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Aramis

Estréias para todos os gostos

Três estréias para públicos distintos: um filme-ópera dos mais (elogiados) aguardados, um western de primeira e uma comédia descontraída para o público adolescente. Até que não é pouco, considerando as férias e a continuidade em cartaz dos filmes que fazem sucesso há semanas: "Os Goonies" continua no Astor (o que retarda o lançamento de "Perfeição"), "Essa Louca, Louca Gente" foi agora para o Bristol; "Os Trapalhões no Rabo do Cometa" continuam nas sessões vespertinas do Itália e São João (à noite, nestes cinemas, "Conan, O Destruidor" e "Blade Runner, Caçador de Andróides", respectivamente) e "Comando para Matar" no Plaza. Duas reprises: "Cocoon", de Ron Howard, a agradabilíssima comédia estilo "E.T." voltou agora no Cinema I e no cine Luz temos um dos mais bonitos filmes dos anos 70: "Primeiras Carícias" (Billikis), ensaio fotográfico feito pelo mestre David Hamilton, que embora com cenas de nus de belas ninfetas, é tão suave e lírico que pode ser visto por maiores de 16 anos. Carmen, a ópera - Depois da versão em balé de "Carmen", de Carlos Saura - um dos 10 melhores filmes do ano passado - e enquanto não vemos (o que será muito difícil) a versão policial de Jean Luc Godar ("Prenom: Carmen") e o filme-teatro de Peter Brook, temos a versão-ópera da "Carmen", agora diretamente inspirado na obra de Georges Bizet. Francisco Rossi, 64 anos, 34 de cinema (desde sua estréia em "Camicie Rosse") é conhecido sobretudo como um cineasta político, autor de filmes "quentes" como "O Bandido Giuliano" (1962), "Le Mani Sulla Citá" (1963, denunciando a especulação imobiliária, nunca exibido no Brasil), "O Caso Mattei" (1971) e "Cadáveres Ilustres" (1976), entre outros. Mas como é um cineasta competente, que aprendeu com Luchino Visconti (de quem foi assistente em "La Terra Trema", 1947) o requinte, o amor ao teatro e à ópera, não teve dúvidas, em, há dois anos, quando a obra de Prosper Merrimé caiu no domínio público e estimulou meia dúzia de versões diferentes em vários países, em também fazer a sua. Só que a produção de Rossi é das mais sofisticadas: começa com os superstar do bel canto que convocou - Júlia Migenes Johnson para o personagem título, Placido Domingo como Don José, Ruggero Raimondi como Escamillo, Faith Esham como Micaela, Jean-Philippe Lafonte, Gerard Garino, Susan Daniel, John Paul Bogart e outros nomes notáveis: Cristina Hoyos, Juan Antonio Jimenes e a companhia de balé de Antonio Gades - que haviam participado de "Carmen" de Saura, também estão em "Carmen, a Ópera", que tem a orquestra sinfônica, dirigida por Lorin Maazel (a RCA, há 6 meses editou um lp simples com os momentos marcantes da trilha sonora do filme). Na fotografia, o mestre Pasqualino De Santis e na adaptação e roteiro, Rossi teve a colaboração de Toninho Guerra, habitual co-roteirista de vários mestres do cinema italiano. Depois de "La Traviatta", de Franco Zeffirelli e "Don Giovanni", de Joseph Losey, "Carmen, a Ópera", de Rossi, é o terceiro filme classe A, transpondo uma ópera para a tela, que chega a Curitiba. As duas primeiras produções tiveram pouco público - apesar da ilusão de que somos uma "Cidade Universitária" e "exigente" em termos culturais. Vamos ver agora se este filme de alto gabarito, sucesso internacional há dois anos, aqui encontra um público razoável. O western como convém - Menos de um mês após o esplêndido "O Cavaleiro Solitário" - uma espécie de refilmagem de "Shane" (Os Brutos Também Amam, 1953), chega no mesmo cine Vitória, outro western classe A - e cuja produção no ano passado, paralelamente a "The Pale Horse", foi saudado como um sintoma do