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Aramis

Estréiam hoje dois dos melhores filmes de 1991

1992 não poderia começar melhor em termos cinematográficos. Hoje, terceiro dia do ano, estréiam dois dos dez melhores filmes indicados no referendum em que participaram 28 críticos e cinéfilos de 8 capitais e que, pela 26ª vez, ininterruptamente, O Estado do Paraná publicará domingo. "Não Amarás", do polonês Krzystof Kieslowski e "Os Imorais", do inglês Stephen Frears - que embora estivessem inéditos em Curitiba obtiveram pontuação para integrar a lista dos 10 melhores, estréiam agora nos Cine Groff e Bristol, respectivamente. A semana traz também uma reprise oportuna, do muito citado mas pouco visto "Ajuste Final" (The Miller's Crossing), dos irmãos Coen ("Arizona Nunca Mais") - os mesmos realizadores do excelente "Barton Fink" (Palma de Ouro - Cannes 91, em exibição no Cine Ritz) que entra em reprise no distante Cine Guarani, no bairro do Portão. NÃO AMARÁS foi saudado, juntamente com "Não Matarás", como obras reveladoras do maior talento do cinema europeu no final dos anos 80: Krzystof Kieslowski. Em outubro de 1990, no rastolho da 13ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo - que trouxe apenas algumas das fitas importantes que Leon Kakoff levou para São Paulo - estes dois filmes foram exibidos, em duas únicas sessões, no Cine Ritz. No auditório do Goethe Institut eram apresentadas, em cópias em vídeo, com legendas em inglês ou francês, os oito outros filmes que compõem o seu "Decálogo" - uma revisão moderna dos 10 Mandamentos, que Krzystof realizou entre 1988/89 - e que integralmente estaria para ser exibido pela TV Educativa, de São Paulo (o que até agora não aconteceu). "Não Amarás" - o segundo colocado entre os 10 melhores lançamentos cinematográficos feitos no Brasil em 1991 - foi classificado pelo crítico Luiz Carlos Merten como "um Hitchcock revisto por Bergman, enquanto "Não Matarás" é um "Crime e Castigo" no qual Kieslowski é o Dostoievski na tela". Definido por Merten como "o mais implacável diretor polonês - e talvez europeu - da atualidade", aclamado no último festival de Cannes por "A Dupla Vida de Verônica", ao adaptar, à sua maneira, o Decálogo, Kieslowski foi fundo na dissecação de seu país que, nem no auge do comunismo, conseguiu se desvencilhar da forte influência católica. A análise feita pelo crítico d'"O Estado de São Paulo", destacou que Kieslowski em "Não Amarás" atenuou um pouco o seu pessimismo - que, como ele já declarou, diz respeito mais "às coisas que cerca o homem que o próprio homem". Assim, neste filme denso e profundo - que exige uma grande atenção do público bem informado - o cineasta polonês dá forma "a uma coisa que não existia - a necessidade de amar - mas o seu otimismo não deixa de vir envolto na tristeza". Basicamente, a história é simples: numa primeira parte, um jovem voyeur que observa uma vizinha de apartamento todas as noites; numa segunda parte, a mulher observada passa a se interessar pelo voyeur - num relacionamento denso. Tema clássico do cinema, o voyerismo - de "A Janela Indiscreta" (54) ao recente (e ótimo) "Um Homem Meio Esquisito" (Monsieur Hire, de Patrice Leconte), encontra aqui uma nova dimensão - tornando-o um filme indispensável. STEPEHN FREARS 61 anos, também é um implacável cineasta, com a câmara cortante na sociedade - inicialmente a inglesa ("Minha Linda Lavanderia", "O Amor Não Tem Sexo", "Samny e Rose"), depois numa volta à França aristocrática (a esplêndida versão de "Ligações Perigosas", de Chanderlos de Laclos) e, em 1990, em sua estréia nos Estados Unidos, fazendo um elogiadíssimo film noir. Baseado num romance policial de Jim Thompson (1906-1977) já editado em português, "Os Imorais" (The Criffers) "parece recém-liberado de uma cápsula do tempo: toda uma linhagem do cinema noir, interrompida há 30 anos se vê retomada", como,. Lucidamente, observou o nosso bom amigo Almir Labaki, definindo-o como um misto de "Ajuste Final" - que pode ser visto no cine Guarani - e "A Honra do Poderoso Prizzi" (85, de John Huston, a disposição em vídeo). Um filme sobre cínicos, aventureiros e aproveitadores - interpretados por John Cusak, a esplêndida Anjelica Huston, Pat Hingle e Annette Bening (que fez "Valmont" de Milos Forman e atualmente está grávida de Warren Beatty, com quem fez "Bugsy", recém-lançado nos EUA). Estes quatro principais personagens envolvem-se numa trama de paixão, golpes, intrigas e até incesto, conduzida com maestria por um cineasta, que atuante desde 1968 foi um dos responsáveis pela renovação do cinema da velha ilha. Um programa indispensável de ser conferido - e que, para grande parte dos críticos convidados no referendum de O Estado do Paraná ficou entre os 10 melhores filmes do ano. OUTRAS ESTRÉIAS Além da reprise de "Ajuste Final", dos irmãos Coen, e da continuação de outros filmes interessantes - como "O Marido da Cabeleireira" de Patrice Leconte (Luz) e a divertida comédia "A Família Adams" - a semana tem mais estréias. No Lido II, chega "Paris Trout", de Stephen Gyllenhael, com três nomes respeitáveis no elenco - Dennis Hopper, Barbara Hersey e Ed Harris. A capital francesa não tem nada em relação a este filme denso, ambientado numa pequena cidade do Sul dos EUA, no quente verão de 1949, quando Paris Trout (Dennis Hopper), um agiota amoral e racista se desentende com um jovem negro, Henry Ray Sayers (Eric Ware) após um negócio mal sucedido. Vingança traições conjugais e questões levadas ao tribunal entram no roteiro deste filme que chega sem maior promoção, mas que também deve ser verificado. No Lido I, entra em cartaz mais um filme de lutas marciais, capaz de emplacar bom público - "Os Irmãos Kickboxers", de Lucas Lo, já disponível em vídeo. No Cinema I, "A Gata Borralheira" continua nas sessões da tarde e à noite reprise de "Máquina Mortífera II". LEGENDA FOTO - Anna Galina em "O Marido da Cabeleireira", de Patrice Leconte, que continua no cine Luz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
03/01/1992

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