e a RGE "ressuscita" Edith Veiga, paralelamente ao investimento que faz sobre Sandra Sá, que com seu "Demônio Colorido" chegou a finalíssima do MPB-80. Como se ve, o canto das mulheres - sobre as quais temos nos referido exaustivamente, continua em grande vigor. Ou seja, a retração no mercado fonográfico, o encarecimento mensal no preço dos elepes (afinal o vinil é derivado de petróleo), não impede que as mulheres continuem a ter sua vez e hora. Do pacote da Polygram, duas cantoras que tem Ibope seguro, cada vez com uma faixa mais ampla de fãs; Angela Ro-Ro, 31 anos assumidos, mais de 14 de estrada, experiências das mais diversas e que tendo vivido na Europa e no Brasil intensamente, traduz em suas canções - é compositora de quase todas as músicas, além de razoável pianista, posições assumidas em favor do homossexualismo feminino. Antes mesmo de seu primeiro lp escalar as paradas de sucesso, Angela já lotava auditórios - como aconteceu no Paiol, no ano passado. Agora, em seu segundo disco, leva mais adiante o seu liberalismo e sinceridade, num elepe que merece a maior cobertura como registramos sexta-feira, no "Ligadão". De Angela, portanto não é preciso falar muito agora - já que está sendo consumida como nunca. Fafá de Belém, recuperando-se de um período de decadência profissional e desgaste devido a um péssimo assessoramento empresarial, retorna com força total, em sua melhor forma, em "Crença" (Philips, 6485213, setembro/80). Reencontrando-se com o baiano Roberto Santana, que a lançou no universo musical brasileiro há 6 anos passados - e transformando-se numa superstar, com seu físico sexy - Fafá, sempre procurou selecionar bem o seu repertório. E para este lp-80, primeiro após a maternidade e depois de uma série de falhas profissionais (duas vezes em 90 dias em Curitiba, num desgaste imenso para sua imagem), Fafá reaparece, musicalmente, perfeita. Com ajuda de Santana, Roberto Menescal, do marido Raul Mascarenhas e do produtor Armando Pittigliani, Fafá selecionou um repertório inédito, com canções que facilmente estarão entre as mais populares em menos de um mês. E Fafá não limita seu repertório, buscando compositores dos mais distantes espaços: dos seus contemporâneos Paulo e Ruy Barata, de Belém do Pará, gravou agora a política "Itaca" (Memórias do Exílio), enquanto dos gaúchos Beto Fogica Hermes Aquino é "Sexto Sentido", que abre o lado 1 do disco. De outro conterrâneo, Vital Lima (cujo segundo lp saiu há pouco pela Tapecar/Sigla) e "Precisava Ver", enquanto os baianos Walter Queiroz ("Carrinho de Linha"), os mineiros Milton Nascimento ("Crença", com Márcio Borges; "Bicho Homem", com Fernando Brant); Tunai Mucci ("Na Hora Exata", parceria com Sérgio Natureza), ou o nordestino Bubuska ("Baque no Coração", com Veve Calazans e "Cabresto", também sua hora), de Joyce, um canto não feminista apaixonado: "Me Disseram". De Edu Lobo-Cacaso, "O Dono do Lugar" e de Paulinho da Viola, a regravação de "Par um Amor No Recife". Com arranjos divididos entre Wagner Tiso, Luis Roberto, Chiquito Braga, Cristovão Bastos, entonação caprichada e muita sensibilidade, fazem de "Crença" um lp de esperança: a Fafá de 1977, simples, cordial, responsável, continua a existir. E dá a volta por cima, reaparecendo com um elepe merecedor de nota nove. Cantriz com quilometragem em vários musicais montados no Rio nos últimos 4 anos, a mineira Tânia Alves - atualmente no elenco de "Calabar", de Chico/Ruy Guerra, fez na Polygram o seu primeiro lp: "bandeiras" (Philips, 6328291, setembro/). Um disco repleto de energia, força