renascimento do western: "Silverado", de Lawsrence Kasdan, que fez fama como roteirista ("Os Caçadores da Arca Perdida" e "O Império Contra-Ataca"), estreou com o pé direito num excelente thriller ("Corpos Ardentes", reprisado há 5 semanas no Cinema I) e, em seu segundo longa-metragem, o humano "O Reencontro" (The Big Chill) ganhou indicações ao Oscar. Joelle Rouchou, crítico da "Veja", assistindo a uma pré-estréia de "Silverado", comendanto, assim, antecipadamente, este western, observou que possui um ritmo frenético: tiroteios praticamente ininterruptos e alguém fulminado a cada 10 minutos. Os protagonistas desses tiroteios são quatro pistoleiros que, devidamente rápidos no gatilho, são reunidos pelo acaso e partem para a cidade de Silverado com o objetivo de encontrar suas famílias. Com a calvagada desse quarteto - observou Rouchou - "Kasdan retoma o faroeste com tinturas contemporâneas em dois aspectos: o dos temas e do ritmo rápido do cinema de ficção científica". Para o grande público, não há atores famosos. Mas são intérpretes da nova geração, em ascendência: assim Kevin Kline (visto em "O Reencontro" e "A Escolha de Sofia") interpreta Paden, um nômade e homem de lealdade imprevisível. Danny Glover (uma ponta em "A Testemunha"), ator negro, é Mal. Linda Hunt, que foi premiada com o Oscar de melhor coadjuvante por sua atuação em "O Ano Em Que Vivemos Em Perigo", é Stella, dona do saloon "Midnight Star", de Silverado. No elenco, ainda, Jeff Goldblum (visto em "O Reencontro"), Rosana Arquete - vista recentemente em "Procura-se Susan Desesperadamente" - como Hannah, uma espécie de pioneira do feminismo; John Cleese e Brian Donnehy. Rodado no Novo México, no final de 1984 e princípios de 1985, "Silverado" tem fotografia de John Bailey e a trilha sonora é de um novo compositor: Bruce Broughton. Um western de verificação obrigatória. Lobisomem da curtição - Michael J. Fox, o jovem herói de "De Volta Para o Futuro" (em cartaz no Condor/ ver comentário - depoimento de Sérgio Quintanilha, nesta mesma página) já caminha para a glória: tão logo fez aquela produção de Spielberg, voou para a Inglaterra, onde foi rodada outra comédia destinada à mesma faixa de público: "Teen Wolf - O Garoto do Futuro" - em cartaz no cine Palace Itália. "Teen Wolf" se inclui num gênero que tem crescido nesta década: comédias descontraídas, com pitadas de sexo, muita ação, destinada aos adolescentes - que por anos foram esquecidos pelo cinema. Na tentativa de recuperar o público do cinema, os produtores passaram a investir em filmes deste gênero - especialmente após o êxito das produções de Spielberg. Dirigido por Rod Daniel - nome desconhecido - e com elenco também de jovens intérpretes, que com exceção de Michael Fox são praticamente estreantes) Scott Paulin, James Hampton, Susan Ursitti, Jerry Levine, Jim MaKrell, Lorie Griffin etc.). "Teen Wolf - O Garoto do Futuro" tem um roteiro curioso: o adolescente Scott Howard (Michael J. Fox) deseja deixar de ser um rosto na multidão para conquistar as garotas. Começa a sentir uma transformação biológica e se transforma num lobisomem adolescente. Mas um lobisomem diferente, que ajuda o seu time de beisebol - o Beacontown Beavers - a ganhar uma partida após 10 anos de derrota e que se transforma em celebridade em sua cidade. Enfim, uma forma descontraída para o cinema revisitar um dos personagens de terror que, ao lado do Drácula e Frankenstein, tem sido mais explorado. Distribuído pela Paris Filmes, "Teen Wolf" tem condições de agradar as faixas jovens e permanecer várias semanas em cartaz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
29
26/01/1986

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