e musicalidade, que a coloca num lugar especial, para nossa admiração. Com direção musical de Manduka (também compositor-cantor, filho do poeta Thiago de Mello, um lp já lançado no Brasil pela CBS, 3 feitos no Chile e Paris, em seus anos de exílio), direção de produção de Marcos Maynard e arranjos para metais e cordas de Célia Vaz, a estréia de Tânia Alves não poderia ser melhor. Ela canta forte e Valente, como mostrou ainda há 2 semanas, nas apresentações de "Calabar" no Guaíra, quando sua gravidez de 6 meses não a impediu de uma interpretação excelente de "barbara". E o repertório que encontrou para seu elepe se ajusta a sua personalidade, um pouco mal humorada (descontada devido a gravidez) e sensual. Assim três musicas de Manduka, "As Unhas" (parceria com Dominguinhos), "A Grande Marcha Mundial dos Sapatos Tristes" e "Tem Que Ser Assim". Do mineiro Tavinho Moura, duas composições de destaque: "Cabaré Mineiro" (sobre um poema de Carlos Drummond de Andrade) e "Que Bento é O Frande", com toda a força das alterosas, que Tânia tão bem conhece: Compositores mais jovens, com os gaúchos Fernando Ribeiro/Arnaldo Sisson ("Uzifiu") e "Não Meta" ou os paulistas Servulo Augusto/José Chasseraux-Jean Paul Garfunkel ("É fogo Paulista") ou Bebo Alves ("Ah! Essa Cidade") também estão ai, para serem ouvidas e saboreadas, na voz diferente, quente, de Tânia Alves. Arthur da Tavola, respeitado critico do "Globo", foi entusiástico em sua saudação a Sandra Sá: " É a figura de cantora mais importante aparecida nos últimos anos no Brasil". Nem tanto sol, nem tanto mar: Sandra Sá é uma cantora forte, compositora de boas imagens e que chegou bem a finalíssima da MPB-80. Mas não quer dizer que seja a "mais importante" embora mereça ser ouvida com atenção. Depois de seu "Demônio Colorido" ter saído em compacto, durante o Festival a RGE lança seu elepe, onde mostra com musicas próprias - "Bandeira", "Cantar" (parcerias com Faffy), "Saudade Vadia" (com Fátima/Solange), além do "Demônio Colorido", ou de outros autores - "Na Mira dos Seus Olhos (Wania Andrade/Sollange Boecke"), "Vinte e Poucos Anos" (Fábio Jr.), "Receio de Errar" (Mauro Marcondes/Caito), "É" (Gil), "Mucama" (Ronaldo Malta") e uma regravação de "Cavalo Ferro" (Fagner/Raimundo Bezerra), a sua capacidade de fazer improvisos, indo dos tons mais graves aos mais agudos na melhor tradição dos cantores de jazz e blues, sem nunca perder um pique extremamente brasileiro. Em todas as musicas um tom pessoal, que recomenda a audição deste seu lp. A mesma RGE, redescobre Edith Veiga sucesso na década de 60, através da Chantecler, para um compacto sensual das fotos de capa e contracapa, as musicas selecionadas como "Meu Homem" e "A Dama Da Noite". Cátia de França, nordestina de boa cepa, acordeonista e pianista, com "Estilhaços"(CBS, 14412) confirma as esperanças de seu primeiro LP. Já nos referimos aqui a este disco, mas fica a dica: só o surrealismo poético de Panorama", faixa que abre o disco, já merece uma especial atenção. Por ultimo um registro ao publico especifica: Perla, cantora paraguaia, radicada no Brasil, a exemplo da dupla Jane & Herondy, se especializou em versões. E "Nosso Amor Será Um Hino"(RCA setembro/80), não foge ao esquema, com uma série de versões de músicas de Fácil consumo, junto ao grande público, e quer por certo garantira um consumo certo a mais este elepe desta morena sensual e insinuante... visualmente falando.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
26
12/10/1980

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br